23 de out. de 2016

Cristianismo sem Eucaristia é gnosticismo

Cristianismo sem a Eucaristia, sem a fé na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados como ensina a Igreja Católica, não passa de gnosticismo, ou pior, de mitologia. Explico. A encarnação de Deus em Jesus Cristo foi um escândalo para os judeus. Isso os levou a não reconhecê-lo como o Messias e condená-lo como blasfemador. De fato, não é fácil crer que aquele homem, que aparentemente não se diferenciava em nada dos outros homens e que foi macerado na cruz, fosse o Deus eterno e todo-poderoso. A divindade de Cristo Jesus estava velada por sua humanidade. Só era possível reconhecê-la com os olhos da fé. Poucos foram testemunhas oculares da ressurreição. Mas este desafio da fé continua quando Jesus institui a Eucaristia. 

No final do sermão da Eucaristia na sinagoga de Cafarnaum (João, cap. 6), muitos deixaram de seguir a Jesus porque se escandalizaram com suas palavras. "Como pode este homem nos dar sua carne para comer e seu sangue para beber?". A Eucaristia prolonga o desafio da fé. Sob o véu do sacramento, esconde-se a humanidade e a divindade de Nosso Senhor. Só podem ser tocadas pela fé, como quando Cristo andava sobre a terra. A Eucaristia não é um símbolo. A Santa Ceia não pode ser uma ação simbólica, uma espécie de representação. O tempo dos símbolos passou com a vinda de Jesus. Na Eucaristia está o Cristo presente realmente. Sob as aparências do pão e do vinho está verdadeiramente o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Santa Missa não é uma representação da Última Ceia, mas é a atualização do sacrifício de Cristo.

A Eucaristia prolonga na História o mistério da encarnação de Deus em Jesus Cristo. O Verbo se fez carne e habitou entre nós. E nós acreditamos. Porém, mesmo sendo uma verdade de fé, não vemos mais o homem Jesus. Não tocamos Sua carne como seus contemporâneos há dois mil anos, lá na Terra Santa, podiam fazer. Não sentimo-nos desafiados a crer na Sua santa humanidade, porque a natureza humana de Jesus hoje está glorificada ao lado do Pai. Mas a fé na Eucaristia, na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados, nos permite tocar Sua carne verdadeiramente. A humanidade e a divindade de Cristo Jesus se escondem sob o véu do sacramento, como sua divindade estava escondida sob o véu da humanidade. O mistério da encarnação do Verbo se faz presente em cada Missa. É por isso que as heresias que negavam a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, como os gnósticos e os catáros, por exemplo, negavam primeiramente a encarnação real de Cristo.

Fiz estes dias, duas postagens sobre a relação entre a encarnação do Verbo e a presença real de Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados. Dizia que crer na encarnação do Verbo e não crer na Eucaristia, como é ensinada pela Igreja Católica, era gnosticismo. Pois bem, trago um trecho da carta que Santo Inácio, bispo de Antioquia, escreveu aos esmirnenses, mais ou menos no ano 107 d.C., quando era levado prisioneiro para ser martirizado em Roma. Santo Inácio foi discípulo dos apóstolos e combateu a heresia nascente do docetismo gnóstico. Eis o trecho da carta:

"Abstêm-se eles [os docetistas gnósticos] da Eucaristia e da oração, por­que não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nos­sos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os que recusam o dom de Deus, morrem disputando."

Convém lembrar que o apóstolo São João escreveu o seu evangelho, no final do primeiro século, exatamente para combater o docetismo gnóstico que nascia. É por isso que o evangelho joanino é o mais explícito quanto à doutrina da encarnação do Verbo (cap. 1) e da Eucaristia (cap. 6).



12 de abr. de 2016

Nossa Senhora, Rainha dos céus e da terra: uma fundamentação bíblica

A Santíssima Virgem Maria é Rainha. Esta não é uma simples devoção. É uma verdade de fé comprovada pelas Sagradas Escrituras. Existe o Reino de Deus. Neste Reino, Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei. A primeira parte do diálogo do arcanjo São Gabriel com Nossa Senhora (antes de Maria Santíssima perguntar: "Como se dará isso posto que não conheço homem?") diz respeito ao Reinado de Jesus. O arcanjo diz claramente que Jesus receberá o trono de Davi e reinará eternamente sobre a casa de Israel. É claro que este Reino não é o mesmo reino davídico, o Reino de Israel terrestre. O Reino de Jesus não é deste mundo. 

No Antigo Testamento, o Reino de Israel é imagem do Reino de Deus. Este Reino terrestre tinha uma figura de suma importância: a Grande Senhora, a Rainha-Mãe (em hebraico (transliteração), Gebirah). Num Reino onde o rei tinha várias esposas e concubinas, a Rainha não era uma de suas esposas, como nos reinos modernos, mas a mãe do Rei. Tinha seu trono ao lado do trono do filho e exercia um importante papel político atuando como intercessora junto ao Rei. Nos livros dos Reis e das Crônicas, as introduções à história de um novo Rei de Judá seguem sempre uma mesma estrutura. Entre outros elementos, constam: Uma referência de tempo (o ano de reinado do soberano do Reino do Israel); o nome e a naturalidade (ou filiação, quando o pai era uma personalidade importante) da Rainha-Mãe; a referência paterna do novo rei para demonstrar que era da Casa de Davi. Para exemplificar, tomemos dois exemplos do segundo livro dos Reis:
.
No segundo ano do reinado de Joás, filho de Joacaz, rei de Israel, Amasias, filho de Joás, rei de Judá, tornou-se rei. Tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar, e reinou durante vinte e nove anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Joadã, e era natural de Jerusalém. (II Reis 14, 1-2)
.
No vigésimo sétimo ano do reinado de Jeroboão, rei de Israel, tornou-se rei Azarias filho de Amasias, rei de Judá. Tinha dezesseis anos quando iniciou seu reinado em Jerusalém, que durou cinqüenta e dois anos. Sua mãe se chamava Jequelias e era de Jerusalém. (II Reis 15, 1-2)
.
.
São Lucas, quando escreve o relato da anunciação do nascimento de Jesus, usa a mesma estrutura, com todos os mesmos elementos:
.
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. (Lc. 1, 26-27)
.
.
Separando os elementos dos três trechos das Sagradas Escrituras para melhor comparar:
.
Referência de tempo:

No segundo ano do reinado de Joás
No vigésimo sétimo ano do reinado de Jeroboão
No sexto mês [da concepção de São João Batista] 
.
.
O nome e a naturalidade da Rainha-Mãe:

Sua mãe chamava-se Joadã, e era natural de Jerusalém
Sua mãe se chamava Jequelias e era de Jerusalém
Uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré... e o nome da virgem era Maria.
.
.
A descendência davídica do novo rei:

Filho de Joás, rei de Judá
Filho de Amasias, rei de Judá
Um homem que se chamava José, da casa de Davi
.
.
Portanto, no Reino de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei, Rei do Universo, Rei céus e da terra e, por consequência, a Virgem Santíssima é Rainha dos céus e da terra, a Rainha-Mãe, sentada à direita de Seu Filho.



28 de out. de 2015

O exercício da misericórdia é a missão da Igreja

A Igreja é como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todas as qualidades. No julgamento, os bons serão guardados e os maus, lançados fora. A Igreja é como a festa de núpcias onde todos são convidados, mas aquele que não traz o traje nupcial será posto para fora pelo Senhor. A tentação de formar uma Igreja de puros sempre existiu, desde os priscilianos e os donatistas passando pelos cátaros e jansenistas, e toda tentativa neste sentido, como se pode observar, terminou numa heresia. 

Nossa mãe, a Igreja, é santa, mas traz em seu seio, enquanto milita na terra, nós, seus filhos, sempre necessitados de conversão e de purificação porque somos pecadores. Ela nos oferece nos sacramentos os meios dispensados por Cristo para nossa santificação. Só os "puros" podem escandalizar -se com a presença de pecadores na Igreja. Os discípulos dAquele que comia e bebia com os pecadores não deveriam se assustar. É junto à Igreja, o Cristo estendido na História, que nós, pecadores, encontramos e seguimos o caminho da salvação, segurando firme naquela mão misericordiosa que Deus nos oferece, que é o próprio Senhor Jesus. Quanto mais avançamos no caminho da perfeição, quanto mais nos aproximamos da luz de Cristo, melhor vemos nossos defeitos, melhor vislumbramos as manchas do pecado nos recônditos da alma, mais nos sentimos indignos e necessitados da graça e mais podemos nos compadecer daqueles irmãos mais afastados de Deus. É reconhecendo as nossas misérias que podemos usar a misericórdia para medir o próximo, tão necessitado de Deus salvador quanto nós. Do contrário, acabamos tomando a atitude do fariseu diante do publicano ou a do filho mais velho, irmão do pródigo. 

A Igreja, sempre santa e imaculada, não teme tocar os impuros, como Nosso Senhor não temeu tocar o leproso. Este toque purifica. Este toque consiste no apelo à conversão, no anúncio do Evangelho, no despertar das consciências relativistas amortecidas pela amoralidade, no iluminar a vida para que, tocados pela graça, reconheçamos nossos pecados e os deixemos na pia batismal ou no confessionário. A misericórdia e o amor não permitem falsear ou mitigar o mal. Se Jesus, o médico dos médicos, veio para os doentes e não para os sãos, é preciso mostrar, como Ele mostrou sempre com caridade, a gravidade da doença e os tratamentos adequados, ainda que sejam extremamente dolorosos. Não é verdadeiramente misericordioso quem ataca os sintomas usando um bálsamo para aliviar a dor - para usar uma expressão de Santa Catarina de Sena - e não vai a fundo no mal para extirpá-lo. Quem age assim não leva a salvação, ao contrário, condena o pecador faltando-lhe com a verdade. 

Portanto, a missão da Igreja é sair ao encontro de todos e receber de portas abertas a todos, anunciando a Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, sem isolar-se deste mundo corrompido, mas sendo fermento na massa, luz do mundo e sal da terra.



1 de set. de 2015

O livro do Gênesis: influência na construção da civilização ocidental e a zombaria dos ateus

O livro do Gênesis, especificamente os primeiros capítulos que tratam da criação do universo e do homem, é o alvo preferido da zombaria de não-religiosos. Não é uma novidade. Na sociedade greco-romana já era motivo de piada. O que talvez poucos se dão conta é que os conceitos dos direitos humanos, que moldaram a civilização ocidental, e por conseguinte, influenciaram toda a humanidade, foram deduzidos daquele relato maravilhoso de Deus tirando o homem da terra e a mulher, de sua costela. É deste relato simples e profundo que concebemos a inviolável dignidade da pessoa humana, a igualdade essencial entre os homens, a complementaridade dos sexos, a família como base social. É a mais perfeita explicação filosófica para a presença do mal no mundo e da natureza essencialmente boa do ser humano. 

Esta maravilhosa “estorinha”, iluminada por Cristo, venceu e se impôs ao mundo. Tivessem prevalecidos os relatos de criação dos egípcios, dos indianos ou das religiões dualistas e a concepção sobre quem é a pessoa humana seria outra e não seria melhor. Será coincidência que, a medida que o livro do Gênesis começou a ser achincalhado e foi sendo posto a parte por um cientificismo positivista, a civilização ocidental – e com ela o mundo todo – sofreu grave degradação moral que nos levou, por exemplo, a duas guerras monstruosas e aos campos de concentração?

Além do conceito de dignidade da pessoa humana, baseada na criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus, outro legado do relato da criação no livro do Gênesis é o descanso semanal. Após seis dias de criação, Deus “descansou” no sétimo dia. O repouso sabático tornou-se um dos pilares do judaísmo e de suma importância social para os judeus, pois o Shabat era dia de descanso, dedicado a Deus e à integração da família.

No Shabat, o descanso era estendido a todos os que habitavam Israel, fossem estrangeiros, escravos ou animais. Nenhuma outra cultura tinha um dia de descanso tão abrangente, sobretudo que incluísse os escravos.

Com a ressurreição de Jesus no primeiro dia da semana, o descanso semanal deslocou-se, com o cristianismo, para o Domenica Dies, o domingo. Desde o imperador Constantino, o domingo passou a ser feriado.

Porém, promulgado em 1792, o calendário revolucionário francês, que pretendia eliminar os vestígios de cristianismo, definiu uma “semana” de 10 dias, suprimindo, assim, o domingo e diminuindo os dias de descanso. O tal calendário não vingou, mas o advento de doutrinas laicistas e materialistas, como o liberalismo, que se adequavam à Revolução Industrial a qual exigia cada vez mais tempo de trabalho dos homens e mulheres, dificultou ao máximo o descanso semanal, especialmente aos domingos. O descanso semanal, direito sagrado, tornou-se uma luta para a classe trabalhadora. E é ainda hoje. Não há mais um único dia de descanso semanal igual para todos, como o Shabat ou o domingo, perdendo assim, quando concedido, seu caráter de culto a Deus e de agregação familiar.



27 de jun. de 2015

Carta de Jesus ao pastor: mais um texto sobre religião totalmente equivocado de Gregório Duvivier

O último artigo de Gregório Duvivier , na Folha, é uma carta de Jesus a um pastor. O humorista mediano, alçado a intelectual, demonstra, no texto, desconhecer os evangelhos e, portanto, o próprio Jesus ao qual pretende dar voz e que seus conhecimentos de História não vão além das leituras dos livros didáticos do MEC. Não quero tratar, aqui, das críticas do humorista aos pastores estelionatários da fé, nem à teologia da prosperidade de igrejolas que surgem a cada dia. Vamos aos tremendos foras sobre Jesus e História.

"... e você ler direitinho vai perceber, pastor-deputado, que eu sou de esquerda."

Bobagem. O espectro político-ideológico surge com a partidarização na Revolução Francesa, 1789 anos após Jesus. Antes disso, qualquer posição política ou ideológica de qualquer personagem da História é inclassificável e toda tentativa comete-se o "pecado do historiador": o anacronismo.

"Tem uma hora do livro em que isso fica bastante claro (atenção: SPOILER), quando um jovem rico quer ser meu amigo. Digo que, para se juntar a mim, ele tem que doar tudo para os pobres. "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus"."

A citação de Jesus é precisa. Mas faltou o que antecede esta fala de Jesus. O jovem rico se encontra com Jesus. Ele tem sede de Deus e quer saber do Mestre o que fazer para alcançar a vida eterna. Jesus lhe diz: "Observa os mandamentos"; "Quais?", pergunta o jovem; "Não matarás, não roubarás, não cometerás adultério, não levantarás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe". Ou seja, Jesus diz ao jovem que cumpra os Dez Mandamentos. O jovem lhe diz que todos estes mandamentos ele tem observado, Aí, então, vem a resposta de Jesus: "Se queres ser perfeito, uma coisa só te falta: vai, vende o que tem, dá aos pobres e me segue." O jovem rico vai embora entristecido porque tinha muitos bens. Este é o relato que consta nos evangelhos. Bom, não me parece que o pessoal da esquerda goste muito de dar seus bens aos pobres, nem por caridade, muito menos para se tornarem livres no seguimento de Jesus. Nem me parece que se empenham em cumprir os mandamentos do "esquerdista" Jesus. Aliás, matar e roubar foi o que a esquerda mais fez ao longo da história. Mas quantos cristãos não deram tudo o que tinham para seguir Jesus.

"Sou mais socialista que Marx, Engels e Bakunin -esse bando de esquerda-caviar. Sou da esquerda-roots, esquerda-pé-no-chão, esquerda-mujica.  Distribuo pão e multiplico peixe -só depois é que ensino a pescar."

O Jesus socialista não é uma bobagem inventada por Gregório Duvivier. Tem até bispo que acredita nisso. Qual esquerda-mujica? Do Mujica aborteiro, ex-presidente do Uruguai? Jesus não distribuía peixe e pão. O milagre da multiplicação não foi o antecedente do Bolsa-Família. Ao contrário, conta-nos o evangelho de São João, que, logo após o estupendo milagre, queriam proclamar Jesus como rei. Ele recusou, é óbvio. Muito diferente de demagogos que usam o discurso da pobreza para alçar ao poder. Também nos conta João, que no outro dia, o povo todo acorreu até Jesus. Repreendeu-os porque o procuravam não porque tinham visto o milagre, mas porque queriam comer pão gratuitamente. Jesus não ensinava a pescar. Pelo contrário, colocava algumas pessoas em apuros. Por exemplo, ao curar um cego ou aleijado que pedia esmola, automaticamente Jesus obrigava-os a arrumar um trabalho. Por conta deles, é claro.

"Se não quiser ler o livro, não tem problema. Basta olhar as imagens. Passei a vida descalço, pastor. Nunca fiz a barba. Eu abraçava leproso. E na época não existia álcool gel."

Se Jesus andava descalço ou nunca fez a barba, jamais saberemos. Aliás, é totalmente irrelevante. Sabemos, com certeza, que Jesus usava uma túnica inconsútil, o que não era comum a um miserável. Conta-nos os evangelhos que Jesus tocou uma única vez num leproso para curá-lo. Não entrarei nas minúcias do texto original de Marcos que diz que Jesus se irou pelo fato de o leproso irromper entre a multidão para vir prostrar-se aos seus pés, o que indica que o Senhor desaprovou a atitude do leproso de desrespeitar a Lei. Mas, de fato, Jesus tinha especial atenção aos doentes e pecadores. Não me parece que a turma vermelha se interesse por leprosos, nem pela dignidade dos doentes, já que o próprio autor do texto já defendeu a eutanásia em outra ocasião. Não me parece que seja possível existir um Damião de Molokai entre ateus e comunistas.

"Fui crucificado com ladrões e disse, com todas as letras (Mateus, Lucas, todos estão de prova), que eles também iriam para o paraíso. Você acha mesmo que eu seria a favor da redução da maioridade penal?"

Que Jesus foi crucificado entre ladrões, todos os evangelhos concordam. Mas só Lucas conta a conversão daquele que viria a ser conhecido como o bom ladrão (conhecido pela tradição com o nome de Dimas). Os dois ladrões injuriavam Jesus, até que Dimas foi tocado pela graça e se converteu. Imediatamente, reprendeu o outro ladrão. Dimas se arrependeu e pediu perdão a Jesus, recebendo a promessa de estar com ele no paraíso. Só Dimas, arrependido, recebeu a promessa. O outro, não. Encaixar a questão da maioridade penal aqui é hilário. Primeiro, Jesus pode perdoar qualquer criminoso e queremos que eles se arrependam e se convertam. Mas que sejam punidos pela justiça. Jesus perdoa Dimas, mas não o tira da cruz. Aliás, o próprio Dimas reconhece que a sentença que ele e o outro ladrão cumprem é justa. Que todos os criminosos se convertam e aproveitem as penas como penitência.

"Soube que vocês estão me esperando voltar à terra. Más notícias, pastor. Já voltei algumas vezes. Vocês é que não perceberam. Na Idade Média, voltei prostituta e cristãos me queimaram. Depois voltei negro e fui escravizado -os mesmos cristãos afirmavam que eu não tinha alma. Recentemente voltei transexual e morri espancado."

Jesus conta a parábola do fim do mundo quando vai julgar toda a humanidade e divide-a entre aqueles que fizeram obras de caridade, que deram de comer, de beber, vestiram e visitaram os mais necessitados e os que nada fizeram diante das necessidades dos homens. “Cada vez que fizerdes algo a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.” De fato, Jesus está de certa forma presente nos pobres. Mas não nos pecadores. Jesus diz que Ele e seu Pai virão àqueles que observarem seus mandamentos e neles farão sua morada. Aqui, Duvivier comete erros de História, ou melhor, parte para as clássicas acusações sem fundamento nenhum. Na Idade Média, não se queimava prostitutas. Aliás, nenhum país tentava combater a prostituição seriamente. Nem em Roma. Entendiam sua função social "assim como tem função social as cloacas das cidades". Os prostíbulos eram regidos por estatutos específicos elaborados pelo governo de cada cidade e funcionavam como uma espécie de corporação de ofício. Geralmente as prostitutas eram obrigadas a vestirem-se com uma roupa que as diferenciava das outras mulheres. Havia ordens religiosas e confrarias - sob a proteção da Santa Maria Madalena - que procuravam ajudar aquelas que queriam deixar a prostituição e, em certos períodos, a Igreja concedia indulgência plenária a quem casasse com uma prostituta.











4 de jun. de 2015

A Religião Ateísta: ateísmo puro é insuportável. Graças a Deus, não conheço um único ateu puro sangue

Richard Dawkins andou pelo Brasil. Sinceramente, não vi as repercussões. Dawkins é um dos pregadores do ateísmo militante, uma espécie de religião sem divindade. O ateísmo militante se organiza como uma religião. Tem pregadores, profetas apocalípticos, livros sagrados, oráculos, códigos morais e até santos e santas. Eu me irritava com a religião ateísta, porque via nela uma negação dos princípios do livre-pensamento, tão caro aos primeiros ateus. Mas não me irrito mais, ao contrário, vejo algumas vantagens nela.

A religião ateísta não é um fenômeno recente. Já nos primórdios do ateísmo, os ateus se organizaram em instituições para compartilhar suas ideias e fins comuns. A primeira foi na maçonaria, que não nasceu ateia, mas, por sua própria dinâmica e atração que exerceu sobre os ateus, tornou-se pouco a pouco. Depois, duas grandes correntes filosóficas atraíram os ateus: o positivismo e o marxismo. O positivismo de Auguste Comte era uma verdadeira religião. Fundaram-se até "igrejas" positivistas (a do Rio de Janeiro está lá até hoje). Porém, a maior expressão da religião materialista é o marxismo. O marxismo é um decalque do cristianismo numa complexa (ou simplória) explicação globalizante da História. Muitos textos marxistas são puros oráculos divinos comparados aos dos profetas bíblicos. É impressionante a semelhança.

Poderíamos citar outras correntes: o darwinismo, o cientismo (ou cientificismo) e até o espiritismo, religião que pode funcionar sem Deus. Estas correntes religiosas materialistas surgidas no século XIX, eu as chamo de "religiões ilustradas". Em comum, todas elas compartilham noções teleológicas: dão um sentido para a vida humana, explicam suas contradições, apontam caminhos para progredir, possuem um código moral e culminam na construção do paraíso terrestre. Finalmente, depois deste parêntese histórico, o porquê de o ateísmo militante não me irritar mais.

O ateísmo puro é insuportável. Graças a Deus, não conheço um único ateu puro sangue. Ateus nietzschianos são raros. Um ateu que crê em energias positivas (ou negativas), que torce pela recuperação de alguém que está doente, que simplesmente deseja sorte para um amigo que vai prestar vestibular ou felicidades para um casal recém-casado não pode ser um ateu puro sangue - ainda que muitos apelem a uma pseudo-ciência que respalda estas "crenças". O ateu puro não crê em nada disso. Crê nas forças cegas da natureza, nos condicionamentos psicológicos, nos determinismos biológicos. Não crê nem mesmo no amor, esta reação físico-química que serve apenas ao extinto de conservação da espécie. Mais uma vez, agradeço a Deus pela maioria dos ateus não ser pura, não ser nietzschiana, não ser niilista. O ateu puro só encontra dois caminhos: a loucura ou o suicídio.



21 de abr. de 2015

"Todo o poder emana de Deus". A concepção católica de poder e a proposta do deputado Daciolo

A notícia é velha: um deputado do PSOL (sic) apresentou uma PEC que altera o texto da Constituição onde diz que o poder emana do povo. O deputado, evangélico, propõe que o novo texto declare que o poder emana de Deus. Que todo poder emana de Deus, independentemente da forma de governo, não há dúvida. O problema reside na conveniência da alteração. O projeto, evidentemente, não prosperará, mas, de qualquer forma, começou-se o mimimi vendo nisso um ataque ao Estado laico. Os chorões pouco sabem que um conceito tão simples, condensado em tão poucas palavras, livrou a humanidade e, particularmente, salvaguardou a civilização ocidental, por vários séculos, da tirania, do absolutismo ilimitado e do totalitarismo.

Podem objetar: Aprende-se na escola que existiram governos monárquicos absolutistas a partir do século XVI. Mais ou menos. Evoco, aqui, as palavras do historiador marxista Perry Anderson, contidas na sua obra As Linhagens do Estado Absolutista:

"Na verdade, o próprio termo "absolutismo" era uma denominação imprópria. Nenhuma monarquia ocidental gozara jamais de poder absoluto sobre seus súditos, no sentido de um despotismo sem entraves. Todas elas eram limitadas, mesmo no máximo de suas prerrogativas, pelo complexo de concepções denominado direito "divino" ou "natural"[...] Nenhum Estado absolutista poderia jamais dispor livremente da liberdade ou da propriedade fundiária da própria nobreza, ou da burguesia, à maneira das tiranias asiáticas suas contemporâneas. [...] Desse modo, a monarquia absoluta no Ocidente foi sempre, na verdade, duplamente limitada: pela persistência, abaixo dela, de corpos políticos tradicionais, e pela presença, sobre ela, de um direito moral abrangente."

Limitadas pelo direito divino ou natural e por um direito moral abrangente. O que seria esse limite, na Europa do Ancien Régime, senão a moral cristã? Os monarcas sabiam que seus poderes não provinham da linhagem sanguínea ou de processos eletivos. Vinha do alto. Aquelas palavras de Jesus a Pilatos ressoavam entre os poderosos deste mundo: "Não terias nenhum poder sobre mim, se não te fosse dado do Alto". Mesmo entre pagãos, o poder emana de Deus, fonte e origem de toda autoridade.

Outra objeção: este conceito levou à formulação do Direito Divino dos reis e, subsequentemente, a um poder ilimitado, já que o monarca não precisa prestar conta a ninguém, tendo apenas Deus por superior. Errado. A tese do Direito Divino dos reis surgiu e prosperou entre os protestantes para legitimar seus cesaropapismos contra o Papa e não a favor de poderes ilimitados. Mesmo Jean Bodin (1530-1596), primeiro teórico do direito divino dos reis, diz que nenhuma lei está acima das leis naturais e divinas. A arbitrariedade, se existe, é um abuso de poder, não a forma ordinária de governo.

Afirmar que todo poder emana de Deus não contradiz a democracia. Já o teólogo Francisco Suárez (1548-1617), em duas obras (De Legibus e Defensio Fidei) apresenta a doutrina católica "que pode resumir-se deste modo: sempre que se forma uma sociedade civil surge nela o poder político como sua propriedade natural. O poder político não é recebido imediatamente de Deus para os governantes, mas só mediatamente por intermédio da sociedade organizada. Na instituição dos governantes das sociedades, no "pacto de sujeição" tal como o entende Suárez, é a própria sociedade que designa o titular do poder e lhe confere autoridade."

Suárez afirma que "a comunidade política é libre por direito natural e não está sujeita a nenhum homem fora dela, senão que ela mesma em sua totalidade tem o poder político que é democrático enquanto não se mude."

Para Suárez, independentemente da forma de governo, o poder do governante tem origem imediatamente na comunidade e mediatamente em Deus. "O poder de dominar ou reger politicamente aos homens, a nenhum homem em particular lhe foi dado imediatamente por Deus (III, 2, 3. 5) este poder só em virtude do direito natural está na comunidade dos homens (III, 2, 4. 1), está nos homens e não em cada um ou num determinado" (Defensio Fidei).

Concluindo, podemos observar que as formas de governos provindas do Iluminismo - ou antes, de Maquiavel (1469-1527) - e postas em prática a partir da Revolução Francesa com o total esvaziamento religioso e de qualquer corpo de doutrina moral levou a civilização ocidental a experimentos governamentais desastrosos como o nazismo, o comunismo e toda forma de ditaduras e tiranias que cometeram os maiores crimes que a humanidade jamais viu. Porém, tais defeitos não são exclusivos de governos antidemocráticos. Afirmar radicalmente que todo poder emana do povo, sem levar em consideração qualquer lei moral que esteja acima da consciência coletiva ou individual, pode degenerar a democracia, transformando-a numa fonte de arbitrariedade. E não é exatamente isso que vemos hoje?



11 de abr. de 2015

Santa Maria Madalena, apóstola dos apóstolos, a primeira testemunha da ressurreição tinha que ser uma mulher

Segundo o evangelho de São João, Santa Maria Madalena foi a primeira a ver o Senhor ressuscitado. Maria Madalena busca seu Amado, procura-O e se desespera por não encontrar Seu corpo. Aquela que sofrera dominada pelos demônios tinha perdido Seu libertador e protetor. Talvez viesse ao seu coração o medo da recaída. Aos anjos e ao próprio Jesus que ela pensa ser o jardineiro, pergunta onde O colocaram e que ela O buscaria. Ressoa aqui as palavras da esposa no Cântico dos Cânticos: "Durante as noites, no meu leito, busquei aquele que meu coração ama; procurei-o, sem o encontrar. Vou levantar-me e percorrer a cidade, as ruas e as praças, em busca daquele que meu coração ama; procurei-o, sem o encontrar. Os guardas encontraram-me quando faziam sua ronda na cidade. Vistes acaso aquele que meu coração ama?" "Para onde foi o teu amado, ó mais bela das mulheres? Para onde se retirou o teu amigo? Nós o buscaremos contigo."

Madalena procura o Senhor morto. Quer demonstrar seu amor, ungindo-O. Viu todo o sofrimento do Senhor na cruz. Ainda tem uma fé fraca, ela não tira os olhos do interior do sepulcro, procurando entre os mortos aquele que está vivo. Não reconhece Jesus quando este pergunta o motivo de sua tristeza. Mas ama intensamente e é recompensada. "As minhas ovelhas reconhecem minha voz". Quando Jesus a chama pelo nome, Santa Maria Madalena deixa de olhar para o túmulo, se converte, "volta-se para o Senhor" e reconhece o "rabuni", Seu Mestre Jesus. O texto não diz, mas subentende-se que Maria Madalena correu abraça-Lo, ou algo parecido. Mais uma vez, as palavras do Cântico se deixam ouvir: "Mal passara por eles, encontrei aquele que meu coração ama. Segurei-o, e não o largarei antes que o tenha introduzido na casa de minha mãe, no quarto daquela que me concebeu." Jesus pede para que não O retenha, mas que anuncie a todos que Ele ressuscitou. 

Outro aspecto interessante do trecho do evangelho de São João da liturgia de hoje é o paralelismo com o Gênesis. É o primeiro dia da semana, o primeiro dia da nova criação. No jardim, que nos lembra o Éden, está o novo Adão, Jesus. O demônio falou com Eva; os anjos falam com Maria Madalena. Jesus se dirige à Maria Madalena chamando-a primeiramente de "Mulher", tal como Adão ao ver sua companheira: "Ela se chamará mulher" (Gênesis 2, 23). Eva foi a primeira a pecar. Maria Madalena, naquele momento sublime, representa todo o gênero feminino redimido.

Jesus é seu Mestre, mas também seu Deus. O Senhor passeia pelo jardim, como Deus passeava no Éden. Mas a mulher, agora redimida, não se esconde com medo, pelo contrário, alegremente vai ao encontro do Senhor. Está aberto à humanidade o caminho da árvore da vida e Jesus mesmo é o fruto que nos dá a imortalidade e que comemos todas as vezes que tomamos a Eucaristia. Alegre, Santa Maria Madalena corre a anunciar que viu o Senhor. A primeira mulher foi portadora da desgraça; Santa Maria Madalena, representante das mulheres, é a portadora da Boa Nova da salvação. Que privilégio! Aquela que muito amou, muito lhe foi perdoado. Aquela que era dominada por sete demônios (a situação mais abjeta que um ser humano pode chegar, pois Jesus disse que quando um demônio é expulso, procura sete piores do que ele e vem habitar naquele que volta ao mal), torna-se apóstola dos apóstolos. Santa Maria Madalena, primeira esposa mística de Cristo, interceda por nós para que nossas almas encontrem e se unam firmemente a tão adorado Esposo. Amém! Aleluia!

8 de abr. de 2015

Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo


Jesus ressuscitou verdadeiramente, Aleluia! "Por que procuram entre os mortos aquele que está vivo?" Jesus venceu a morte e deu-nos a vida. A verdadeira vida. Estávamos mortos. Pelo batismo, morremos com cristo e ressuscitamos com Ele. Aqueles que vivem sem Jesus, são verdadeiros zumbis. São mortos-vivos que vagueiam sem um propósito. Jesus venceu a morte. Saiu da podridão. E nos chama, como chamou Lázaro, a sairmos dela também. Há quem prefira ficar na podridão. O mundo gosta de chafurdar na podridão. 

Hoje, vemos muita gente despendendo muita energia em defesa do que é podre. O mundo se decompõe rapidamente, a olhos vistos. Os valores estão podres. As relações estão podres. Jesus ressuscitado ilumina o mundo, mas o mundo gosta da escuridão. O mundo prefere o ilusório do que o real. A morte do que a vida. São como os homens do Mito da Caverna, de Platão. Alegremo-nos. Jesus nos deu a vida. Cremos Nele. O mal e a morte não têm a última palavra. O destino do homem e da mulher é a vida eterna, é a glória de Deus. Aleluia!



24 de mar. de 2015

Uma heresia chamada Teologia da Prosperidade

"Aquele que quer ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz a cada dia e Me siga". Jesus não mandou tomar o sucesso profissional, a mansão, a casa de praia, os dois carros importados, as três empresas e segui-Lo. Nem tomar a cura da bereba ou do caroço não sei onde. A única coisa que Jesus oferece aos seus discípulos é a cruz. Nada mais do que a cruz. A cruz é o caminho apertado. Não há outro. Jesus crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gregos, é a porta estreita. A porta do aprisco. Quem prega outro caminho, mais cômodo e atraente, no seguimento de Jesus é ladrão e salteador, é um maldito herege que seduz as almas para o inferno.

Penso neste momento na Eucaristia. O sacrifício eucarístico é o mesmo e único sacrifício da cruz. É por isso que muitos discípulos ficaram escandalizados quando Jesus anunciou que daria como alimento Sua carne e Seu sangue - o que se realizou na última ceia, antes de Sua morte - e deixaram-No de seguir. E o que disse Jesus? Que estavam enganados, que o que Ele dizia era apenas simbólico? Não. Virou-se para os apóstolos e disse se eles queriam deixá-Lo também. Não há meias verdades para garantir ou atrair fiéis. É por isso que quem nega a Eucaristia nega a cruz e vice-versa.

Não se chega à glória da ressurreição sem passar pela cruz. Três apóstolos tiveram uma experiência da glória do Senhor na montanha - na Bíblia, o lugar de encontro com Deus. Sentiram as delícias da visão beatífica e quiseram ficar por lá. Mas tiveram que descer para a planície - na Bíblia, o lugar da batalha. Nós, discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto vivemos - mesmo que em alguns momentos Deus nos mostre, ainda que num átimo, a felicidade do Céu - estamos, com o auxílio da graça de Deus, em constante batalha. Deus não nos promete felicidade neste mundo, mas luta, sacrifício, cruz. Se quiser ser verdadeiramente discípulo de Jesus, fuja de todos os que se dizem cristãos - pastores ou padres - e que querem transformar o cristianismo num mar de rosas. O caminho largo e fácil conduz a um único lugar, ao inferno.



26 de fev. de 2015

Adoção de crianças por pares homossexuais ou a perversão da família

Sejamos francos. É simplesmente impossível afirmar que a adoção de crianças por pares homossexuais seja um bem ou um mal. O que sabemos com toda certeza é que consiste numa novidade sem precedentes na História humana. Para usar expressão da moda, uma quebra de paradigma. É um experimento sem sabermos as consequências a longo prazo. O que podemos afirmar com a pouca experiência que temos é que existem filhos de homossexuais que os louvam e outros que criam ONG's para que adoções por pares homossexuais jamais aconteçam.

O que sabemos é que a família fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher - esta forma de família que possibilita inclusive que os gays existam - mesmo com seus percalços sempre funcionou. Pais ou mães homossexuais serão afetuosos e darão boa educação aos filhos? Alguns sim. Outros não. Fazer apologética de uniões homossexuais como se fossem mais virtuosas do que as heterossexuais afirmando que adotarão crianças órfãs, abandonadas ou rejeitadas por terríveis e maldosos casais héteros é, pra dizer o mínimo, canalhice. Partir de particularidades para generalizar é desonesto. Seria como ter por argumento preferir a solteirice a ser corno.

Não. Os pares homossexuais não irão esvaziar os orfanatos e abrigos para menores. Não são uma espécie de abnegados acima dos reles humanos héteros egoístas. E também, no Brasil, há mais casais querendo adotar do que crianças disponíveis à adoção. O que emperra é a burocracia. E mais: devemos negar pela segunda vez o direito de uma criança de ser criada e cuidada por um pai e uma mãe, naquela sadia diversidade e complementaridade entre um homem e uma mulher?

Não podemos negar, há pais e mães que abandonam seus filhos, que os rejeitam, que os matam antes ou depois de nascerem. E há aqueles e aquelas que vivem para os filhos, sacrificam-se amorosamente por eles, preferem dar a própria vida a abortarem. Estas são vicissitudes que só uma família pode passar. Um simulacro de família não corre estes riscos, não pode viver em plenitude as alegrias e tristezas, as angústias e prazeres que uma verdadeira família sofre e goza. Sempre faltará algo. Sempre será imperfeito. Sempre será um amor infrutífero, estéril, dependente de elementos estranhos à relação. Pendurar laranjas num abacateiro não faz da árvore uma laranjeira. Podemos comparar, então, este relacionamento infrutífero ao sofrimento de casais estéreis, como fazem os canalhas? É claro que não. Casais estéreis acidentalmente não podem ter filhos. Pares homossexuais essencialmente não o podem. Eventualmente o sexo entre um homem e uma mulher não produz uma vida. Obrigatoriamente, relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo não geram absolutamente nada.

Filho não é direito, nem bicho de estimação, nem mercadoria. É um dom. Dom do amor. E o amor gera vida, é criativo. Senão não é amor. É qualquer coisa parecida com amor, que ousam chamar de amor. Particularmente, sou contra elevar ao status de família tudo aquilo que não o é. Minha opinião transcende os gostos e as modas. Vai além de saber se é bom ou mau. A História contemporânea está repleta de exemplos onde a vida humana foi jogada como um brinquedo com consequências desastrosas. Inverter a ordem natural das coisas pode ser mais um.



14 de fev. de 2015

Marchinhas de Carnaval em suas novas versões politicamente corretas

Atenção! Os censores do politicamente correto estão de olho nas marchinhas carnavalescas:

Olha a cabeleira do Zezé

"Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é? Será que ele é?"

Agora, nova versão da letra:

"Olha a cabeleira dx Zezé. Ele é o que elx quiser. Já que Zezé é livre para escolher seu gênero, sem determinismos biológicos ou imposições sociais que definem que cabelo comprido é coisa de mulher e cabelo curto é coisa de homem."

(Atenção para o "x" substituindo o artigo masculino e demonstrando a neutralidade do gênero)

"Será que ele é bossa nova?"

Nova versão da letra:

"Zezé jamais será bossa nova ou jovem guarda, movimentos musicais elitistas e alienados da situação político-social do Brasil nas décadas de 1960-1970 cujas letras não denunciavam a ditadura militar que assolava o país e traiam o país servindo à ritmos estadunidenses e vendendo-se para o cenário musical ianque."

"Será que ele é Maomé?"

Nova versão da letra:

"Zezé pode ser Maomé, pois vivemos num Estado laico e não pode ser vítima de islamofobia ao ser confundido com uma minoria radical que deturpa a religião islâmica, religião de paz e amor."

"Parece que é transviado. Mas isso eu não sei se ele é"

Nova versão da letra:

"Zezé pode parecer o que quiser, ninguém é fiscal de cu. Feliciano e Bolsonaro não me representam. Vamos queimar a casa do Levy Fidelix."

Maria sapatão

"Maria sapatão, sapatão, sapatão. De dia é Maria, de noite é João". Agora, nova versão da letra:

"Maria lésbica, lésbica, lésbica. De dia sua constituição físico-biológica é feminina, mas à noite, ou em qualquer outro período do dia, ela escolhe o gênero que quiser, pois tem o direito de se livrar das amarras desta sociedade patriarcal de tradição judaico-cristã, opressora e sexista, que impõe socialmente seu gênero aos seres humanos."

Um pouco difícil de adaptar as letras à melodia.



12 de fev. de 2015

A Igreja Católica não segue a Bíblia

Me disseram que a Igreja Católica não segue a Bíblia e me disseram, que basta uma leitura da mesma para comprovar. Eu fui ler. Lá encontrei a doutrina da Santíssima Trindade; a divindade de Jesus; a instituição da Eucaristia, do batismo, da crisma; a instituição da unção dos enfermos e da confissão dos pecados; a instituição do sacerdócio e do matrimônio; a vida celibatária e religiosa; a constituição da hierarquia da Igreja; o primado de Pedro e a instituição do Papado; o papel singular de Maria na obra de salvação, sua intercessão, sua maternidade divina, sua imaculada conceição, sua virgindade perpétua, sua assunção e coroação como rainha do Reino de Deus; a intercessão dos anjos e dos santos; o purgatório, a oração pelos mortos; a confecção de imagens sagradas; a veneração de símbolos sagrados; a veneração de relíquias; a celebração da Santa Missa como imagem do culto celeste; a guarda do domingo. Terminei de ler a Bíblia, fechei e queria ser padre da Igreja Católica. Quem sai da Igreja Católica alegando que esta não segue a Bíblia, nunca leu a Bíblia devidamente.

24 de jan. de 2015

A Europa islâmica: um caminho sem volta

As medidas de combate ao terrorismo sendo reforçadas na França e, consequentemente, em toda a Europa chegam a ser patéticas. Medidas inúteis, pois combate o efeito e não a causa. Temos que nos resignar, a Europa está perdida. Todo o Ocidente está derrotado. É um caminho inexorável: a Europa será islâmica. E mais tarde, a margem de cá deste “rio chamado Atlântico” também será. A derrocada da Europa começou há pouco mais de 200 anos quando os europeus voltaram suas costas para suas tradições, quando certas ideologias levaram os europeus a sofrerem de sentimento de culpa. Por isso, entraram num processo de autopunição e numa crise de identidade que a levou à autodestruição. Minaram seus pilares greco-romano, eslavo-germano e judaico-cristão. Atacaram a base da sociedade: a família. Implantaram o vírus mortal do relativismo moral.

Graças a este trabalho de sapa que vem minando os alicerces da sociedade europeia (e ocidental) e que nos trouxe à pós-modernidade, temos uma sociedade fragmentada. Propositadamente fragmentada pelas ideologias materialistas e laicistas cujo intuito era a da velha tática de “dividir para conquistar”. Mas nenhuma destas ideologias mostrou força suficiente para se impor de modo permanente o que possibilitaria construir uma unidade social, ainda que totalitarista. O nazifascismo e o comunismo se foram, graças a Deus. Criou-se um vácuo. Um vácuo de princípios e de ideais. Um grande ideal é aquele que motiva os homens e mulheres a morrer – e se necessário – a matar por ele. Este ideal pode ser bom e verdadeiro como o cristianismo, mas pode ser pernicioso e mentiroso como foi o comunismo. Foi um grande ideal que moveu milhares de homens a se baterem nas Cruzadas. Foi um grande ideal (ainda que deturpado, diga-se) que moveu milhares de homens das brigadas internacionais nas revoluções comunistas. Hoje, o único grande ideal que se apresenta como alternativa ao Ocidente é o Islã. Não é à toa que vemos milhares de jovens europeus muçulmanos, muitos neoconvertidos, se alistando nas fileiras do Estado Islâmico ou de organizações terroristas.

A Europa adoeceu e sua doença é incurável. Ainda que haja quem reconheça o mal, evita-se o remédio. Nada pode salvar a Europa. A solução poderia vir da Igreja Católica, a única instituição que sempre soube manter a unidade e a conservar a cultura europeia em tempos de adversidades. Porém, é com tristeza que constatamos sua impotência e incapacidade para fazer frente às ameaças por conta das contradições internas de seus filhos, principalmente de seu episcopado. Muito menos podemos contar com o simulacro de unidade chamada União Europeia. É mais fácil ela aplicar a eutanásia na paciente do que salvá-la.

Uma sociedade dividida. Foi exatamente o que facilitou a expansão árabe-muçulmana nos inícios da doutrina de Maomé. A península arábica estava dividida em tribos. Os impérios bizantino e persa sofriam com conflitos internos e, portanto, estavam profundamente divididos. Certos grupos até favoreceram ou aliaram-se aos invasores, como fazem alguns grupos hoje, especialmente de esquerda, que julgam poder usar os muçulmanos a seu favor. Mas um continente não acaba. Não é o fim da Europa, é o fim de uma era, como foi o fim do Império Romano. Há décadas países muçulmanos, encabeçados por Arábia Saudita, Marrocos, Líbia, Síria e Irã, financiam a expansão do Islã pela Europa. Constroem mesquitas, inclusive com capacidade para milhares em regiões aonde o número de adeptos não chega a uma centena; promovem ajuda financeira aos imigrantes; e, é claro, financiam o terrorismo que é parte integrante do mesmo projeto.

O futuro do continente europeu é o Islã. Não o Islã dos terroristas. Os terroristas são somente os que estão no front. Fazem parte do processo de islamização, como os cavaleiros de Allah no tempo do Califado, mas não são as peças fundamentais. Servem à causa, sem dúvida, porém os verdadeiros agentes da islamização da Europa são aqueles que migram – como diz o Alcorão. A invasão muçulmana é invisível, pacífica e silenciosa, como foram no Império Romano as primeiras ondas migratórias dos bárbaros. São famílias, gente boa e honesta, que trabalham, ocupam todos os espaços da sociedade, convivem nos bairros da periferia com pessoas de outras culturas em clima de tolerância e, principalmente, suas mulheres têm taxas de fertilidade muito maiores do que qualquer outra europeia. Contudo, também são pessoas de fé. Sabem exatamente o que os diferem dos outros. Eles são os fiéis. Nós, os infiéis. Sabem que eles são o futuro.

Não é o radicalismo islâmico que vai dominar a Europa. O Islã, ao longo da História, sempre soube se deixar influenciar pelas culturas superiores que encontrou pela frente. Hauriu a cultura grega dos bizantinos e bebeu da cultura persa. Preservou a bela poesia e literatura árabe pré-islâmica. De tribos nômades que eram atingiram alto grau de refinamento cultural a ponto de não podermos ignorar suas contribuições nas artes, na arquitetura, na filosofia e nas ciências. O Islã europeu não será o que destruiu os budas de Bamiyan, mas o que preservou os monumentos egípcios, mesopotâmios e as obras de filosofia grega. Católicos, fiquem tranqüilos. A Basílica de São Pedro não será o estábulo de nenhum sultão ou califa. Pelo menos não permanentemente. O Vaticano será o Fanar do Ocidente. Poucos homens e mulheres tiveram o privilégio de testemunhar o fim de uma era. Não sei se veremos o fim de um processo que pode durar décadas. Porém, as engrenagens da História já estão em movimento. Sentem-se no sofá e aproveitem o triste espetáculo.


10 de jan. de 2015

Ataque ao Charlie Hebdo: a Europa - e todo o Ocidente - colhe o que plantou

A Europa colhe o que plantou. Ontem, vi que pelo menos dois mil jovens europeus já se juntaram ao Estado Islâmico. A Europa virou as costas para suas raízes cristãs. Se envergonha de sua História e de seus valores (não apenas dos valores essencialmente cristãos). Entrou em processo autodestrutivo, graças a seu complexo de culpa - já afirmava Levi-Strauss. O futuro da Europa é obscuro. Estamos diante de uma daquelas fases de transição civilizacional, como o fim do Império Romano. A Europa tem uma doença incurável e está em estado terminal. Não tem mais nada a oferecer. Antes de sofrer com a crise econômica, a Europa sofre uma crise de identidade. A eleição de um Papa não europeu após 1200 anos é sintomático. Nunca a expressão Velho Continente fez tanto sentido.


A Europa colhe o que plantou. Não só a Europa, mas todo o Ocidente. A cultura pós-moderna, fluída, relativista, jogou o ser humano na incerteza e no niilismo. Pensou que o Estado de bem-estar social, o materialismo, poderia suprir todas as necessidades do homem, inclusive as existenciais. O ser humano precisa de um ideal, precisa de um sentido para a vida. Sentido este que a cultura ocidental vem destruindo sistematicamente. "Nem só de pão vive o homem..." Não é surpreendente ver milhares de jovens europeus se alistando nas fileiras do Estado Islâmico. Eles não procuram o terrorismo. Procuram um sentido para a vida. E como a civilização ocidental foi á pique, ficamos na superfície de um mar tenebroso e violento, que joga-nos de um lado a outro e qualquer coisa que passe boiando ao nosso lado serve de tábua de salvação, ainda que seja a violência injustificada do terrorismo. Mas não só. Há outros radicalismos dos grupelhos politicamente corretos que atrai muita gente e demostra tanta irracionalidade quanto ao do EI.


Quando vivemos em plena ditadura do relativismo, onde é abolida a verdade absoluta e a consciência individual passa a ser a instância suprema do bem e do mal, há aqueles que encontram legitimidade em debochar da religião e em defender sua fé matando quem a ofende. Parece um paradoxo, mas ambos estão do mesmo lado, porque a ditadura do relativismo, como não podia ser diferente, não é totalitária, nem abrange o corpo todo da sociedade. É composta por indivíduos que se agrupam em torno de uma causa comum. Não defende a tolerância geral, mas a tolerância para si, para seu grupo e para aquilo que defende. Se puder, impõe seus ideais aos restantes. Os islâmicos, radicais ou não, marcham de braços dados na Europa com feministas e grupos gays. Servem-se do estatuto de minorias. Após o ataque ao Charlie Hebdo o que mais se ouve é um apelo contra a islamofobia, que, como a maioria das "fobias", é um mito criado para vitimizar a minoria muçulmana na Europa. Uma sociedade relativista, onde as ideologias, algumas estapafúrdias, pululam livremente, é um convite ao totalitarismo. Basta alguma delas se sobressair, rompendo o equilíbrio de tolerância. Não é à toa - e por mais estranho que possa parecer - que o marxismo e o nazifascismo se consideravam herdeiros da Revolução Francesa.

Para concluir, é ótimo que lideranças influentes do Islã condenem ataques terroristas cometidos por extremistas muçulmanos. Agora, dizer que o Islã, histórica e tradicionalmente, é uma religião de paz é brincadeira. É querer distorcer a História. O islã se expandiu à base da espada. Apenas cem anos após a morte de Maomé, a religião islâmica se estendia do Irã à Espanha. E não foi por força de seus missionários, mas de seus guerreiros, "daqueles que migram", como diz o Alcorão. Tentou avançar pela Europa e sua marcha foi detida já no centro da França, graças a Providência divina, por Carlos Martel. Mais tarde, outros muçulmanos, agora turcos, avançaram até o centro da Europa entre os séculos XV e XVII. A cultura árabe-muçulmana deixou muitas contribuições positivas para a humanidade e, particularmente para a civilização ocidental. Mas reescrever a História não dá.





23 de dez. de 2014

Especial de Natal: Rodrigo Faro na Terra Santa e um exemplo de anistoricidade dos evangélicos

Um dos grandes problemas dos protestantes e evangélicos em geral, que tende a piorar com os pentecostais, é sua anistoricidade. É fácil compreender, já que qualquer igreja protestante, evangélica, pentecostal, neopentecostal que se investigue a História, do presente para o passado, vai acabar numa ruptura. E os membros de quaisquer destas igrejas considerarão SUA História somente a partir da ruptura. Os protestantismos são feitos de rupturas sem fim. Um dia, debatendo com um evangélico, citei algo que Lutero tinha dito que contrariava o que ele pensava. Ele respondeu pura e simplesmente: "Não sou luterano"; e ele estava certo. Para ele, assim como para a maioria dos evangélicos, a História do cristianismo pula do século I para a fundação de sua igreja, independentemente do século - ou da década - e por quem tenha sido fundada. Alguns são tão radicalmente anistóricos que resvalam no gnosticismo. Bom, não fosse anistóricos, os evangélicos seriam católicos hehehe

Ontem eu assisti ao especial de Natal do Rodrigo Faro na Terra Santa. No geral, foi legal, mas o coitado teve que se ajustar ás diretrizes da IURD e aí algumas coisas ficaram a desejar. Foi um exemplo de anistoricidade. Os locais sagrados, como sabemos, são marcados na Terra Santa com uma igreja, seja católica, seja ortodoxa. Nenhuma foi mostrada. O Faro mostrou umas ruínas de casas em Nazaré (que estão no pátio da Basílica da Anunciação) e disse que a casa de Jesus era parecida. Se tivesse entrado na Basílica, teria podido mostrar parte da casa verdadeira de Jesus (a parte principal foi transportada pelos anjos para Loreto, Itália). Poderia ter andado mais um pouquinho e entrado na igreja de São José e mostrado a oficina onde o pai adotivo de Jesus e Ele próprio trabalharam. Faro foi a Cafarnaum, mostrou a sinagoga e as ruínas da casa de Pedro. O câmera, coitado, teve que fazer malabarismo para não mostrar a igreja construída sobre a casa. Foi a Caná da Galileia, entrou na igreja, mas não mostraram a igreja. Eu sei que entrou porque mostrou o subsolo, onde está a antiga sinagoga e há uma talha como a usada no milagre do vinho.

Em Jerusalém, Rodrigo Faro parou ao lado do pátio da igreja de São Pedro in Gallicantu, na beira da escadaria do Monte Sião. Disse que as ruínas que estavam sendo mostradas, eram da casa de Caifás. Não eram não. A casa de Caifás estava nas suas costas, sob a igreja do Gallicantu. Tivesse entrado na igreja, descido uma escadinha em espiral no canto esquerdo de quem entra e tinha ido direto para as ruínas da casa de Caifás, e poderia ter mostrado onde Jesus ficou preso na noite de quinta para sexta-feira. Em seguida, foi para a Via Dolorosa. Só Deus sabe quem disse para ele que uns corredores que ele mostrou fizeram parte da Fortaleza Antônia. Da fortaleza não existe mais nada, só um lajeado. Faro seguiu pela Via Dolorosa, mostrou umas estações, mas nenhuma capelinha que marca algumas delas. Comentou até aquelas estações que não são referidas nos evangelhos, mas são parte da tradição (as quedas de Jesus, o encontro com Nossa Senhora e com Verônica). Essa passou pela censura dos pastores.

A Via Dolorosa, como sabemos, termina na Basílica do Santo Sepulcro. Mas, neste momento, Faro se desviou - e muito! - da rota e acabou no Jardim de Gordon. O local conta com um rochedo, um jardim e um túmulo vazio que um oficial britânico, Gordon, no século XIX, encafifou ser o calvário, porque o rochedo lhe parecia uma caveira e aquele ser o verdadeiro túmulo de Jesus, tão somente porque estava vazio. Hoje sabemos pela arqueologia que o túmulo é do período bizantino e que tinha sido usado para vários sepultamentos. É um exemplo claro de desconsideração dos grandes trabalhos arqueológicos e a vasta documentação histórica que apontam com grande probabilidade para o Santo Sepulcro como o local da ressurreição, porém grande parte dos evangélicos defendem que ali, o Jardim de Gordon, é o verdadeiro local da ressurreição de Jesus. Coitado do Faro embarcou nessa e teve que mostrar uma mentira a seus telespectadores.



16 de dez. de 2014

Que mulher merece ser estuprada, Bolsonaro?

Que mulher merece ser estuprada? Nenhuma. Seja ela mãe, virgem, prostituta, criminosa, bonita, feia, deputada, jornalista, de esquerda ou de direita. É uma violência absurda que devasta, humilha e traumatiza as vítimas. O estupro é um dos piores crimes que existe. O estuprador deveria ser punido com a pena de morte. Além de crime sexual, o estupro foi e é usado desgraçadamente como instrumento de tortura e de vingança porque todos sabem o mal que causa.

Ninguém merece ser estuprada. Nem que o estuprador seja bonitão (faço menção a uma postagem que rodou pelo Facebook, uma brincadeira de muito mal gosto). Ou ser violada no que há de mais íntimo, ser tratada como uma coisa ou dominada como um animal é atenuado pelo fato de o agressor ser bonito? Deve haver quem goste destas coisas, há gosto para tudo. Mas há algumas mulheres - aquelas que deveriam ser as principais interessadas em tratar o assunto com a seriedade e gravidade que merece - que tratam o assunto com tanta imbecilidade quanto o Bolsonaro.

Bolsonaro é um daqueles parlamentares ricos em imbecilidade que abundam no Congresso Nacional. Seus inimigos políticos ficam na espreita para caçá-lo e cassá-lo e ele dá motivos para isso a cada cinco minutos. É um estuprador? Claro que não. Incita o crime? Claro que não. Ninguém sairá estuprando mulheres porque o Bolsonaro disse que há quem mereça (tanto porque se fossemos abrir denúncia de incitadores de crimes no Congresso o que seria dos apologistas do aborto e das drogas).

Sabemos que Bolsonaro abusa da retórica, mas argumentos deste nível não podem ser usados num debate, muito menos num debate político. É desonesto. Se é suficiente para considerar quebra de decoro, não sei. Mas que é uma imbecilidade, é.



8 de dez. de 2014

"Perdoar é divino. Só Deus perdoa"

Quantas vezes já ouvimos esta frase dita pelas pessoas, principalmente quando necessitam perdoar ou quando alguém que as tenha ofendido lhes pede perdão. Mas não foi isso que Jesus ensinou: na oração do Pai-Nosso, pedimos para que Deus perdoe nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam. Após ensinar o Pai-Nosso, Jesus enfatiza que o perdão de Deus é condicionado ao perdão que damos ao nosso próximo: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará" (Mt. 6, 14-15). Não podemos fazer uma oração mentirosa diante de Deus.

Com a mesma medida que medimos nossos irmãos seremos medidos por Deus. Jesus exige de nós um verdadeiro ato de heroísmo quando nos manda perdoar nossos inimigos, pessoas que muitas vezes nos ofenderam ou nos prejudicaram enormemente. Por mais grave que tenha sido o pecado cometido contra nós - e há gravíssimos - não temos o luxo de não perdoar, desde que acreditemos em Deus e constantemente peçamos o Seu perdão. Jesus nos conta a parábola daquele servo que devia - tragamos para os dias atuais - um trilhão de dólares para seu senhor. Sem poder pagar, o servo lançou-se aos pés do senhor e implorou o perdão. Cheio de compaixão, o senhor perdoou-lhe toda a dívida. Saindo da presença de seu senhor, o servo encontrou um colega que lhe devia 100 reais. Pegou este pela garganta e ameaçou mandar prendê-lo se não pagasse. Quando o senhor ficou sabendo da atitude do servo, mandou chamá-lo e revogou o perdão da dívida, lançando-o na prisão. E Jesus termina a parábola novamente com a ressalva: "Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração" (Mt. 18, 35).

A lição da parábola é clara. O senhor é Deus. Os devedores somos todos nós. Cada pecado que cometemos é uma ofensa irreparável a Deus. Nada podemos fazer para quitá-lo, dependemos exclusivamente da misericórdia do Senhor. Todavia, os pecados dos nossos irmãos - tão imperfeitos e pecadores quanto nós - temos sérias dificuldades em perdoar, neste mundo onde tudo passa. Diz o Eclesiástico (28, 4-5): "Não tem misericórdia para com o seu semelhante, e roga o perdão dos seus pecados! Ele, que é apenas carne, guarda rancor, e pede a Deus que lhe seja propício! Quem, então, lhe conseguirá o perdão de seus pecados?" E o perdão que devemos ao próximo é infinito. Quando Pedro pergunta a Jesus quantas vezes deve perdoar, se até sete vezes (imaginando que sete vezes já seria uma boa quantia de vezes), Jesus lhe responde que deve perdoar 70 vezes 7, por dia.

Jesus nos diz que quando estivermos para levar nossa oferta ao altar - quando estamos na Santa Missa, onde ofertamos nossas vidas para se unir ao sacrifício de Jesus - devemos, antes, perdoar de todo o coração se temos algo contra alguém. Senão, a oferta de nada vale.

Há quem objete dizendo que Deus perdoa porque é perfeito e impassível. Esta objeção - e acusação, por que não - não faz sentido depois que Deus se fez homem em Nosso Senhor Jesus Cristo. Como disse acima, nossos pecados são irreparáveis. Somente Jesus, o homem perfeito podia repará-lo. Somente unindo em Sua Pessoa Deus e o homem é que o pecado podia ser tirado do mundo. Jesus conquistou o perdão de nossos pecados morrendo na cruz. Sendo santíssimo, tomou sobre si nossos pecados para aplacar a justiça de Deus. Cristo morreu por nós, pecadores. Sofreu todas as dores e humilhações em sua gloriosa Paixão e morte. O próprio Deus sofreu toda a consequência do pecado na própria carne e, do alto da cruz, perdoou a todos que faziam-no sofrer. Não mais podemos acusar a Deus de estar no alto do céu, em seu trono inatingível, exigindo de nós, míseras criaturas cheias de defeitos, que perdoemos nossos ofensores. Deus nos dá, agora, Seu Espírito para que tenhamos força para perdoar qualquer pecado cometido contra nós. Os mártires dão provas da graça de Deus agindo, quando morrem perdoando seus algozes.

Perdoar não é fácil, nós sabemos. Perdoar não é esquecer a ofensa, nem atenuá-la, nem ser conivente a injustiça. É limpar a alma do ressentimento e do ódio, despojarmo-nos de todo orgulho. É sermos "perfeitos como o Pai celeste é perfeito". É imitarmos o nosso Mestre e Senhor, Jesus Cristo. Muitas vezes sofremos danos irreparáveis, ofensas gravíssimas, que nos machucam profundamente. Mas, para nós que cremos em Deus e em Jesus Cristo, sabemos que somos fracos e que por nós mesmos nada podemos e que tudo é graça. Se temos algo contra o próximo, devemos pedir ao Pai de misericórdia para que nos conceda a graça de perdoar e que sejamos humildes e corajosos para pedirmos e darmos o perdão a nossos irmãos.




6 de dez. de 2014

As imbecilidades de Jean Wyllys nas redes sociais e seu papel de vítima

Vi, outro dia, uma postagem do deputado Jean Wyllys onde ele dizia que está sendo ofendido nas redes sociais, sendo xingado e caluniado e que ia tomar as devidas providências. Interessante posicionamento para quem atira para todos os lados nas mesmas redes sociais. Para quem acompanha um pouco do que o deputado posta na rede, fora as imbecilidades a la Marco Feliciano, percebe que o ex-BBB parlamentar é extremamente desrespeitoso com todos aqueles que discordam de sua visão de mundo: ofende, xinga, calunia. Esquece-se até mesmo do decoro que seu cargo exige. Suas postagens sobre o Papa Bento XVI, por exemplo, eram totalmente caluniosas (e sobre os evangélicos também). Chamava-o de nazista, genocida em potencial (o que, em tese, todos somos), etc. 

A esquerda reserva para si o direito de agredir. O vitimismo faz parte do pensamento de esquerda desde quando esta surgiu, na Revolução Francesa. Em nome da revolução, do progresso, vale tudo. Os revolucionários, especialmente sobre a liderança de Robespierre, guilhotinaram 32 pessoas diariamente, durante um ano e meio. Todavia, tal brutalidade era em nome do progresso. O comunismo causou a morte de 100 milhões de pessoas, porém tudo foi justificado por um pretenso bem do povo. O historiador marxista Hobsbawm disse que a morte destas 100 milhões de pessoas tinha valido a pena. Ou seja, os extermínios em massa, os laogai's, os gulag's, os deslocamentos forçados de imensa massa populacional, as fomes artificiais, os paredões de fuzilamento, tudo isto vale a pena para melhorar a vida das pessoas, o que, de resto, nem isto aconteceu. O deputado, em menor escala, age assim. Se agride, se ofende, é devido a necessidade de remover obstáculos que impedem o progresso e que devem ser retirados a qualquer custo. É um revolucionário. Se é ofendido, é vítima daqueles reacionários que querem manter o status quo. É violência. Muito típico.



16 de nov. de 2014

Impeachment de Dilma e o impeachment do Collor

Não se iludam acreditando que foram os caras-pintadas os protagonistas da queda do Collor. Isto é um mito. Collor caiu quando começou a promover a abertura econômica do país, descontentando os empresários que viviam mamando há anos no estatismo dos militares e se viram ameaçados pela concorrência dos produtos importados melhores e mais baratos. Os grupelhos de esquerda e parte da imprensa também viram nele o monstro neoliberal e comandaram os caras-pintadas e direcionaram a opinião pública. Em resumo, o que derrubou o Collor não foram as denúncias de corrupção (que perto dos escândalos dos governos petistas é brincadeira de criança). Foi o Consenso de Washington.

O PT jamais chegaria ao poder se tivesse continuado a combater o grande capital nacional. Foi preciso estabelecer esta relação promíscua com os grandes empresários e empreiteiros do país que foi demonstrada, ontem, na nova fase da Operação Lava Jato da PF. É o poder econômico do grande capital que mantém o PT no poder. O resto é retórica do Lula. Aliás, o PT segue a estratégia da Nova Esquerda mundial que não combate o capitalismo de frente, mas alia-se com os metacapitalistas para garantir interesses escusos. Burro é o PSOL.




13 de nov. de 2014

Livro O Colecionador de Lágrimas, de Augusto Cury: crítica de um leitor que gostou do livro

Provavelmente você não vai ler nem o livro, muito menos a pequena crítica que escrevi sobre ele. Caso for ler ambos, aviso que este artigo contém spoilers.

Acabei de ler o primeiro volume do livro O Colecionador de Lágrimas, de Augusto Cury. O autor é conhecidíssimo, vende livro que nem água, mas eu nunca tinha lido um livro dele. Apesar de não vir a tornar-se um clássico da literatura (longe disso), ter algumas passagens que pretendem ser profundas, mas beiram a cafonice e uma linguagem e uma narração um tanto de literatura juvenil, eu gostei do livro. É bom, prende a atenção.

Através do livro podemos conhecer um pouco o perfil psicológico de Hitler, seu modo de agir e da história do nazismo. O livro narra a vida de um psicólogo que se tornou professor de História e especializado no nazismo e na Segunda Guerra. Torna-se um grande intelectual. Passa a ter pesadelos realísticos vivenciando cenas de atrocidades cometidas pelos nazistas. Os fatos dos pesadelos tornam-se reais e ele passa a ser perseguido por nazistas, até que um grupo de cientistas e militares alemães o convidam para participar de uma experiência: viajar no tempo e mudar o rumo da História.

Particularmente, encontrei alguns furos na interpretação que o autor faz da história de Hitler e do nazismo. Por exemplo, Augusto Cury endossa o senso comum de que Hitler conquistou a Alemanha exclusivamente através da manipulação de massas e que suas ideias ganharam espaço por força da conjuntura socioeconômica que a Alemanha vivia. Esses foram elementos que contribuíram para a ascensão de Hitler, mas não foram os únicos. Parece que o autor tende excessivamente para o materialismo histórico, desconsidera o clima antissemita da Europa no século XIX e primeiras décadas do XX. Não leva em conta que a sociedade alemã respirava a filosofia do século XIX impregnada de ideias que embasaram o nazismo. Enfim, faltou um pouco de Hannah Arendt, que, de fato, não aparece nas referências bibliográficas no fim do livro.

O personagem levanta vários pontos da História que, se mudados, poderiam evitar as atrocidades do nazismo, sem que fosse preciso eliminar fisicamente a Hitler. Um deles é convencer a Polônia a entregar Danzig. O autor está convencido de que a entrega da cidade polonesa que divide a Prússia, poderia evitar a invasão da Polônia e, consequentemente, a guerra. Ledo engano. O autor não leva em conta o pangermanismo, nem as pretensões expansionistas de Hitler para alcançar o “espaço vital” para os alemães. Além disso, Hitler já tinha anexado a Áustria e os Sudetos (na Tchecoslováquia) com a anuência das grandes potências europeias, sem que isto tivesse aplacado sua sede expansionista.

Outro ponto. Cury cita o apoio de igrejas alemãs a Hitler. É verdade, infelizmente. Foi criada a Igreja do Reich formada pela maioria das igrejas protestantes. Em oposição, protestantes contrários ao nazismo criaram a Igreja Confessante. Vale fazer justiça ao episcopado católico, que em conjunto abominava o nazismo e o clero possuía poucos admiradores do regime. Mas o autor foca-se apenas nos cristãos, generaliza, e esquece-se de citar o apoio explícito de Amin al-Husseini, o Grão-Mufti de Jerusalém, ao regime de Hitler.

Para terminar, há um trecho do livro em que um dos cientistas que faz parte do projeto de viagem no tempo mostra ao professor vários artigos de civilizações antigas coletados por um comerciante que viajou no tempo por diversas épocas e povos. Diz que foram realizados testes de carbono 14 e ficou comprovada a antiguidade das peças. Aqui comete-se um equívoco (ainda que seja uma ficção): se os artigos foram trazidos diretamente da Antiguidade, não poderiam ser datados por testes de carbono 14, já que o carbono se deteriora lentamente e é o nível de deterioração que possibilita sua datação. Os artigos não “envelheceram” e, portanto, as taxas de carbono 14 teriam que ser exatamente as mesmas do período que foram fabricados. Além disso, o teste de carbono 14 só pode ser realizado em materiais orgânicos, como tecidos, por exemplo.



28 de out. de 2014

Eleições 2014: uma análise histórica da formação política do nordeste e do sudeste, suas diferenças básicas e o resultado nas urnas

Hostilizar os nordestinos pela eleição da Dilma é cair no odiendo discurso da divisão proposto pelo PT. Para compreender a cultura política do Nordeste faço uma análise histórica. As duas regiões mais antigas do Brasil, sudeste e nordeste, se desenvolveram separadas. Eram duas regiões distintas, isoladas, sem comunicação terrestre até o século XIX. Foram constituídos basicamente dois brasis. 

No Nordeste, predominou o latifúndio e a monocultura da cana-de-açúcar. Os latifúndios nordestinos, em extensão e na economia, eram verdadeiros feudos. Os senhores de engenho - mais tarde, os coronéis - tinham sob seus domínios territórios enormes (para se ter uma ideia, o território do estado da Paraíba era dividido por apenas três famílias até meados do século XX) e homens. Pela própria natureza deste sistema altamente privatista e antidemocrático, o clientelismo se instala. 

Com advento da república e a universalização do voto, os coronéis precisavam "conquistar" seu eleitorado e a maneira mais simples era continuar e aprofundar a prática do clientelismo, que, em bom português, é o "toma-lá-dá-cá", é a troca de favores. Vota-se naquele de quem se pode obter uma vantagem pessoal. Ferreira Gullar diz que o clientelismo era uma esperteza do pobre sem oportunidade. Mais que vítima, ele é cúmplice. 

Esta é, geral e basicamente, a cultura política do Nordeste. Por isso não surpreende que os beneficiados por programas sociais votem em massa naquele que o proporciona. Para o homem e a mulher simples acostumados com este sistema, não há a percepção de que os programas são de Estado ou de governo, mas de relações interpessoais. Exemplificando: a Dilma é a "coronela" e os beneficiados dos programas sociais, os clientes. Eles votam nela. Ela lhes dá algo em troca. 

Por sua vez, no princípio da colonização do sudeste também foi implantada uma economia latifundiária, mas a rápida expansão para o interior promovido pelos bandeirantes e jesuítas desmantelou o território em menores unidades, impossibilitando o domínio de estilo feudal; surgiram cidades livres do domínio de grandes proprietários; a descoberta de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais e no Centro-Oeste estimulou uma rota de comércio do Rio Grande a Minas, o que criou uma porção da sociedade cuja riqueza não dependia da terra. Em Minas, Rio de São Paulo, o ideário liberal de matriz europeia se expande nas classes dos comerciantes e profissionais liberais.

Os latifúndios só começaram a ter força a partir do século XIX com a cultura do café, porém dois fatores fizeram com que o clientelismo tivesse menor impacto: a escravidão e a imigração. A república surge - e com ela a necessidade do voto das camadas baixas da sociedade - quando a imigração europeia já alcança o auge na região sudeste. Os imigrantes trazem novas ideias, influenciados mais ou menos pelos conceitos de democracia e igualdade social da Europa. Possuem tradição e cultura política forjadas por séculos. Seus pais foram servos nos campos europeus, eles não serão nos do Brasil. Muitos deles, rapidamente passam da condição de empregados a senhores. Preferem as associações de ajuda mútua a depender de particulares e do Estado. 

Em resumo e generalizando, o Nordeste - pelo menos o Nordeste "profundo" - tradicional e historicamente possui menos afeição à democracia e ao espírito público e do bem comum. O Sudeste, por sua vez, é política e economicamente mais liberal e, consequentemente, mais democrático.





6 de out. de 2014

A tolerância dos intolerantes: as ciências, Galileu Galilei, Levy Fidelix e o patrulhamento ideológico dos gays

Coloquei esta foto que tirei do sepulcro de Galileu Galilei, na Basílica da Santa Cruz, em Florença, para ilustrar uma pequena e imperfeita comparação. A comparação a seguir é quase incabível porque os elementos a ser comparados distam em grandeza e respeito como o céu da terra. Vamos a ela. 

Galileu é lembrado como o cientista injustiçado condenado pela Igreja obscurantista e anticientífica. Galileu defendeu o modelo heliocêntrico, não conseguiu provas científicas cabais para embasar sua teoria e tentou usar a teologia e a Bíblia para isso. Acabou condenado pelo Santo Ofício. Hoje sabemos que Galileu estava certo. Hoje. Suas teorias foram empiricamente comprovadas no século XIX. Mesmo assim a Igreja é acusada até hoje de não ter aceitado o óbvio, fatos científicos concretos. 

Aí chega o século XXI, alguém diz que duas pessoas do mesmo sexo não podem gerar filhos e que o ânus não faz parte do aparelho reprodutor. Alguma objeção do mais ignorante dos biólogos? Mas grupos ficam indignados, organizam-se protestos, querem cassá-lo, querem processá-lo e há quem defenda sua prisão. E estes são a vanguarda, os ditos progressistas.




11 de set. de 2014

O racismo sofrido pelo goleiro Aranha e a tentativa imbecil de transformar o caso numa disputa ideológica entre direita e esquerda

Venho observando as reações sobre o caso de racismo envolvendo o goleiro Aranha. Não dei palpite (bastante irrelevante e sem repercussão como tudo o que escrevo aqui) sobre o caso. Mas vamos lá. O racismo é algo terrível, injusto, incompreensível, irracional e anticristão. Não é um crime menor. Não é justificável. É desproporcional o tratamento dado pela população à moça que o xingou de macaco? Sim. Aqueles que a ofenderam profundamente descem ao mesmo nível dela. Num país regido por leis, não deve existir linchamentos físicos ou morais. É desmedida a punição ao Grêmio? Não sei. O que sei é que o racismo grassa no futebol sem vermos nenhuma ou quase nenhuma punição exemplar.

Há muitos preconceituosos de todos os matizes que usam o discurso contrário ao patrulhamento politicamente correto para disseminar seus preconceitos. Há quem esconda por trás de um "defensor da família", um homofóbico puro (sim, eles existem). Assim, muitos racistas enrustidos saíram da casinha usando o caso para denunciar a luta de classes insuflada na sociedade. Como anda costumeiro no Brasil nos últimos anos (graças, diga-se, a certa instigação governamental) todo assunto que surge no país, da merda à bomba atômica, transforma-se numa batalha da Guerra Fria. Abandonemos este maniqueísmo Direita-Esquerda. Há quem careça de uma leitura do pensador católico Gustavo Corção para entender algumas coisas.

Interessante é a tentativa de transformar a vítima em algoz. O Aranha disse em entrevista que perdoa a gaúcha, mas recusa a encontrar-se com ela para uma reconciliação em rede nacional. Negou fazer parte desta teatralização promovida pelo advogado da moça e disse que ela deve ser punida pela justiça. Fez bem. Mas bastou para ser acusado de insensível, de desalmado, de rancoroso. E mais uma vez, atos de racismo são tratados como crimes menores.

Vi coisas absurdas e imbecis, como um texto do Danilo Gentili compartilhado pela "direita". O texto do Danilo não é especificamente sobre o caso do Aranha, mas diz que a todo o momento ele é zoado por causa da cor da pele dele. Por ser muito branco é chamado de palmito o tempo todo e que ninguém se importa tanto quanto se ofendessem um negro pela cor da pele. Argumento fraco. Não cabe a comparação. Não foram os africanos que impuseram sobre si mesmos o "fardo do homem negro" e saíram colonizando e pondo sob sua tutela povos que consideravam inferiores; não foram os negros que criaram uma hierarquia racial pretensamente científica; não foram os negros que tentaram produzir uma raça pura; não foram os brancos que carregaram o estigma da escravidão contemporânea justificada por aspectos raciais.

A torcedora gremista sofre da Síndrome do Vanderney. Para quem não se lembra, Vanderney era um personagem do Casseta e Planeta que vivia na sauna gay abraçado com um peludão, mas afirmava categoricamente que não era gay. Ela afirma que não é racista, mas ofendeu um negro naquilo que mais dói, na dignidade humana. Não é coisa do calor do jogo. Ela e os demais envolvidos no caso devem ser punidos conforme o rigor da lei. Não cabe a bobagem de comparar o Zé Genoino fora da cadeia e a moça correndo o risco de ir para lá. Não é simples ofensa verbal. Não é um xingamento qualquer. Chamar um negro de macaco significa menosprezá-lo em sua humanidade, considerá-lo um passo atrás na linha evolutiva, um semi-humano. É racismo puro e clássico.