31 de out. de 2013

A Santa Missa: expectativa e realidade (Parte II)

Como deve ser: a Procissão de entrada tendo a cruz na frente e seguida pelo sacerdote é a via-sacra, o percurso de Jesus até o Calvário.

Como é: é um desfile onde se aceita tudo: leigos inúteis, apresentações artísticas parecendo a Marques de Sapucaí, cartazes com palavras de ordem. 


Como deve ser: o presbitério, em posição elevada, é o monte do Calvário, onde ocorrerá o sacrifício de Cristo. Nele sobe o sacerdote, que agindo em Persona Christi, oferece o sacrifício de forma incruenta. Com ele, sobe apenas seus auxiliares (acólitos, diácono) que são como Simão Cirineu, aquele que auxiliou Jesus a carregar a cruz.

Como é: no presbitério sobe as mulheres, os soldados romanos e boa parte da população de Jerusalém... O presbitério vive apinhado de gente. 


Como deve ser: a Santa Missa inicia-se com o sacerdote invocando, com simplicidade e decoro, a Santíssima Trindade. 

Como é: é invocada pelo povo todo em meio a uma música infantilizada e a Santa Missa começa com um aplauso, como se fosse um espetáculo teatral. 


Como deve ser: O ato penitencial é um momento de introspecção onde pedimos perdão a Deus pelos pecados que cometemos para que, purificados, possamos oferecer o sacrifício: do Corpo e Sangue de Cristo, oferecido pelo padre; e de louvor, oferecido pelos fiéis. Os pecados veniais são perdoados na Santa Missa. O “Confesso a Deus” e as invocações contidas no Missal pedindo que o Senhor tenha piedade de nós pode ser recitados ou cantados, preferencialmente em estilo gregoriano e mantendo as súplicas em língua grega. Não cantamos por agradecimento por já estamos perdoados ou louvamos a misericórdia de Deus. Mas, arrependidos, pedimos realmente perdão e somos perdoados. 
 
Como é: são substituídas por qualquer música que fale da misericórdia e do perdão de Deus, músicas açucaradas e alegrinhas de quem não percebe que estamos pedindo perdão das ofensas a Deus.


21 de out. de 2013

Um ateu pode ser uma pessoa melhor? Ou: Crer em Deus torna as pessoas melhores?

A pesquisa do Datafolha que pretendeu situar a população brasileira no espectro político-ideológico tinha como última pergunta: “você acha que acreditar em Deus torna as pessoa melhores?”. Dos entrevistados, 85% responderam que sim. A manchete no UOL que anunciava a pesquisa destacava – e com propósitos bem definidos – exatamente este posicionamento da maioria dos entrevistados. A choradeira foi geral. O restante da pesquisa foi praticamente ignorada. Nos comentários da notícia no site e da postagem da Folha no Facebook choveu comentários dos ateus de internet e afins, bravos porque a maioria das pessoas acha isso, dizendo que para ser bom não precisa crer em Deus e, inclusive, afirmando exatamente o oposto da pergunta, que acreditar em Deus torna as pessoas piores. 

Pois bem, o que dizer? Sim, crer em Deus torna as pessoas melhores. Porém, as coisas não são assim tão simples. Comecemos do começo. Crer em Deus apenas, não basta. Já dizia São Tiago em sua carta: “Crês que há um só Deus? Fazes bem. Também os demônios creem e tremem” (2, 19). Dizia estas palavras quando desenvolvia a doutrina sobre a justificação pelas obras, tão necessária como pela fé. Portanto, o simples fato de crer em Deus não é suficiente para tornar ninguém melhor. É preciso praticar as boas obras. É preciso crescer nas virtudes. 

Posto isto, vamos à outra parte da questão. Quando o Datafolha faz uma pergunta como esta e se obtém tal resultado, é evidente que os entrevistados, advindos de uma cultura cristã, pensam logo no Deus único e verdadeiro revelado em Sua plenitude em Jesus Cristo. Não basta crer em uma divindade – ou divindades – qualquer. Não basta ser monoteísta. Não basta ter uma vaga ideia da existência de um Ser Supremo. É preciso crer, por princípio, no Deus verdadeiro. E, como já mencionado, o Deus verdadeiro revelou-se em Jesus Cristo. Para resgatar a humanidade pecadora, era preciso o homem perfeito, Santo, que reatasse as plenas relações com Deus através de uma perfeita obediência. Sendo assim, nenhum dos seres humanos, manchados desde a concepção pelo pecado original, poderia realizar esta sublime missão. Somente fazendo-se homem, Deus podia operar a redenção, pois foi o homem que tornou-se desobediente pelo pecado e ficou incapaz de voltar-se para Ele. Em Jesus, o Filho de Deus, há o encontro entre Deus e o homem. Ele é Deus feito homem. Nele, o homem Jesus, se encontra a plenitude da divindade. É verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Portanto, tendo sua vontade humana submetida livremente à vontade divina, Jesus pôde obedecer perfeitamente a Deus e obedeceu até a morte de cruz. 

Mas o que tudo isso tem a ver com a pergunta do Datafolha? Para ser bom, para tornarmo-nos melhores, é preciso, sim, crer em Deus, mas também crer naquele que Ele enviou, Jesus Cristo. Ou seja, para se tornar um ser humano melhor, tem que ser cristão. Não tenho dúvida que a grande maioria que respondeu positivamente à pergunta tinha em mente esta concepção de Deus. Assim, já temos três pontos sobre como tornar-se melhor: 1) a necessidade de crer em Deus; 2) a necessidade de crer na Encarnação e Redenção de Jesus Cristo; 3) a realização das boas obras. Continuemos. 

Estas boas obras não são quaisquer obras. São aquelas que Jesus nos mostra pelas suas palavras e ações. É Jesus, o homem perfeito, o nosso modelo de humanidade. O próprio Cristo nos diz para sermos perfeitos como o Pai celeste é perfeito (Cf. Mt. 5, 48). Ele é a imagem viva do Pai. É Nele que devemos espelhar nossa vida e nosso modo de agir para a perfeição. Porém, nossa natureza está enfraquecida pelo pecado. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo. 12, 5), disse Jesus. Sozinhos não podemos tornarmo-nos perfeitos como o Pai. Precisamos que Sua graça venha em nosso auxílio e é pela fé em Jesus Cristo que ela nos é dada. É o Espírito Santo que nos foi dado no batismo que restaura em nós a imagem de Cristo, que nos eleva à perfeição, nos “diviniza”. As nossas boas obras, portanto, só tem valor se unidas a Jesus Cristo (Cf. Jo. 15). É imitando Jesus que amou a humanidade, deu-se inteiramente por ela, acolheu os pecadores, perdoou, cuidou dos pobres e sofridos que nos tornamos melhores. Quem não crê em nada disso (e aqui já deu para perceber que isto não diz respeito apenas aos ateus) já não pode se tornar melhor, por mais esforço que faça. Mas aqui pode-se objetar: “mas para perdoar, ser bom, fazer o bem não é preciso ser cristão, muito menos crente. Há ateus que realizam tudo isso!”. É verdade, porque o ser humano, ainda que tenha a natureza ferida pelo pecado, pode ser capaz de realizar naturalmente atos moralmente bons. Mas sem um parâmetro do que é um ser humano melhor, como saber se se está melhorando? Pode considerar-se melhor que outros, melhor que o vizinho, mas não pode-se afirmar que é melhor ser humano sem aquele padrão que é Jesus Cristo. Sem Jesus Cristo pode-se, no máximo, ser um filantropo medíocre, jamais alguém melhor. Quem não crê não pode tornar-se melhor porque, em última instância, refere todas as suas boas obras a si próprio, diferentemente do cristão para quem tudo é dom de Deus. A autorreferência é uma prisão de onde nunca se escapa do egoísmo, por mais que seja solidário e empenhado em ações humanitárias. E o egoísta jamais será alguém melhor. 

O que nos torna melhores é o amor. O amor (caritas, ágape) –  aquele dom de Deus sem o qual São Paulo diz que de nada serviria dar aos pobres todos os seus bens, nem entregar seu corpo às chamas (Cf. 1Cor. 13) –  pode nos elevar acima de nós mesmos. Jesus nos deu um novo mandamento: “Amai- vos uns aos outros como eu Vos amo” (Jo. 15, 12). Este é o padrão. E como Jesus nos amou? Saindo de si próprio, rebaixando-se, não se apegando a sua condição divina, mas despojando-se de tudo para servir ao próximo. Para ser melhor, o homem precisa se despojar de si próprio, sair do egoísmo, dar a vida pelos irmãos e não só na atividade apostólica e caritativa, mas também na oração, na contemplação, na ascese. E quantos exemplos nos vêm à cabeça de homens e mulheres que doaram-se inteiramente no serviço dos irmãos. O homem torna-se grande quando ajoelha-se para adorar a Deus e para lavar os pés dos irmãos. O único caminho para tornar-se melhor, insisto, é imitar a Cristo. O Cristo humilde, servo de todos. O cristão é melhor, mas não soberbamente melhor do que os outros. Não é o orgulho luciferino que faz o cristão se considerar melhor. É melhor do que si próprio, do que a comum natureza humana decaída e corrompida que, como a gravidade, força o homem para baixo e não permite elevar-se em direção à perfeição. O cristão não se considera um super-homem, como na filosofia de Nietzsche, que se eleva por conta própria acima de suas fraquezas. É exatamente reconhecendo suas fraquezas e sabendo necessitado da graça de Deus que o ser humano torna-se melhor, dá um salto evolutivo, um upgrade em sua essência humana. 

Sim, a maioria que respondeu à pergunta do Datafolha está certa: crer em Deus torna uma pessoa melhor desde que corresponda às exigências desta fé. Portanto, retomemos aqueles pontos necessários, acrescentando um quarto: 1) a necessidade de crer em Deus; 2) a necessidade de crer na Encarnação e Redenção operada por Jesus Cristo; 3) a necessidade da graça para realizar e perseverar nas boas obras; 4) o amor a Deus e ao próximo assim como Jesus amou. Esta é a receita para um ser humano tornar-se melhor, para que seja restaurada em cada pessoa a imagem e semelhança de Deus. E é este o roteiro que seguiram aqueles que chamamos de santos. 


12 de out. de 2013

A Santa Missa: expectativa e realidade (Parte I)

Como deve ser: o altar representa o Cristo, a cruz onde Cristo se sacrificou e a pedra tumular onde repousou seu corpo sem vida e de onde levantou, ressuscitado. 

Como é: é uma mesa que se assemelha a uma mesa de cozinha, somente um lugar de refeição. 


Como deve ser: o sacerdote age na pessoa de Cristo. É o próprio Senhor que age através dele para atualizar Seu sacrifício. 

Como é: o padre é o animador de auditório, o cantor, o agitador de massas, o contador de histórias, o presidente da celebração. 


Como deve ser: as diversas peças do paramento compõem a armadura do cristão descrita pelo apóstolo Paulo. Serve para despersonalizar o homem que o veste para que resplandeça o sacerdote, ministro do Único Sacerdote. A referência da Missa não é o padre. Os fiéis e o padre celebravam direcionados para o mesmo lugar, tendo o Crucifixo por referência. 

Como é: o padre é o centro das atenções, é o artista, é aquele pelo qual vão à Missa. 


Como deve ser: o presbitério, em posição elevada, é o monte do Calvário, onde ocorrerá o sacrifício de Cristo. Nele sobe o sacerdote, que agindo in persona Christi, oferece o Cristo de forma incruenta. Com ele, sobe apenas seus auxiliares (acólitos, diácono) que são tais como Simão Cirineu, aquele que auxiliou Jesus a carregar a cruz. 

Como é: no presbitério sobe as mulheres, os soldados romanos e boa parte da população de Jerusalém... O presbitério vive apinhado de gente. 


Como deve ser: a toalha do altar deve ser branca e representa o lençol que envolveu o corpo de Jesus e os panos usados no seu sepultamento. 

Como é: é uma toalha de mesa. Em muitos lugares varia de forma e de cor nada diferente de toalhas de restaurante ou pizzaria. 




1 de out. de 2013

A verdadeira Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face

Hoje é dia de Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, uma das santas mais populares. Lembremos, hoje, portanto, desta monja carmelita que dedicou sua vida a Deus, morrendo com apenas 24 anos. Mas, lembremos da verdadeira Santa Tereza de Lisieux, não da menininha boba rodeada de rosas criado por um devocionismo vulgar. 

Sim, lembremos da Tereza da extrema paciência com Deus e com os homens; 

- da Tereza extremamente humilde, que fazia os serviços mais duros do Carmelo; 

- que suportava em silêncio, sem responder ao mal humor de algumas irmãs, inclusive daquela que reclamou do cheiro da flores que Tereza carregava, quando na verdade as flores eram de papel; 

- que passou, certa vez, por um alfinete caído no chão e retornou pegá-lo, pois, ao contrário teria deixado este serviço para outra fazer, demonstrando preguiça e abuso dos outros; 

- da Tereza que suportou um sofrimento atroz causado pela tuberculose, sem reclamar, sem murmurar, tanto que continuou fazendo os trabalhos do Carmelo e assistindo aos serviços religiosos da mesma forma, que quando a Superiora percebeu sua doença, já era tarde demais; 

- da Tereza, uma rocha na fé, que passou por um período de aridez tão terrível, sem sentir gosto para as coisas de Deus e permaneceu fiel a Deus e a Sua Igreja, pois fé não é emocionalismo, nem excitação dos sentidos; 

- da Tereza que passava horas em oração pela Igreja e pela conversão do mundo; 

- da Tereza que abraçou a cruz e oferecia os menores sacrifícios pela conversão dos pecadores. 

Esta é a Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face que devemos lembrar no dia de hoje. Lembrar e imitar suas virtudes.