No último domingo (23/04/2014), estava assistindo ao Canal Livre, na Band, as entrevistas com os doutores em astronomia Douglas Galante e Sylvio Ferraz-Mello, cujo tema central era a investigação de existência de vida fora da Terra. Gosto muito do programa, apesar de uns foras que é dado por lá, principalmente pelo Fernando Mitre, que pensa saber tudo. Bom, num dado momento, foi mencionado o fato de o Observatório Astronômico do Vaticano estar participando das buscas de vida fora da Terra e entrou uma participação do padre Juarez falando sobre a relação entre fé e ciência, sobretudo entre a Igreja católica e a astronomia. Aí vieram os "foras". Ficou patente a desinformação dos participantes sobre o tema. O doutor Douglas Galante disse que conheceu os astrônomos do Observatório do Vaticano (em sua maioria jesuítas, diga-se) e que eles fazem ciência como quaisquer outros cientistas (ah, vá!). Foi perguntado que descobertas o Observatório do Vaticano tinha feito até hoje, ou seja, se tinha feito algum trabalho relevante. Todos disseram desconhecer. Bom, bastaria que se lembrassem de algo corriqueiro: a data daquele dia para notarem a maior contribuição do Observatório Astronômico do Vaticano: o nosso atual calendário. Em 1582, o Papa Gregório XIII ordenou que a equipe do Observatório Vaticano (um dos mais antigos da era moderna), preparassem a reforma do calendário. E isto não se dá sem sérias observações astronômicas e cálculos precisos.
Bóris Casoy, depois que o padre Juarez disse que a Igreja sempre apoiou a astronomia, disse que não era bem assim e que muitos "astrônomos" foram queimados pela Igreja (que desinformado! Isto é uma vergonha!). Quais? Ninguém citou nenhum e nem eu os conheço. O cardeal Pedro d'Ailly (1350-1420) defendeu o movimento de rotação da Terra; o cardeal Nicolau de Cusa (1401-1464) e Copérnico defenderam o heliocentrismo sem serem molestados por isso. Galileu não foi queimado e os próprios participantes do programa reconheceram que seu processo foi complexo e que as acusações que mais pesaram não foram exatamente sobre as discussões em torno do heliocentrismo. Giordano Bruno (1548-1600) também foi citado e Mitre lembrou (desta vez ele deu uma bola dentro) que o filósofo de Nola viajava na maionese em inúmeras heresias e que não foi condenado à fogueira por suas pesquisas astronômicas. De fato, elas nem mesmo existiram. Na verdade, Giordano Bruno acreditava que o universo era infinito (se não o próprio Deus) e que nele havia vários mundos habitados e tantos deuses quanto mundos.
A Igreja não só não se opôs as pesquisas astronômicas como as encorajou e as financiou. Os participantes do programa também desconhecem que, quando os jesuítas astrônomos do Colégio Romano souberam que Johannes Kepler (1571-1630) estava sem um telescópio, enviaram-no um. Desconhecem nomes como o dos irmãos Antonio e Luigi Lilio e do padre Christopher Clavius (1538-1612) que compuseram a equipe que reformou o calendário; do grande padre Angelo Secchi (1818-1878), diretor do Observatório Vaticano, e de suas descobertas - entre muitas outras descobertas e invenções - sobre o sol. Também desconhecem certamente o padre Georges Lemaître (1894-1966), que descobriu a expansão do universo e propôs, pela primeira vez, a teoria do Big Bang. Por fim, para se ter uma vaga ideia sobre a importância da Igreja católica para a astronomia, basta dá uma espiadela num mapa lunar e conferir o tanto de nome de jesuítas (entre outros cientistas, padres ou não, ligados à Igreja) que batiza as crateras de lá. É uma pena que ainda haja tanto desconhecimento e preconceito quando se trata da relação entre a Igreja católica e a ciência.
Para quem quiser ver a entrevista: http://noticias.band.uol.com.br/canallivre/
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