São José de Arimateia |
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Após a queda do Império Romano no Ocidente (lembrando que a primeira província romana que os romanos perderam foi a Britânia), os anglos, saxões e jutos invadiram e devastaram a ilha, quase acabando com os cristãos que estavam ali. São Columbano e os missionários irlandeses foram quem começaram a re-evangelizar a Grã-Bretanha dividida agora em vários pequenos reinos bárbaros.
Em 596, Santo Agostinho da Cantuária e mais quarenta monges beneditinos são enviados pelo Papa São Gregório Magno para evangelizar a Angland. Graças à princesa Berta, filha do rei de Paris, cristã e esposa do rei Etelberto de Kent, Santo Agostinho teve êxito em sua missão. Funda a diocese de Cantuária e é nomeado arcebispo primaz da Inglaterra. Mais tarde, erige outras duas dioceses: Londres e Rochester. Alguns anglicanos, entre eles o reverendo Aldo, objetam que já havia cristãos na Grã-Bretanha “antes da Igreja Romana chegar” – o fato de existir cristãos em determinada região não caracteriza uma igreja independente. Jamais houve igrejas independentes (ao menos que fossem heréticas) como querem fazer crer os protestantes – e que estes foram obrigados a se submeter ao Papa.
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Como apenas quarenta monges, sem qualquer apoio militar, conseguiriam submeter uma população de cristãos, ainda que estes fossem a minoria, já que a imensa população de Grã-Bretanha do século VI era pagã? Por que não há sequer uma prova histórica mostrando que estes cristãos locais rejeitaram a missão de Santo Agostinho delegada pelo Papa?
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Santo Agostinho da Cantuária |
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“Segundamente”, Constantino não obrigou ninguém a ser cristão, muito menos católico. Quis colaborar com a ortodoxia da Igreja, se esforçando para colocar fim à heresia ariana (os anglicanos são arianos?) e, posteriormente, seus sucessores foram arianos, perseguindo, inclusive os católicos.
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O reverendo Aldo apela para a Inquisição. Se tivermos como base a época da missão de Santo Agostinho, faltava, no mínimo, “apenas” seis séculos para os tribunais da Santa Inquisição serem criados e praticamente não existiram na Inglaterra. Portanto, o anglicanismo não tem outra origem, senão em 1531, com o cisma de Henrique VIII. Por hoje é só. Não percam os próximos capítulos sobre o anglicanismo.
Referências:
José de Arimateia. Disponível em: <http://www.opusdei.org.br/art.php?p=16244>;. Acesso em 16 de junho de 2009.
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AQUINO, Felipe. Uma História que não é contada. 1ª Edição. Editora Cléofas. Lorena, 2008.
Salve Rodrigo!
ResponderExcluirO Rev. Aldo Quintão jamais afirmou que Constantino I foi o fundador da Igreja Romana.
Perguntei tal coisa em meu comentário à sua postagem anterior (O proselitismo do Rev. Aldo Quintão), apenas para ressaltar quão absurdo é considerar Henrique XVIII fundador da Igreja Anglicana. Se Constantino I não fundou igreja alguma, Henrique XVIII também não. Tal como Constantino não fundou a Igreja Romana, Henrique não fundou a Igreja Anglicana, pois esta já existia. Também já existiam a Ecclesia Gallicana, a Ecclesia Germanica, a Ecclesia Italica, etc., cada uma em sua respectiva região.
Claro que ambos os estadistas influenciaram politicamente o cristianismo de forma profunda, cada um de seu jeito.
Você pergunta: “os anglicanos são arianos?”
Não. A Igreja Anglicana não é ariana, mas católica nicena. Posteriormente a teologia da reforma continental influenciou setores da Igreja Anglicana [a ala anglo-católica (high church anglicans) até hoje rejeita tal influência], mas jamais rumo ao arianismo.
Constantino não obrigou ninguém a ser cristão. O Édito de Milão (AD 313) estabeleceu a tolerância aos cristãos. Constantino adotou o cristianismo como religião de sua corte, substituindo os ritos cívicos oficiais que presidia por ritos cristãos. Quem obrigou todos a serem cristãos foi Teodósio I, ao estabelecer o cristianismo niceno como religião oficial do Império Romano. A partir daí os arianos passaram a ser perseguidos.
Constantino não quis “colaborar com a ortodoxia da Igreja” a vida inteira. Não somente seus sucessores foram arianos, mas ele mesmo tornou-se ariano. Ele presidiu sobre o primeiro concílio de Nicéia em AD 325, e defendeu a posição nicena por algum tempo, mas depois mudou de idéia, e baniu o bispo Atanásio (defensor do credo niceno) para Trieste, na Gália, e adotou um credo ariano como ortodoxia. Constantino I permaneceu ariano para o resto da vida e foi batizado no leito de morte pelo bispo ariano Eusébio de Nicomédia, em maio de 337. Seus três filhos dividiram o império por algum tempo. Constantino II logo morreu em guerra contra seu irmão Constans, um imperador niceno.
Com a morte de Constantino o bispo Atanásio voltou do exílio para Alexandria, onde tentou fortalecer o cristianismo niceno, mas logo teve que fugir para o ocidente, onde foi amparado pelo imperador niceno Constans. Por algum tempo a Igreja do oriente permaneceu predominantemente ariana, sob o imperador ariano Constantius II. Com a morte de Constans, Constantius II tornou-se imperador de todo o Império Romano. Em 31 de Dezembro de 359, o credo ariano de Seleucia-Rimini foi assinado por 560 bispos, do oriente e do ocidente. O Império Romano havia se tornado ariano. Isso durou pouco, pois com a morte de Constantius II o jogo virou-se novamente.
Em AD 360 subiu ao trono Juliano, o apóstata, que brevemente restaurou os deuses da antiga religio romana. Seu sucessor, Joviano, foi um imperador cristão niceno. Depois reinaram Valentiniano (niceno) no ocidente e Valens (ariano) no oriente. Valentiniano II foi o último imperador ariano. Em 27 de fevereiro de 380 Teodósio I promulgou o cristianismo niceno como religião oficial do Império Romano, e iniciou uma perseguição sistemática ao arianismo, e também aos antigos deuses romanos, por todo o Império. Os arianos só encontraram refúgio entre os ostrogodos e visigodos, até meados do século VI. Com a retomada do ocidente por Justiniano I e as conquistas dos Francos, os godos desapareceram, e com eles o arianismo.
A vitória política do cristianismo niceno foi por um triz. Ambos os lados, niceno e ariano, mutuamente se perseguiram, sempre que tiveram sanção das autoridades para fazê-lo.
“Por que não há sequer uma prova histórica mostrando que estes cristãos locais rejeitaram a missão de Santo Agostinho delegada pelo Papa?”
Pergunto: porque deveriam? Por acaso os cristãos locais tiveram algum divórcio negado?
Acho que não.
Abraço,
Alex Altorfer
Caro Alex. Agradeço a explanação histórica sobre a luta entre ortodoxos e arianos. Como o assunto não era esse, somente citei o assunto. Claro que a igreja anglicana não é ariana. Só quis fazer um contraponto sobre a "influência" de Constantino sobre a igreja britânica. O reverendo Aldo citou Constantino sim dando a entender que este obrigou a obedecerem a Igreja de Roma. Existiam igrejas por todas as regiões do Império e fora dele. Mas nenhuma era independente. Se fosse, estaria fora da comunhão com a única Igreja, como os arianos da Espanha Visigótica (que posteriormente se tronaram católicos), os ostrogodos da Europa Central e norte da Itália, os egípcios monofisitas e armênios nestorianos.
ResponderExcluirCaro Rodrigo,
ResponderExcluirDe modo geral, a igreja primitiva era surpreendentemente coesa. Alguns grupos viviam isoladamente (e.g.:ebionitas), seja por isolamento geográfico ou não, e outros seguiram líderes que foram expulsos (e.g.:Marcion). No entanto, as cinco principais sés cristãs do mundo mediterrãneo tinham paridade em importãncia e autoridade sobre suas respectivas jurisdições. Roma, Constantinopla, alexandria, antioquia, e Jerusalém. Claro que a sé de Roma tinha mais prestígio, por Roma ter sido a capital do império por tanto tempo, por estar no local onde Pedro e Paulo morreram como mártires, e pela importância dada a Pedro como patrono da comunidade. Na época, todos os bispos eram carinhosamente chamados de "papa", em qualquer das regiões. O bispo de Roma tinha grande influência e era muito respeitado, mas sua autoridade não ia além do ocidente latino. As igrejas não eram "independentes", mas o poder ainda não era centralizado. O oriente grego eventualmente orbitou em torno de Constantinopla, e o ocidente latino em torno de Roma, mas este padrão demorou um pouco para se consolidar. O primado da sé pétrina não fora oficialmente afirmado antes de AD 381.
Quanto aos arianos, sabemos que antes de Teodósio I pertenciam ao seio da igreja e lutavam pelo controle dela. Não eram cismáticos como os donatistas (que até tinham milícia armada própria). O arianismo era uma das várias divergências cristológicas internas da igreja. Os arianos só se tornaram um grupo (ou grupos) separado mais tarde, por terem sido expulsos e rejeitados, ou absorvidos pela igreja estatal de Teodósio I.
A controvérsia cristológica do séulo IV envolveu conflitos armados, revoltas que tomaram as ruas de várias cidades, intrigas, puxadas de tapete, muita politicagem, e assassinatos (o próprio Arius provavelmente foi envenenado, embora não haja provas). Seria ingenuidade supor que o Espiritio Santo inspirou o modo em que a ortodoxia nicena foi consolidada (não estou a defender os arianos, pois o mesmo poderia ser dito se o resultado tivesse favorecido o arianismo).
Bom, o fato é que a ortodoxia nicena venceu por um triz. Bastaria que Constantius II tivesse reinado por mais algumas décadas, e hoje estaríamos recitando o credo de Selêucia-Rimini em nossas missas, ao invés do credo niceno. Por muito pouco não somos todos arianos hoje.
Pessoalmente acho que, após dois mil anos de história, diversificação teológica, e abusos de poder, seria ingênuo esperar por uma cristandade unificada até hoje. A ocorrência de igrejas independentes tornou-se uma inevitabilidade que, temo, não seja reversível.
Na verdade, a autoridade do Papa, ou melhor, a preeminência da Sé Romana já era respeitada desde os primórdios do cristianismo, ainda que não houvesse um pleno entendimento de sua jurisdição. Santo Irineu, Santo Inácio de Antioquia e São Cipriano nos mostra isto em seus escritos.
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