28 de mar. de 2014

50 anos do Golpe civil-militar de 1964: pequenas verdades

Muita coisa tem sido dita do Golpe civil-militar de 1964. Não vou escrever um texto sobre isso, tanto porque muita gente infinitamente mais competente do que eu, tem escrito. Só vou colocar alguns pontos:

- Havia, sim, naquela época, um verdadeiro perigo comunista. Não era propaganda dos militares para tomar o poder.

- O Brasil já tinha passado por uma tentativa de golpe, em 1935, que ficou conhecida como Intentona Comunista e só fracassou pela incompetência de seu organizador, Luis Carlos Prestes. Lembrando que vivia-se em plena Guerra Fria e que revoluções comunistas aconteciam em vários países (China, 1949; Cuba, 1959). Nenhuma delas era democrática.

- Havia, sim, a tentativa de organizar a luta armada no Brasil antes de 1964. Leonel Brizola, cunhado de João Goulart, era o principal articulador.

- João Goulart, sem apoio do Congresso, resolveu governar "com as massas". Propôs as reformas de base que dependeriam de mudanças constitucionais. Foram rejeitadas pelo Congresso, mas Goulart insistiu, insuflando a população.

- "Já temos o poder, basta-nos apenas tomar o governo", disse Luis Carlos Prestes, secretário-geral do PCB e aliado do presidente.

- O Brasil estava afundado na insegurança, destruído economicamente e altamente dividido, à beira de uma guerra civil.

- Entre todos os setores da sociedade civil, apenas os sindicatos apoiavam João Goulart.

- Os militares intervieram em 31 de março de 1964 com amplo apoio da população civil. Com isso, não cometeram nenhuma ilegalidade, como costuma-se afirmar. A Carta Magna de 1946 legava às Forças Armadas a defesa da Constituição, que de fato, estava em perigo pelas propostas de reforma constitucional feitas por Jango.

- João Goulart foi cassado pelo Congresso, não pelos militares. A grande maioria dos políticos (por exemplo: Ulysses Guimarães, Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek) aderiram imediatamente - ou logo em seguida - ao novo regime. 

- É mentira quando se afirma que as diversas correntes da esquerda brasileira, desde os moderados até os que ingressaram na luta armada, lutavam pelo retorno da democracia. De fato pretendiam implantar uma ditadura comunista no Brasil, nos moldes de Cuba, China ou URSS. Considerando que algumas destas ditaduras perduram até hoje, podemos considerar que o golpe de 1964 salvou a democracia.

- Uma coisa é o golpe civil-militar de 1964. Outra é a ditadura vinda em seguida. Uma coisa são os usos. Outra, os abusos.




25 de mar. de 2014

Igreja católica, a astronomia e o preconceito e desconhecimento que ainda perduram em nosso tempo

No último domingo (23/04/2014), estava assistindo ao Canal Livre, na Band, as entrevistas com os doutores em astronomia Douglas Galante e Sylvio Ferraz-Mello, cujo tema central era a investigação de existência de vida fora da Terra. Gosto muito do programa, apesar de uns foras que é dado por lá, principalmente pelo Fernando Mitre, que pensa saber tudo. Bom, num dado momento, foi mencionado o fato de o Observatório Astronômico do Vaticano estar participando das buscas de vida fora da Terra e entrou uma participação do padre Juarez falando sobre a relação entre fé e ciência, sobretudo entre a Igreja católica e a astronomia. Aí vieram os "foras". Ficou patente a desinformação dos participantes sobre o tema. O doutor Douglas Galante disse que conheceu os astrônomos do Observatório do Vaticano (em sua maioria jesuítas, diga-se) e que eles fazem ciência como quaisquer outros cientistas (ah, vá!). Foi perguntado que descobertas o Observatório do Vaticano tinha feito até hoje, ou seja, se tinha feito algum trabalho relevante. Todos disseram desconhecer. Bom, bastaria que se lembrassem de algo corriqueiro: a data daquele dia para notarem a maior contribuição do Observatório Astronômico do Vaticano: o nosso atual calendário. Em 1582, o Papa Gregório XIII ordenou que a equipe do Observatório Vaticano (um dos mais antigos da era moderna), preparassem a reforma do calendário. E isto não se dá sem sérias observações astronômicas e cálculos precisos. 

Bóris Casoy, depois que o padre Juarez disse que a Igreja sempre apoiou a astronomia, disse que não era bem assim e que muitos "astrônomos" foram queimados pela Igreja (que desinformado! Isto é uma vergonha!). Quais? Ninguém citou nenhum e nem eu os conheço. O cardeal Pedro d'Ailly (1350-1420) defendeu o movimento de rotação da Terra; o cardeal Nicolau de Cusa (1401-1464) e Copérnico defenderam o heliocentrismo sem serem molestados por isso. Galileu não foi queimado e os próprios participantes do programa reconheceram que seu processo foi complexo e que as acusações que mais pesaram não foram exatamente sobre as discussões em torno do heliocentrismo. Giordano Bruno (1548-1600) também foi citado e Mitre lembrou (desta vez ele deu uma bola dentro) que o filósofo de Nola viajava na maionese em inúmeras heresias e que não foi condenado à fogueira por suas pesquisas astronômicas. De fato, elas nem mesmo existiram. Na verdade, Giordano Bruno acreditava que o universo era infinito (se não o próprio Deus) e que nele havia vários mundos habitados e tantos deuses quanto mundos.

A Igreja não só não se opôs as pesquisas astronômicas como as encorajou e as financiou. Os participantes do programa também desconhecem que, quando os jesuítas astrônomos do Colégio Romano souberam que Johannes Kepler (1571-1630) estava sem um telescópio, enviaram-no um. Desconhecem nomes como o dos irmãos Antonio e Luigi Lilio e do padre Christopher Clavius (1538-1612) que compuseram a equipe que reformou o calendário; do grande  padre Angelo Secchi (1818-1878), diretor do Observatório Vaticano, e de suas descobertas - entre muitas outras descobertas e invenções - sobre o sol. Também desconhecem certamente o padre Georges Lemaître (1894-1966), que descobriu a expansão do universo e propôs, pela primeira vez, a teoria do Big Bang. Por fim, para se ter uma vaga ideia sobre a importância da Igreja católica para a astronomia, basta dá uma espiadela num mapa lunar e conferir o tanto de nome de jesuítas (entre outros cientistas, padres ou não, ligados à Igreja) que batiza as crateras de lá. É uma pena que ainda haja tanto desconhecimento e preconceito quando se trata da relação entre a Igreja católica e a ciência.

Para quem quiser ver a entrevista: http://noticias.band.uol.com.br/canallivre/ 

3 de mar. de 2014

As asneiras ideológicas do assessor da CNBB para a Campanha da Fraternidade 2014

Como é duro ter que ler asneira, ainda mais vinda de um padre. Naquela coluna do folheto O Domingo sobre a Campanha da Fraternidade, o padre Luiz Carlos Dias que é assessor da CNBB, escreveu neste domingo que a economia de mercado deixa à margem da sociedade a maioria das pessoas e que esta maioria não tem acesso aos bens de consumo, nem mesmo ao mínimo necessário para uma vida diga. 

O reverendo padre deveria saber que são nos países de economia de mercado que encontramos as menores desigualdades sociais. Que são nas economias de mercado que os índices de IDH são maiores, portanto, a maioria da população destes países tem acesso as bens de consumo e muito mais ao necessário para uma vida digna. O reverendo padre deveria saber que é justamente o contrário que acontece: nos países de economia planificada ou onde a economia de mercado é restringida ou sufocada é que a maioria das pessoas não têm acesso a bens de consumo, ou melhor, a bem nenhum. 

Que país o reverendo padre gostaria de citar: Cuba, onde a maioria não tem um sabonete para tomar banho ou Venezuela, onde não tem papel higiênico para limpar a bunda? O reverendo padre deveria deixar-se guiar mais pela Doutrina Social da Igreja, cujo compêndio defende explicitamente a economia de mercado, do que pelas suas preferências ideológicas.