Hostilizar os nordestinos pela eleição da Dilma é cair no odiendo discurso da divisão proposto pelo PT. Para compreender a cultura política do Nordeste faço uma análise histórica. As duas regiões mais antigas do Brasil, sudeste e nordeste, se desenvolveram separadas. Eram duas regiões distintas, isoladas, sem comunicação terrestre até o século XIX. Foram constituídos basicamente dois brasis.
No Nordeste, predominou o latifúndio e a monocultura da cana-de-açúcar. Os latifúndios nordestinos, em extensão e na economia, eram verdadeiros feudos. Os senhores de engenho - mais tarde, os coronéis - tinham sob seus domínios territórios enormes (para se ter uma ideia, o território do estado da Paraíba era dividido por apenas três famílias até meados do século XX) e homens. Pela própria natureza deste sistema altamente privatista e antidemocrático, o clientelismo se instala.
Com advento da república e a universalização do voto, os coronéis precisavam "conquistar" seu eleitorado e a maneira mais simples era continuar e aprofundar a prática do clientelismo, que, em bom português, é o "toma-lá-dá-cá", é a troca de favores. Vota-se naquele de quem se pode obter uma vantagem pessoal. Ferreira Gullar diz que o clientelismo era uma esperteza do pobre sem oportunidade. Mais que vítima, ele é cúmplice.
Esta é, geral e basicamente, a cultura política do Nordeste. Por isso não surpreende que os beneficiados por programas sociais votem em massa naquele que o proporciona. Para o homem e a mulher simples acostumados com este sistema, não há a percepção de que os programas são de Estado ou de governo, mas de relações interpessoais. Exemplificando: a Dilma é a "coronela" e os beneficiados dos programas sociais, os clientes. Eles votam nela. Ela lhes dá algo em troca.
Por sua vez, no princípio da colonização do sudeste também foi implantada uma economia latifundiária, mas a rápida expansão para o interior promovido pelos bandeirantes e jesuítas desmantelou o território em menores unidades, impossibilitando o domínio de estilo feudal; surgiram cidades livres do domínio de grandes proprietários; a descoberta de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais e no Centro-Oeste estimulou uma rota de comércio do Rio Grande a Minas, o que criou uma porção da sociedade cuja riqueza não dependia da terra. Em Minas, Rio de São Paulo, o ideário liberal de matriz europeia se expande nas classes dos comerciantes e profissionais liberais.
Os latifúndios só começaram a ter força a partir do século XIX com a cultura do café, porém dois fatores fizeram com que o clientelismo tivesse menor impacto: a escravidão e a imigração. A república surge - e com ela a necessidade do voto das camadas baixas da sociedade - quando a imigração europeia já alcança o auge na região sudeste. Os imigrantes trazem novas ideias, influenciados mais ou menos pelos conceitos de democracia e igualdade social da Europa. Possuem tradição e cultura política forjadas por séculos. Seus pais foram servos nos campos europeus, eles não serão nos do Brasil. Muitos deles, rapidamente passam da condição de empregados a senhores. Preferem as associações de ajuda mútua a depender de particulares e do Estado.
Em resumo e generalizando, o Nordeste - pelo menos o Nordeste "profundo" - tradicional e historicamente possui menos afeição à democracia e ao espírito público e do bem comum. O Sudeste, por sua vez, é política e economicamente mais liberal e, consequentemente, mais democrático.
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