29 de jan. de 2012

Jesus ensina com autoridade

A Boa Notícia de Jesus Cristo

Marcos 1, 21-28

“Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.” (Mc 1, 22)

Jesus é o novo Moisés, o profeta ao qual este se referiu, que seria como ele e que Deus suscitaria para que guiasse o povo e, como ele, falaria com Deus face a face. Mas Jesus é mais do que um simples profeta e Sua relação com o Pai vai muito além do que a de Moisés. Ele é Um com o Pai e dá o sentido verdadeiro da Lei, pois é seu legislador.

Muito mais do que a Lei, Jesus traz a graça para poder cumpri-la. Este ensinamento da Lei, junto com a restauração do verdadeiro sentido do sábado e o poder sobre as forças do Mal, revelam a divindade de Jesus que escandaliza principalmente aqueles que interpretavam e aplicavam a Lei mosaica.

Ou Jesus é um louco, um herege ou realmente é o Deus verdadeiro que se fez homem. E é por isso que acaba sendo condenado: por essa igualdade com Deus. Que nos deixemos ser conduzidos por Ele.

25 de jan. de 2012

Perseguição aos católicos na Espanha (1931-1939)

Esta é a terceira parte do meu artigo sobre a perseguição aos católicos na Europa durante a primeira metade do século XX.

Primeira parte: Resumo e a Introdução


Segunda parte: URSS e países do Leste europeu

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A Espanha entrou no século XX seguindo sua tradição centenária de ser um dos países mais católicos da Europa. Não é possível conceber uma nação espanhola sem o catolicismo. Desde os visigodos, a Igreja marcou sua forte presença quando seus sínodos equivaliam à assembleias políticas e seus decretos tinham força de lei para todo o reino. A unidade espanhola foi construída durante a Reconquista quando os católicos retomaram das mãos dos muçulmanos a Península Ibérica. A unificação espanhola veio em 1492, com o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, que receberam o título de “reis católicos”. Era impossível saber se o orgulho do povo provinha de ser católico ou ser espanhol. A relação entre a Igreja Católica e o Estado espanhol sempre foi tão profunda que muitas vezes se misturaram, ocasionando ora prejuízos, ora vantagens para ambos.

A Espanha entra no século XX mantendo sua longa tradição católica e em franca decadência política e econômica, em nada se parecendo com a sede de um império que abrangeu todos os continentes. Era certo que o país precisava modernizar-se política e economicamente e houve a tentativa de instaurar-se uma república no início do século, trazendo consigo a herança republicana da França, com todos os preconceitos intelectuais onde pregavam que qualquer avanço político-social só poderia ser levado adiante se a Igreja fosse eliminada. Conforme Royal (2001, p. 147), os “republicanos” espanhóis eram, em sua maioria, frutos das lojas maçônicas e compunham uma amálgama de ideologias, contendo poucos democratas e muitos radicais socialistas, comunistas e anarquistas, em geral, bastante violentos e ateus anticlericais.

Após o governo estabilizador do ditador Miguel Primo de Rivera (1923-1930) e os breves mandatos de Dámaso Berenguer e Juan Bautista Aznar-Cabañas marcados por distúrbios populares e levantes, as eleições regionais em abril de 1931 demonstraram o baixo apoio popular à monarquia e, para evitar um eminente derramamento de sangue, o rei Afonso XIII abdicou e exilou-se na Inglaterra. Tinha início, assim, a Segunda República e com ela a perseguição aos católicos da Espanha, onde “em tempo algum no curso da história da Europa, talvez mesmo de todo o mundo, viu-se um ódio tão apaixonado à religião e suas obras” (THOMAS, 1964, p. 271).

Foi durante o regime monárquico que um feroz anticlericalismo começou a ganhar formas, mas seus excessos foram contidos pela ditadura. Para os republicanos, derrubada a monarquia, era o momento de extirpar a Igreja do território espanhol. A propaganda anticatólica foi disseminada por todo o país através da publicação de jornais, revistas, apresentação de peças de teatro e discursos transmitidos pelo rádio. A prática seguia o itinerário já conhecido: apresentavam a Igreja como intolerante e opositora de qualquer mudança socioeconômica na sociedade espanhola, favorecida pelo governo com diversos privilégios, proprietária de enorme riqueza enquanto mantinha o povo na pobreza através de um controle insuportável exercido sobre o comportamento das pessoas e acusada de invariavelmente se colocar ao lado dos poderosos, ricos e opressores (ORTÍ, 1995, pp. 46-49). Em resumo, a Igreja Católica era tida como a principal causa de todos os males da Espanha, inimiga da República e do povo. Esta era a imagem que os laicistas forneceram da Igreja e que penetraram na consciência das massas populares. Contudo, afirma Ortí (1995):

Às acusações lançadas pelos anticlericais e inclusive pelos políticos moderados e de direita contra a Igreja na Espanha, deve-se responder que eram, em 1931, em parte exageradas e em parte gratuitas. Uma campanha propagandística cujo ensinamento e grosseria possam parecer hoje incríveis, mas que resultaram de provada eficácia. Cunhada a imagem de uma Igreja rica, poderosa e corrompida, inimiga da República e do povo, precisamente quando a Igreja estava realizando todo o possível para encaminhar os fiéis pela via pacífica da legalidade. A riqueza da Igreja estava nos tesouros artísticos de seus templos e em seu patrimônio documental conservado em arquivos diocesanos e paroquiais, em monastérios e em conventos. Mas o clero vivia na miséria e, pese a frequentes reclamações durante a ditadura, não se conseguiu elevar justamente a dotação econômica do mesmo. No entanto, a reiterada insistência do anticlericalismo conseguiu fazer o povo crer exatamente o contrário (ORTÍ, 1995, p. 48).

A data do início da perseguição à Igreja Católica é colocada frequentemente pelos historiadores após o Alzamiento, o levante militar comandado por Francisco Franco contra o governo e que foi o estopim da guerra civil, quando a Igreja foi vista como aliada do general. Porém, mesmo sem jamais ter havido um edito de perseguição, os fatos demonstram que esta teve início já em maio de 1931, posto que “as omissões e a tolerância à violência e certa colaboração oculta ou indireta provam que o governo estava pouco preocupado com a situação dos católicos” (ORTÍ, 1990, p. 18).

Em maio de 1931, um mês após o fim da monarquia, antes do martírio dos católicos, teve início o “martírio das coisas” (CORÇÃO, 1972, p. 214). Os discursos anticlericais e anticatólicos surtiram efeito sobre as massas populares. Milícias armadas pelo governo, conhecidas como “incontroláveis” (ROYAL, 2001, p. 143) avançaram sobre as igrejas, mosteiros e conventos que foram saqueados e incendiados sem que as forças de segurança do governo ou a Guarda Civil interviessem. Quase uma centena de edifícios eclesiais foi destruída por toda a Espanha sem que ninguém fosse punido ou, ao menos, fosse processado por estes atos (ORTÍ, 1995, pp. 54-55). Até 1936, seriam 411 igrejas destruídas. A declaração do ministro da guerra, Manuel Azaña, demonstra a posição do governo diante do vandalismo generalizado: “Todos os conventos da Espanha não valem a vida de um único republicano” (ROYAL, 2001, p. 143).

As destruições e assaltos só vieram a comprovar a pobreza em que viviam os clérigos e religiosas. Enquanto se esperava encontrar grandes tesouros em ouro e dinheiro nos conventos e casas paroquiais, os despojos mostraram-se insignificantes. A riqueza da Igreja Católica consistia em seu patrimônio cultural, nas bibliotecas, nas obras de arte, na beleza arquitetônica. Justamente o que foi destruído pelos vândalos (ORTÍ, 1995, p. 19). Mas o ano de 1931 não ficou apenas marcado pelo “martírio das coisas”. De acordo com Royal (2001, p. 140), sete freiras visitandinas que tiveram seu convento incendiado em Madrid foram sequestradas e executadas por anarquistas.

Em outubro, a Assembleia Constituinte começou a debater a nova carta magna da nação. Durante os debates, a questão religiosa foi o principal, senão o único assunto. Foram propostos vários artigos anticatólicos, como o fim das escolas confessionais, a retirada de símbolos religiosos em lugares públicos, a proibição do culto público e a supressão das ordens religiosas (ORTÍ, 1990, p. 142). Os católicos republicanos se sentiram traídos, mas a despeito de todos os protestos, a Constituição da República foi aprovada em dezembro de 1931 e, no dia seguinte, Niceto Alcalá Zamora foi eleito presidente.

A legislação abertamente antirreligiosa não se fez esperar. Em 19 de janeiro de 1932, os professores nacionais receberam uma carta circular do diretor geral do Ensino Primário que lhes obrigava a retirar das escolas todo símbolo religioso, porque a escola deveria ser laica, e, em aplicação do artigo 43 da Constituição, foram suprimidos os crucifixos. Esta medida, ainda que legal, provocou grande irritação entre as numerosas famílias cristãs, que sentiram sua fé profanada e a educação de seus filhos ameaçada. Em 24 de janeiro foi dissolvida a Companhia de Jesus, já que o artigo 26 da Constituição declarou a supressão das ordens religiosas que, além dos três votos canônicos, impusessem a seus membros outro especial de obediência a uma autoridade distinta da autoridade legítima do Estado (ORTÍ, 1995, p. 60).

Continua Ortí (1995, p. 61):

Em dois de fevereiro foi aprovada a lei do divórcio e no dia seis foram secularizados todos os cemitérios. A partir de 11 de março foi suprimida a disciplina de “Religião” em todos os centros docentes. Mas a disposição legislativa mais polêmica do primeiro biênio republicano foi a Ley de Confesiones y Congregaciones religiosas, aprovada pelas Cortes em 17 de maio de 1933, com grande satisfação dos partidos de esquerda e publicada na Gaceta, em três de junho, que chegou a ser qualificada como obra mestra da República. O presidente Alcalá Zamora se negou a assiná-la até o último momento por considerá-la persecutória e apurou o tempo legal para sua promulgação até dois de junho. [...] Esta iníqua lei limitou o exercício do culto católico e o submeteu, na prática, ao controle das autoridades civis, com ampla margem para o arbítrio pessoal dos poderes municipais.

Além das disposições constitucionais, diversas leis anticatólicas regionais e municipais surgiram pela Espanha, regulando e restringindo o exercício da Igreja Católica. A Espanha vivia uma crise de governo e de ordem. Na tentativa de restaurar a governabilidade, o presidente demitiu o chefe de governo e a formação do novo contava com grande número de católicos e ministros de direita, já que a Confederación Española de Derechas Autônomas (CEDA), tinha a maioria dos deputados nas Cortes. Era o que bastava aos revolucionários de esquerda em todo o país. Acusando a direita de ser golpista, em outubro de 1934, explode a revolução socialista na Catalunha e nas Astúrias. O governo bombardeia Barcelona e em dez horas a revolução catalã é vencida. Nas Astúrias a situação se agravou. Em diversas localidades, os comitês constituídos por violentos comunistas proibiram toda manifestação religiosa e queimaram templos.

Os sacerdotes e religiosos foram considerados inimigos do povo e foi dado ordem para que fossem todos detidos. Aqueles que não puderam fugir ou esconder-se foram presos em cárceres improvisados e submetidos à múltiplas humilhações e atropelos. Não se levou em conta nem a idade, nem qualquer outra consideração. Apesar das ordens recebidas, em vários lugares foram fuzilados sem piedade, algumas vezes em meio ao ódio desatado de turbas enaltecidas ou em ocasiões em que era feita a simulação de um julgamento popular onde os comitês erigiram-se em tribunais e os juízes foram os mesmos carrascos que executaram as sentenças (ORTÍ, 1995, p. 69).

A revolução socialista nas Astúrias durou quinze dias e foi derrotada pelo governo, deixando um saldo de 34 sacerdotes e religiosos mortos. Os corpos dos religiosos eram cortados em pedaços e pendurados em frente aos açougues com os dizeres: “carne de porco” (CORÇÃO, 1972, p. 245). Porém, o pior estava por vir. Em meio à turbulência política, em janeiro de 1936, o presidente dissolveu as Cortes. Dias depois, o líder da esquerda espanhola, Largo Caballero, afirmou que a implantação do marxismo era solução para a Espanha. No mês seguinte, as eleições mostraram que a direita espanhola e a Frente Popular – uma coligação de esquerda que reunia comunistas, socialistas e anarquistas – estavam praticamente empatadas revelando a profunda divisão que se encontrava a sociedade espanhola. A Frente Popular assumiu o governo sem a devida prudência que evitaria aprofundar o racha entre os espanhóis. Em março, alguns generais se reuniram em Madrid e avisaram que interviriam se o governo não contivesse as desordens, se ameaçasse implantar o marxismo e se Largo Caballero, conhecido como o “Lênin espanhol”, fosse nomeado primeiro-ministro.

Naquele mesmo dia, cinco igrejas, um convento, um seminário e uma escola católica foram incendiados em Cádis. Outras tantas igrejas e casas paroquiais foram saqueadas. Aconteceram vários atentados contra a vida dos sacerdotes. Outros foram ameaçados, presos e expulsos de suas casas. Imóveis eclesiásticos foram desapropriados por autoridades locais e em muitas localidades houve limitações ao culto, proibição de procissões e outras manifestações religiosas. Cemitérios e sepulturas foram violados. Igrejas eram invadidas e tinham seus objetos e as hóstias profanadas. Para fomentar o ódio, acusações infundadas eram levantadas contra a Igreja, como a que, em 14 de maio, correu por Madrid: as religiosas salesianas estavam distribuindo caramelos envenenados às crianças. Incitada pelos radicais de esquerda e maçons, a turba enfurecida ateou fogo ao colégio e feriu gravemente as religiosas (ORTÍ, 1995, pp. 72-73).

Em 13 de junho de 1936, o líder da direita, Calvo Sotelo foi assassinado. Dia 18 de junho, os generais decidiram organizar um golpe de Estado e, sob o comando do general Francisco Franco, os militares e nacionalistas puseram-se em marcha (ROYAL, 2001, p. 149). Com o Alzamiento, tinha início a guerra civil espanhola e com ela um massacre de católicos jamais visto na história da Europa. À medida que Franco e seus comandados ganhavam terreno, a Espanha se dividia entre duas zonas: nacionalista e republicana. A repressão política se deu nas duas zonas e em ambas houve abusos e crueldades. Todavia, apenas na zona republicana explodiu a perseguição religiosa, já esboçada desde a fundação da República, em toda a sua fúria. A Igreja Católica foi logo acusada de fomentar e apoiar os nacionalistas, ainda que jamais tivesse se pronunciado contra a forma republicana de governo e a declaração da hierarquia católica em apoio ao general Franco ocorreu somente um ano após o início da guerra, não sem motivos óbvios, posto que a Igreja Católica, após anos de limitações, afrontas e assassinatos de seus membros, na zona nacionalista era respeitada e protegida. De acordo com Redondo (1993, p. 19), assim que chegou a Madrid a notícia do Alzamiento, igrejas e conventos foram incendiados e alguns jovens da Ação Católica foram assassinados enquanto tentavam salvar os templos.

Os assassinatos em massa de católicos não teve outro motivo senão o simples fato de pertencerem à Igreja Católica. Os republicanos negaram que havia perseguição religiosa na zona que governavam alegando que os milhares de assassinatos de padres, religiosos, religiosas e leigos foram “acidentais” ou porque eram “fascistas”. Apenas na segunda quinzena do mês de julho, foram mortos 124 padres, 12 freiras e 24 leigos em Madrid, 197 padres e três carmelitas em Barcelona, 14 seminaristas em Lérida e o bispo de Sigüenza (ROYAL, 2001, pp. 152-153).

Os atos de vandalismo, comuns desde o início da República, varreram templos e casas religiosas. Quando detidos, mesmo em flagrante, eram inocentados pelos tribunais. Ortí (1990, pp. 240-241) relata que em todas as dioceses espanholas, igrejas foram parcial ou totalmente destruídas, profanadas e saqueadas, tendo seus objetos litúrgicos roubados ou destruídos. Os lideres republicanos incitavam os milicianos a destruírem as igrejas mesmo que se encontrassem diante de obras arquitetônicas e monumentos históricos.

Neste contexto se explica os fatos violentos e sacrílegos tão graves como a profanação direta da sagrada Eucaristia, realizada de mil formas: esvaziando os sacrários, destruindo os objetos consagrados, alvejando o Santíssimo Sacramento, comendo sacrilegamente o que tinha nos vasos sagrados e bebendo utilizando-se dos cálices, jogando e pisoteando pelas ruas as sagradas hóstias, convertendo as igrejas em quadras e os altares em cocheiras para animais (ORTÍ, 1995, p. 84).

Mas, apesar de as destruições de igrejas e objetos sagrados serem chocantes, nada foi mais trágico do que o assassinato de milhares de católicos. Tendo a perseguição religiosa durante a República atingindo toda a sua ferocidade após o início da guerra, nos esclarece Ortí (1995) que:

Em toda a zona republicana, o culto público esteve proibido durante quase três anos. Nenhum templo permaneceu aberto e nenhuma cerimônia religiosa pode ser celebrada. Somente ao final da guerra, em Barcelona, existiu uma relativa tolerância para os atos religiosos privados e se permitiu a celebração pelas ruas de um funeral, com sacerdotes e cruz alçada, que serviu para que a propaganda republicana difundisse fotografias fazendo crer a existência de uma liberdade religiosa que, na realidade, nunca houve. A Igreja não existiu oficialmente no território republicano a partir de 18 de julho de 1936 até o final da guerra, mas se organizou clandestinamente. Os eclesiásticos foram assassinados simplesmente pelo que eram: os bispos de Almería, Guadix e Teruel, porque eram pastores da Igreja; as carmelitas de Guadalajara e as Irmãs da Doutrina Cristã de Mislata (Valência), porque eram freiras; e os passionistas, os claretianos, os Irmãos de São João de Deus, de La Salle, os escolápios, os marianistas e os Operários Diocesanos, porque eram sacerdotes e frades. O mesmo deve ser dito do engenheiro Vicente Vilar, de Manises (Valência), assassinado porque era um católico militante e um fervoroso filho da Igreja. Nenhum destes esteve jamais implicado em lutas políticas nem intervieram nelas (ORTÍ, 1995, p. 29).

Milicianos patrulhavam as ruas e pessoas eram detidas simplesmente porque carregavam alguma medalha religiosa ou crucifixo no pescoço. Clérigos e leigos fugiam da zona republicana atravessando a fronteira com a França ou refugiavam-se em embaixadas (ROYAL, 2001, p. 146).

Os católicos eram submetidos a todos os tipos de torturas psicológicas e físicas, mutilações e insultos. Numa reedição dos espetáculos romanos, padres e religiosos eram jogados nas arenas para serem mortos por animais, os assassinos cortavam as orelhas dos sacerdotes e as exibiam como troféus, muitos eram obrigados a engolir terços e crucifixos ou eram-lhes introduzidos nos ouvidos até que o tímpano fosse perfurado. Cemitérios foram profanados e os corpos de padres e freiras eram expostos nas ruas com escárnio (THOMAS, 1964, p. 272).

Padres, religiosos e religiosas eram arrastados para fora de hospitais, seminários e escolas, sendo que, muitas vezes, professores foram executados com seus alunos. Padres e freiras eram torturados para que renunciassem à fé gritando “Viva o comunismo” em vez de “Viva Cristo Rei”, o lema dos católicos espanhóis, inspirados nos seus irmãos perseguidos do México. Freiras eram estupradas e sacerdotes, castrados. Todas as formas de tortura e de matar foram empregadas no trato com católicos, fossem leigos ou clérigos. Nem a crucificação foi descartada (ROYAL, 2001, pp. 154-156). E Messori (2004, p. 45) afirma que a inventividade em matar dos perseguidores era tanta que “chegou-se ao extremo de recuperar barbáries cartaginesas como a de atar uma pessoa viva a um cadáver e deixá-los ao sol até ambos apodrecerem”.

Conforme relata Royal (2001, p. 159), padres, freiras e leigos eram assassinados em retaliação por alguma ação militar dos nacionalistas. Quando a cidade de Irún foi tomada, os republicanos executaram seis claretianos, em Barcelona. Em Madrid, vinte e três adoradoras foram fuziladas porque um miliciano republicano foi morto na rua do apartamento onde estavam refugiadas.

A Guerra Civil Espanhola terminou em primeiro de abril de 1939, com a vitória dos nacionalistas liderados pelo general Francisco Franco, tendo um saldo assustador para a Igreja Católica na Espanha: entre sacerdotes, religiosas e religiosos, o número de mortos chegou em 6832, destes sendo treze bispos, 4184 padres diocesanos, 2365 religiosos, 283 religiosas e vários seminaristas. Para se ter uma ideia da dimensão do genocídio perpetrado na zona republicana, as dioceses de Barbastro, em Aragão, perdeu 123 dos seus 140 padres, ou seja, 88% do total do presbitério; de Barcelona, 279 (22% do total); de Valência, 327 (27% do total) e de Madrid-Alcalá, 1118 (30% do total) (ROYAL, 2001, p. 141).

É impossível calcular o número de leigos assassinados durante a perseguição, pois ainda não existem estatísticas confiáveis. Mas, afirma Ortí (1990, p. 234), que “foram provavelmente vários milhares, haja conta dos dados oferecidos em alguns martirológios diocesanos”. Segundo Redondo (1993, p. 23), na Catalunha, a perseguição atingiu fortemente os leigos e afirma que “da Federação de Jovens Cristãos da Catalunha, que agrupava cerca de quinze mil [membros], foram assassinados mais de trezentos”. Sobre o número de leigos assassinados, assegura Sánchez, apud. Royal (2001, p. 142):

Um número incalculável de leigos foi morto por causa de sua ligação à religião, quer por serem frequentadores assíduos da igreja, quer por fazerem parte de organizações religiosas fraternas ou caritativas, quer por serem pais, mães, irmãos, irmãs ou amigos de membros do clero. Alguns foram mortos por ostentarem um símbolo exterior de fé, como uma medalha ou um escapulário. Outros foram mortos por praticarem atos de caridade, por darem refúgio a clérigos que tentavam escapar à fúria. É impossível determinar o número de leigos chacinados pela sua fé.

A maior perseguição aos católicos no século XX ainda é causa de controvérsias. Os defensores dos republicanos afirmam que as repressões à Igreja foi um mecanismo de defesa da República já que os bispos apoiavam os nacionalistas e influenciavam com esta decisão a maioria dos católicos o que, consequentemente, veio a formar a base de sustentação de uma longa ditadura fascista e sanguinária. Redondo (1993, pp. 25-26) esclarece esta controvérsia:

A pergunta que é inevitável formular, ainda que não seja de modo algum fácil de responder, é a que se deveu esta particularmente brutal perseguição religiosa. Possivelmente cabe aduzir toda uma gama de explicações possíveis: a perseguição se produz dentro de uma revolução social que, segundo o parecer de quem a investigou com mais detalhe, nos primeiros meses teve uma violência maior que a Revolução Russa, que levou os comunistas ao poder em 1917. A revolução tentava alterar radicalmente a estrutura social espanhola e, na situação precisa do país em 1936, muitos puderam pensar que um dos primeiros passos para conseguir a mudança absoluta era a eliminação da Igreja da vida espanhola e, consequentemente, o assassinato massivo de sacerdotes, religiosos e leigos. Porque tal situação chegou a acontecer, pode, de forma indireta, ter alguma culpa o mesmo clero que talvez se mostrou em excesso apegado a uma determinada concepção de vida social, a concepção cultural tradicionalista tão remissa a introduzir alguma mudança por entender que o que existia era o que tinha que existir, e além disso, para sempre. Neste sentido podem seguir aventurando-se em suposições que, em qualquer caso e em última instância, são incapazes de explicar aquele tremendo estouro de ódio e crueldade. Também deve-se levar em conta a propaganda constante e caluniosa que tantos mantinham contra a Igreja e seus ministros há mais de cem anos e em diversos setores: desde as publicações mais vulgares até os ataques sutis. De alguma maneira, como uma confirmação de todo isto, há de se lembrar que o assassinato de tão grande número de pessoas inocentes se juntou as profanações e destruição das igrejas, a destruição sacrílega de imagens, por uma espécie de afã de riscar do mapa até a última lembrança de tudo o que supusesse para o homem uma advertência de que havia algo mais do que o puramente material e tangível. Frente ao ódio antirreligioso, as advertências insistentes de que a Igreja nada teve a ver nem com a preparação, nem com o desenvolvimento do Alzamiento militar não foram já não mais escutadas, mas sequer foram ouvidas.

A despeito de um julgamento sobre o franquismo que não nos cabe neste artigo, sabendo que as perseguições e os inflamados discursos anticatólicos começaram juntamente com a República em 1931, Ortí (1995, p. 83) afirma que a grande maioria das mortes de sacerdotes e religiosos apenas teve motivações antirreligiosas, sem nenhum indício de motivação política e que as execuções em massa de católicos sem distinção de sexo, idade ou classe social demonstram que os assassinatos ocorreram fora de qualquer contexto político.




22 de jan. de 2012

Fazei penitência e crede no Evangelho

A Boa Notícia de Jesus Cristo:

Marcos 1, 14-20

“Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galileia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia: Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho.” (Mc. 1, 14)

Jesus começa sua pregação na mesma linha de João Batista, mas, agora, os milagres demonstram que o Reino de Deus, Ele próprio, está próximo. Nosso Mestre, desde o princípio de Seu ministério, começa a formar Sua Igreja, chamando os primeiros discípulos que se tornarão apóstolos após aprenderem Dele. E eles deixam tudo para seguir Jesus, para se tornarem “pescadores de homens”, cuja rede sempre será este apelo à conversão para que Jesus reine em nossas vidas.

Nós também, que somos chamados a seguir Jesus, devemos deixar tudo aquilo que é um obstáculo neste seguimento, seja este obstáculo um pecado ou não. Seja qual for nosso estado de vida ou vocação, com o auxílio do Espírito Santo, busquemos fazer Sua vontade para nossa santificação.

19 de jan. de 2012

Perseguição aos católicos: URSS e países do Leste europeu

Esta é a segunda parte do meu artigo sobre a perseguição aos católicos na Europa durante a primeira metade do século XX. Leia a primeira parte que contém o Resumo e a Introdução

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A Revolução Francesa instaurou na Europa o modelo republicano como forma de governo. Em seu bojo, trazia o anticlericalismo clássico e o laicismo radical gestados, sobretudo, nas lojas maçônicas espalhadas por todo o continente. Mesmo em regimes democráticos e republicanos, como na França, a Igreja se viu privada de seus bens. Por exemplo, desde as leis anticlericais de 1905, a Igreja na França tem a custódia, mas não a propriedade de seus templos. Em Portugal, com o advento da república em 1910, leis anticlericais e anticatólicas foram postas em prática com o confisco das escolas confessionais, a expulsão de ordens religiosas e a proibição do uso de trajes clericais em público. Porém, os multiformes ideários maçônicos seriam apenas uma pequena amostra do que poderia ser feito à Igreja se uma verdadeira doutrina com sua forma antirreligiosa de ser e agir bem definida chegasse a ser posta em prática. E este momento chegou em 1917 com a Revolução Russa e a implantação do marxismo naquela que viria a ser conhecida como a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

A oposição à religião faz parte da essência filosófica de Karl Marx. Conforme o filósofo alemão, para que o homem – medida de tudo – se liberte, é necessário, entre outras coisas, que não se prenda em dogmas e instituições eclesiásticas. Como parte da corrente do humanismo ateu, considera Deus um entrave para o livre desenvolvimento humano. Para isso, importa que desapareça a religião, a Igreja e mesmo a idéia de Deus. No conceito teleológico marxista, a religião naturalmente desapareceria com o regime capitalista, posto que é uma superestrutura deste. O movimento dialético da História se incumbiria de eliminá-la. Porém, como ainda se encontra em fase de transição para esta sociedade comunista onde o capitalismo e suas superestruturas desapareceriam, faz-se necessário uma guerra ininterrupta contra a religião e a Igreja Católica é eleita como o principal inimigo a se abater. Serão usadas as tradicionais armas do laicismo, mas se superará em métodos mais sofisticados e violentos (ROPS, 2006, pp. 39-40). É o que verificamos no primeiro país onde o marxismo se saiu vitorioso.

Apesar de a grande maioria dos cidadãos da URSS pertencer à Igreja Ortodoxa Russa, havia uma parcela não pouco significativa de católicos latinos e greco-católicos nos territórios da Rússia, Lituânia e Ucrânia. Desde o tempo dos czares, os católicos nunca tiveram plena liberdade de culto na Rússia e em diversas ocasiões foram pressionados a incorporarem-se ao patriarcado de Moscou. A violência do período stalinista levou o grande público a imaginar que as perseguições e expurgos na URSS fossem obras exclusivas de Josef Stálin. Mas, desde os primórdios do regime comunista na URSS, as perseguições aos crentes de diversas religiões se fizeram presentes, sendo mais duras contra os católicos acusados simplesmente de servirem a uma “força” estrangeira: o Vaticano.

Lênin inventou os métodos de perseguição religiosa usados por todos os regimes totalitários do século XX. Declarava Lênin, apud. Royal (2001, p. 64) sobre a religião:

A religião é o ópio do povo. Esta afirmação de Marx é a pedra de toque de toda a visão marxista do mundo no que toca ao problema da religião, todas as religiões contemporâneas, todas as igrejas e todos os tipos de organizações religiosas serão sempre vistos pelo marxismo como órgãos da reação burguesa que servem para defender a exploração e a neutralização da classe trabalhadora [...] É preciso saber como lutar contra a religião [...] Essa batalha tem que ser entendida em ligação com a práxis concreta de um movimento de classes dirigido para a eliminação das raízes sociais da religião.

Logo após a Revolução, no início de 1918, os fundos das igrejas e mosteiros foram confiscados. Templos e seminários foram nacionalizados e entregues aos sovietes locais e a Igreja passou a ser proibida de manter alguma propriedade. Publicações e bibliotecas católicas seriam dirigidas por comissários do povo. Escolas católicas passaram ao Estado ou foram fechadas. Só em São Petersburgo, 20 mil crianças católicas das 11 escolas primárias ligadas à Igreja ficaram privadas de receber educação religiosa. Um grave ataque contra a liberdade de consciência (ROYAL, 2001, p. 67).

Na grande fome de 1921-1922 que vitimou milhões de soviéticos, Lênin aproveitou a ocasião para levar a cabo o confisco dos bens da Igreja. A Santa Sé não poupou recursos humanos e financeiros, chegando a alimentar meio milhão de pessoas diariamente na URSS. Se o argumento do confisco era o de alimentar a população, o Vaticano propôs comprar os vasos sagrados e demais utensílios religiosos confiscados. Tudo em vão. A fome era somente mais um pretexto para dar continuidade à limpeza religiosa. Lênin expulsou os religiosos que alimentavam a população e ordenou a execução de membros do clero que protestasse contra o confisco, solicitando relatórios diários sobre o número de sacerdotes executados (ROYAL, 2001, p. 65).

No final de 1922, todas as igrejas de Petrogrado foram fechadas pelo exército e todo o clero, incluindo o bispo, foram presos e enviados para Moscou. Por toda a URSS, bispos e sacerdotes, acusados de agir em favor da Polônia ou do Vaticano, foram presos e enviados aos campos de trabalho forçado. Outros, brutalmente assassinados. Católicos de origem polonesa e rutenos da Ucrânia foram massacrados, outros enterrados vivos. Na costa do mar Negro, uma população católica descendente de alemães composta por 200 mil pessoas, foi deportada para a Sibéria e Cazaquistão. Mesmo com a precária situação econômica, teve início uma maciça propaganda ateísta que consumia grandes somas de dinheiro para desacreditar a Igreja com piadas grosseiras e falsas acusações contra o clero com o intuito de apresentar a Igreja como a responsável pelos males e que, portanto, deveria ser odiada. Acusados de conspiração ou atos de terrorismo (o que correspondia a ensinar o catecismo, por exemplo) as condenações iam da prisão perpétua à pena de morte. Igrejas, hóstias e objetos religiosos foram profanados. Na Ucrânia, das 68 igrejas, 52 tiveram seus objetos e fundos roubados pelo Estado (ROYAL, 2001, pp. 68-72).

Já em 1923, o número de padres católicos na Rússia caiu de 245 para setenta. Entre 1917 e 1925, duzentos mil católicos desapareceram sem deixar rastro. Em Moscou e São Petersburgo, centenas de leigos, religiosos e sacerdotes, incluindo toda a comunidade de freiras dominicanas foram presos e até hoje não se conhece seu destino final. Em 1924, não havia sequer um único bispo católico em liberdade na URSS (ROYAL, 2001, p. 73). Dez anos mais tarde, das 3300 igrejas e duas mil capelas católicas existentes na Rússia pré-revolucionária, ficaram abertas apenas duas que eram usadas pelo governo para demonstrar á comunidade internacional a liberdade religiosa existente na URSS.

Durante o regime de Stálin, o ditador levou a diante a limpeza religiosa no país. Cooptou a grande maioria da Igreja Ortodoxa Russa, principalmente após seu ato nacionalista contra os nazistas em 1943 e pressionava os católicos a abandonar Roma e aderir à Moscou. A mão de Stálin pesou principalmente sobre a Igreja Católica Grega, na Ucrânia. Em 1929, foi deflagrada uma perseguição aos padres católicos da Ucrânia. No ano seguinte, centenas de leigos e 35 padres foram presos e enviados para as ilhas Solovetski, no mar Branco, um campo de concentração para onde a maioria dos religiosos era enviada para trabalhos forçados.

Os soviéticos queriam que os prisioneiros construíssem um canal entre o mar Branco e o Báltico. Frequentemente, o trabalho consistia em ordens do dia extenuantes, que determinavam o transporte de blocos de gelo ou de neve ou o corte de madeira. A alimentação era tudo menos adequada ao tipo de trabalho e aos rigores do clima. Os barracões onde dormiam estavam de tal maneira sobrelotados que se tornava difícil respirar lá dentro. O sistema tinha sido pensado por forma a vergar lentamente os prisioneiros, com exceção dos mais fortes, extorquindo-lhes a maior quantidade possível de trabalho manual durante 16 horas por dia, sete dias por semana. Em conclusão, tratava-se de uma verdadeira escravatura (ROYAL, 2001, p. 83).

Sacerdotes e freiras eram retratados como grupos fanáticos que planejavam atos terroristas, atentados contra Stálin e o regresso ao capitalismo. Homens e mulheres da Igreja eram presos e torturados com choques elétricos e banhos frios em pleno inverno russo para que delatassem pretensos planos conspiratórios contra o regime. Sacerdotes greco-católicos tinham seus filhos ameaçados de morte. Muitos morreram nestas sessões ou acabaram seus dias num manicômio.

Em 1929, os cultos religiosos foram proibidos até mesmo nos campos de concentração. Os religiosos presos foram proibidos de usar o hábito e fornecer qualquer auxílio espiritual aos outros presos. Mas o pior ainda estava por vir. Em 1937, Stálin determinou que os ministros religiosos fossem presos “para que sejam imediatamente executados os elementos mais perniciosos através de medidas administrativas adotadas nas sessões das troikas” (WENGER apud. ROYAL, 2001, p. 63) e a medida também foi estendida aos que já estavam presos. Nicolai Yezhov, ministro de assuntos internos, se encarregou de aplicar tal determinação contra homens e mulheres da Igreja em prisões, campos de trabalho forçado, colônias e que já tivessem sido julgados por crimes ou se encontrassem em liberdade depois de cumpridas as penas. Foram rejulgados e a maioria condenada à morte (ROYAL, 2001, pp.63 e 78).

Se a perseguição à Igreja na Ucrânia já era uma realidade desde 1929, onde todos os seminários foram encerrados, os periódicos católicos proibidos de circular e as escolas católicas suprimidas, após a Segunda Guerra a situação se tornou insustentável. Acusados de colaboracionismo com os nazistas – de fato, no princípio, os nazistas foram vistos pelos ucranianos como libertadores do jugo soviético – e de serem agentes da Polônia e do Vaticano, os greco-católicos passaram a ser reprimidos sistematicamente pelo regime soviético, sobretudo na Ucrânia Ocidental, onde o número de católicos era maior.

Em 14 de março de 1945, Georgii Korpov, presidente do Conselho para os Assuntos da Igreja Ortodoxa Russa, apresentou a Stálin a Instrução 58 que propunha liquidar a Igreja Católica Grega na Ucrânia. Utilizando-se de católicos simpatizantes do regime, pressionaria os greco-católicos a unirem-se ao patriarcado de Moscou. A estratégia incluía uma série de propagandas anticatólicas acusando a Igreja Católica de colaborar com os nazistas durante a guerra e com o “império americano” no pós-guerra e, portanto, inimiga do povo ucraniano e promotora de seus males (ROYAL, 2001, pp. 102-103). No mês seguinte, os bispos se recusaram a aderir à Igreja Ortodoxa e foram presos. Somente um bispo ficou em liberdade, Teodor Romzha, que foi assassinado num hospital por uma agente da KGB disfarçada de enfermeira. A prisão era um claro sinal do destino que aguardava clérigos e leigos que recusassem a assimilação. Conforme afirma Royal (2001, p. 104), estes bispos foram condenados a longos anos de prisão. Uns morreram durante sessões de tortura, outros acabaram suas vidas nos campos de concentração.

No ano seguinte, veio o golpe final: a Igreja Católica na Ucrânia era composta por quatro dioceses, oito bispos, 2772 paróquias, 4119 igrejas e capelas, 142 mosteiros e conventos, 2628 padres diocesanos, 164 monges e 773 freiras, 229 seminaristas e mais de quatro milhões de fiéis. Foi simplesmente abolida, posta na ilegalidade. Bispos, padres e leigos que resistiram acabaram em campos de trabalho forçado, mortos pelo cansaço, executados ou exilados (ROYAL, 2001, p. 94).

Como a maioria dos registros das ações contra os católicos na URSS continuam indisponíveis aos pesquisadores é difícil afirmar quantas foram as vítimas da repressão soviética.

O que podemos, contudo, afirmar com segurança, à luz de documentos já disponibilizados, é que 344 clérigos, nos quais se incluem basicamente bispos, padres diocesanos e membros de ordens religiosas, constam dos registros oficiais como “reprimidos”. Só na Ucrânia, mais meio milhão de leigos foi preso ou mandado para o exílio interno, parte dos quais, sem dúvida, exclusivamente por motivos religiosos (ROYAL, 2001, p. 109).

Nos países comunistas do Leste europeu, os católicos eram proibidos de ascender profissionalmente. A vida daqueles que faziam parte da Igreja era obstaculizada nas universidades. As crianças eram desencorajadas a aprender religião desde o ensino primário, posto que a continuação dos estudos universitários podia ser barrada por este motivo. Os católicos formavam uma casta inferior nos países comunistas ocupando os postos de trabalho mais humildes e mal remunerados. Um verdadeiro apartheid.

Após a Segunda Guerra Mundial, o Leste europeu caiu sob o domínio do comunismo e entrou na órbita da URSS. Na Polônia, entre 1945 e 1947, mesmo anterior a perseguição aberta, cerca de duzentos padres mais influentes simplesmente desapareceram (ROYAL, 2001, p. 270). Após as eleições de 1947, o regime comunista passou a tratar a Igreja como era típico, confiscando seus bens, expropriando hospitais e escolas religiosas e proibindo publicações católicas. A propaganda governamental, assim como na Ucrânia, acusava a Igreja de colaborar com os nazistas e o clero, de imoralidades. No ano seguinte, quatrocentos padres estavam encarcerados e um entre eles já havia sido condenado à morte (ROYAL, 2001, p. 270).

Na Hungria, a Igreja Católica sempre esteve próxima ao governo e este relacionamento manteve-se com o regime comunista. Contra este improvável casamento, levantou-se o cardeal primaz da Hungria, Joszef Mindszenty, que acabou preso com outros seiscentos padres. Torturados por quarenta dias ininterruptos e ameaçados de deportação para trabalhos forçados na Sibéria, capitularam. Sendo assim, a Igreja perdeu sua força na Hungria tendo como resultado o confisco de todas as escolas religiosas e o banimento de todas as ordens religiosas húngaras fazendo com que dois mil religiosos tentassem fugir do país. Muitos foram presos e mortos (ROYAL, 2001, p. 273).

Em 1950, o governo da Tchecoslováquia eliminou as ordens religiosas transformando os mosteiros e conventos em campos de concentração onde os próprios religiosos eram mantidos presos e condenados a trabalhos forçados. Setenta e cinco por cento dos quinze mil religiosos, metade dos sete mil padres e milhares de leigos foi condenada a trabalhos forçados em regime de escravidão e enviados às minas e pedreiras do país (ROYAL, 2001, p. 277).

Na Albânia, o regime comunista aplicou os métodos de perseguição tradicional: fechou jornais católicos, confiscou bens da Igreja, nacionalizou escolas, creches e hospitais. Padres e leigos que protestavam eram presos e expulsos do país se fossem estrangeiros. A Ação Católica foi desmantelada. O governo tentou criar uma igreja nacional pressionando o clero a abandonar a comunhão com Roma. A hierarquia católica recusou com veemência. As conseqüências da recusa não demoraram a vir: padres e religiosos estrangeiros foram expulsos; em 1945, a Companhia de Jesus foi considerada ilegal; em 1947, foi a vez dos franciscanos serem banidos do país. Membros do clero foram presos, torturados e condenados à morte. Certa vez, vinte clérigos foram fuzilados de uma só vez. As execuções eram transmitidas pela rádio. Quem escapasse da morte era condenado a trabalhos forçados (ROYAL, 2001, p. 293). Em 1948, havia somente um bispo vivo e livre na Albânia. Mas não era apenas o clero que sofria todas estas atrocidades. Milhares de leigos que não se declararam publicamente contra o clero foram presos e torturados. Não se sabe o número exato de leigos executados, mas as penas variavam entre o fuzilamento e a fogueira. Em 1949, o confisco das propriedades da Igreja foi levado a cabo. Templos eram convertidos em prédios públicos. A catedral de Shkodra tornou-se um ginásio de basquete. Freiras foram expulsas dos conventos e proibidas de usarem o hábito. O governo exigiu que as instituições religiosas apresentassem suas constituições para que fossem oficializadas. Todas foram aprovadas, menos as dos católicos (ROYAL, 2001, p. 295).

Tal como todos os outros países comunistas, a Albânia declarou que a família era “reacionária” e tentou fazer com que as crianças informassem as entidades oficiais quando os pais lhes dessem instrução religiosa em casa. Os pais foram proibidos de dar aos filhos nomes “religiosos”. Uma família que rezasse o terço em casa podia apanhar cinco anos de prisão; ensinar o sinal da cruz a uma criança podia implicar um castigo semelhante. A mera posse de literatura religiosa podia levar à pena de morte. [...] Dos 156 padres existentes antes do início da perseguição, 65 foram martirizados e 64 morreram durante ou após o encarceramento (ROYAL, 2001, p. 298).

A Lituânia sempre foi conhecida pelo fervor religioso de sua população. A grande maioria do povo lituano era formada por católicos quando começaram as perseguições na década de 1940. O sentimento católico era um obstáculo ao domínio da URSS. Mais de um milhão de lituanos foram enviados aos campos de concentração soviéticos. A perseguição na Lituânia seguiu o conhecido roteiro: confisco de escolas e instituições católicas e fechamento das publicações da Igreja; o casamento religioso foi considerado ilegal e os feriados religiosos abolidos. Durante apenas um ano, “todos os padres do país experimentaram a detenção, a prisão ou os interrogatórios” (ROYAL, 2001, p. 307). Cerca de 150 dentre eles foram torturados para que abandonassem a Igreja. Vários morreram. Após a Segunda Guerra, a Igreja na Lituânia viveu um curto período de paz. Porém, a perseguição retomou sua força. Sacerdotes eram proibidos de dar assistência religiosa a prisioneiros e enfermos. Os professores eram obrigados a ensinar o ateísmo. Os seminários foram encerrados. O governo proibiu as celebrações religiosas e impôs impostos abusivos sobre os edifícios da Igreja. Todos os bispos, os superiores de ordens religiosas e grande número de padres foram presos (ROYAL, 2001, p. 309). Em setembro de 1947, os lituanos escreveram clandestinamente uma carta ao papa Pio XII denunciando as atrocidades contra o povo.

Entre os abusos especificamente religiosos, a carta refere à pressão para criar uma igreja nacional separada de Roma, a prisão sumária e o desaparecimento de padres que se recusaram a tornarem-se informantes do regime, a vigilância generalizada das atividades religiosas, a supressão de associações católicas, bem como da imprensa, das escolas, dos seminários, dos hospitais e de obras de caridade, entre muitas outras coisas. Os detidos eram submetidos a torturas e muitos deles enlouqueceram, a comida eram-lhes tirada e o sono interrompido; a sentença mais “simpática” correspondia a dez anos na Sibéria. Aqueles que sobreviviam à viagem de um mês praticamente sem água nem alimentos não duravam, regra geral, mais de cinco anos. Por meio destes meios diretos e indiretos, mas sempre cuidadosamente ocultados, os soviéticos conseguiram ver-se livres de muitos clérigos e leigos sem darem origem a célebres mártires (ROYAL, 2001, p. 309).

Em 1948, o Partido Comunista da Romênia assume o poder e impõe o regime marxista à nação. Havia um milhão e meio de católicos no país. No final do regime, restarão apenas 500 mil. A Igreja Católica na Romênia era formada por católicos de rito latino e de rito grego. O governo cooptou a Igreja Ortodoxa Romena e esta, sob pressão, convocou um sínodo para declarar que os católicos gregos estavam integrados à ela. Assim, “em 1948, a Igreja Católica Grega foi liquidada, as milhares de igrejas que detinham foram confiscadas e convertidas para o uso dos ortodoxos” (ROYAL, 2001, p. 316). Havia seis bispos greco-católicos na Romênia e todos foram presos acusados de traírem à nação por estarem a serviço de uma força estrangeira, o Vaticano. Sofriam pressão para aderirem à Igreja Ortodoxa. Todos rejeitaram e morreram na prisão. Seiscentos padres foram presos; metade deles morreu na prisão. Nos presídios, eram torturados para que se “convertessem” à ortodoxia. A inventividade das torturas era enorme: ia dos tradicionais choques elétricos e queimaduras a estadias em esgotos infestados por ratazanas. Um quarto dos sacerdotes cedeu, passando à Igreja Ortodoxa.

Não foi apenas a Igreja Católica Grega que sofreu. A Igreja Católica de rito latino era vista como “o único obstáculo à democracia na Romênia”, como afirmou o secretário-geral do Partido Comunista, Gheorghiu-Dej, “e que o governo não permitiria que os cidadãos católicos obedecessem às ordens de líderes estrangeiros, como o Papa, que agia a serviço dos Estados Unidos” (ROYAL, 2001, p. 321). Vários sacerdotes desapareceram e foram assassinados. Segundo Royal (2001, p. 322), “em junho de 1949, não havia nenhum bispo católico romano em atividade na Romênia, quase todas as igrejas estavam fechadas, os católicos romanos tinham uma marca especial no bilhete de identidade”. Dezenas de paróquias estavam ocupadas por milícias.

Apesar da violência que em nada deixa a desejar quando comparada a que sofreram outros grupos religiosos ou raciais, o número de vítimas nas perseguições aos católicos na URSS e nos países comunistas do Leste europeu ainda são desconhecidos. A historiografia pouco se ocupa em pesquisar e relatar o sofrimento imposto aos católicos nos países onde os regimes marxistas triunfaram. A memória dos inúmeros roubos, expropriações, abusos, torturas e assassinatos é mantida, sobretudo, por historiadores que tenham alguma ligação com a Igreja Católica.




14 de jan. de 2012

Os Primeiros Discípulos de Jesus

A Boa Notícia de Jesus Cristo

João 1, 35-42

“Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus” (Jo 1, 37)

André e João eram discípulos de João Batista. Este, sabendo que tinha vindo ao mundo com a missão de preparar os caminhos do Senhor, testemunhou que Jesus era o cordeiro de Deus e lhes apontou Aquele que tira o pecado do mundo, o que fez com que imediatamente os seus discípulos O seguissem. Seguem-No sem saber direito quem realmente Ele é. Confiam nas palavras daquele que consideravam um profeta. Pensam ser apenas mais um mestre e assim o chamam.

Querem saber onde Jesus mora para que possam visitá-Lo, ouvi-Lo outras vezes. Porém, o Filho do homem não tem onde recostar a cabeça. Quem quiser ser seu discípulo, terá que viver com Ele. Jesus não tem habitação, não é o Templo sua residência. Ele próprio é o Templo, é Nele que devemos habitar, onde encontraremos repouso. Mas, para habitar no Templo do Senhor, devemos ter as mãos limpas e o coração puro. Após ficarem com

Ele algumas horas daquele dia, já percebem que Jesus não é apenas um mestre ou um profeta como São João Batista. O reconhecem e O anunciam como o Messias, o Cristo Salvador. Não nos basta apenas ouvir Suas palavras, admirá-las ou sermos ritualistas pensando que só por ir à igreja e fazer algumas orações, apesar de indispensável, seja o suficiente. Para segui-Lo temos que fazer a Sua vontade renunciando a nossa.

Após ficar aquele fim de tarde com Jesus, André sai a procura de seu irmão Simão e lhe conta que encontraram o Messias. Leva-o ao Senhor e este já, em seu primeiro encontro, troca o nome de Simão para Pedro, significando sua missão futura de ser fundamento da unidade de Sua Igreja. E este encontro pessoal com Jesus Cristo nos abre ao apostolado. Quem já experimentou este maravilhoso encontro sabe que espontaneamente surge dentro de nós o desejo de levar a todos para encontrar-se com o Cristo.



13 de jan. de 2012

Jean Wyllys avisa: O Papa que se cuide!

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL – RJ) ficou indignado após o Papa Bento XVI declarar o que todo o mundo está cansado de saber: as práticas homossexuais são pecados e não se deve promovê-las com a legalização das uniões homoafetivas. Grande novidade! Mas o deputado, pela internet, atacou gravemente o Papa: “O papa suspeito e acusado de ser simpático ao nazismo disse que o casamento civil igualitário é uma ameaça à humanidade. Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e os abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo. Espero que os estados laicos do Ocidente não cedam à pressão desse genocida em potencial”.

Se as declarações do Papa não foram nenhuma novidade, as acusações do deputado também não é. Aliás, são as mesmas acusações de sempre. Interessante é notar que os Papas se sucedem e as acusações continuam as mesmas: fascista não era Pio XI? Não era Pio XII, o nazista? Após a acusação do nobre deputado, pergunto eu: ele incomoda Bento XVI? De maneira alguma. A diferença entre os dois, mal comparando, está como do diabo para Deus. Acusado pela própria consciência, Jean Wyllys ataca o Papa. O Sumo Pontífice nem toma conhecimento de quem seja ele. Seu discurso foi corajosamente dirigido ao corpo diplomático do Vaticano. O deputado fala para meia dúzia de “fãs” em um ataque de chilique na internet. Como comparar o professor doutor Joseph Ratzinger, um dos maiores intelectuais e teólogo do século XX, poliglota, autor de dezenas de livros e centenas de artigos, com Jean Wyllys? Vejamos: Jean Wyllys era tido como um intelectual que participou do Big Brother Brasil – se bem que, comparado aos outros participantes, até um chimpanzé bem adestrado passa por intelectual.

Como professor (sem trocadilhos, ok), esperava-se mais de Jean Wyllys. Sua capacidade de argumentação é essa? Só isso para um intelectual? Está certo que Jean Wyllys é graduado em jornalismo, ou seja, segundo o STF, exerce uma profissão, cujo exercício não requer nem mesmo um diploma. Mas, continuemos. Como já foi dito, Jean Wyllys participo do BBB. Que professor fica três meses trancafiado numa casa? E seus alunos, como ficam nisso tudo? Parece que suas aulas não eram tão prescindíveis assim e, após vencer o programa, foi trabalhar com Ana Maria Braga. Mas também fracassou lá. Não me admira. O Louro José me parece mais inteligente. Assim, como ex-BBB, tentou a vida na política (este artigo parece coisa da Desciclopédia, mas não é).

Candidatou-se a deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro. Crendo na sua “grande” popularidade demonstrada nos milhões de votos na final do BBB, Jean Wyllys achou que ia ser moleza. Talvez se esqueceu que o mesmo público que lhe deu um milhão de reais no reality show, deu R$ 1,5 milhão para o “homofóbico” Marcelo Dourado. Resultado: recebeu pífios 13.018 votos. Não recebu os votos de protesto ou de zombaria como recebeu o Tiririca, não foi votado por ser uma pseudo-celebridade. Foi solenemente ignorado. O referido deputado não tem representatividade. Não representa ninguém. Graças à expressiva votação de seu colega de partido, Chico Alencar, foi eleito pelo quociente eleitoral e não pelo povo. Assim, Jean Wyllys quer mostrar serviço. E uma maneira encontrada foi descarregar seu preconceito contra os religiosos. Já sugeriu censurar pastores e padres. Sugeriu cassar a concessão de canais que veiculam programas religiosos que mencionem o homossexualismo. O que incomoda Jean Wyllys não são os pastores, o Papa, a Bíblia, mas sua própria condição.

Entre as falácias do paseudo-intelectual, tenho que concordar com algumas verdades. Realmente o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e os abusos sexuais são ameaças para a humanidade. Mas também são o comunismo, cujo deputado é adepto, o homossexualismo, a destruição da família, o aborto e todas as formas de atentados contra a vida. A outra acusação soa até como piada: “genocida em potencial”. O que seria isso? Genocidas têm algo em especial? Creio que não. Em potencial podemos ser qualquer coisa, boas ou más. Ou não? Se procurarmos motivações para genocidas podemos analisar alguns casos específicos: há muitos historiadores que afirmam que Alexandre Magno era gay e suas campanhas pela Ásia massacraram um milhão de pessoas; o general romano Júlio Cesar mantinha relações homossexuais e exterminou a população gaulesa; o imperador Adriano, homossexual público, esmagou os judeus e extinguiu a Judeia; alguns estudos sérios apontam o homossexualismo de Adolf Hitler! Pois bem, seria o homossexualismo um desencadeador das práticas genocidas em potência dentro de todos os seres humanos? Pouco provável, não?

Vamos ao paradoxo do ex-BBB, ex-Mais Você, Vossa Excelência, o deputado federal Jean Wyllys: começa pelo nome de seu partido PSOL, Partido Socialismo e Liberdade. Convenhamos que somente numa sigla de partido os dois conceitos podem aparecer juntos. Exemplos temos aos montes e nem precisamos citar a falecida URSS: aí está Cuba, China, Coreia do Norte que não nos deixam mentir. Jean Wyllys é filiado a um partido comunista. Talvez ele se esqueça que o homossexualismo era visto pelos marxistas como a maior prova da degeneração que se encontrava a sociedade capitalista. O homossexualismo era crime previsto na constituição da URSS; em Cuba, homossexuais eram enviados para campos de trabalho forçado, mortos ou exilados. O deputado não sabe destas ações de seus correligionários? Caríssimo deputado, agradeça a Deus – caso creia Nele – por viver em um dos “países laicos do Ocidente”, no mundo livre criado pelo cristianismo, onde transar com qualquer um nem ilegal é. Que bom vivermos em plena democracia onde cada pessoa pode expressar suas ideias e opiniões. O que é certo é que Jean Wyllys passará pela Câmara como mais um deputado exótico, como o índio Juruna e o palhaço Tiririca.

Para terminar, afirmo que as acusações contra a Igreja taxando-a de homofóbica é infundada. Se a Igreja (o Papa, os bispos, os padres e demais fieis) odiasse àqueles que praticam atos homossexuais, não se preocuparia com suas almas, ao contrário, deixando-os em seus pecados, veria, com prazer, todos condenados eternamente ao inferno. A Igreja oferece outro caminho àqueles que sofrem (é exatamente esta a palavra) no homossexualismo. As pessoas homossexuais são livres, podem escolher a vida que querem viver sem patrulhamento ideológico, sem pressão de pretensos grupos que querem defendê-las. Não precisam se “assumir”, manchar suas almas. Há outro caminho: Jesus Cristo, onde todos podem viver na graça e no Espírito de Deus.



8 de jan. de 2012

Epifania do Senhor

Mateus 2, 1-12

“Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.” (Mt. 2, 12)

Hoje comemoramos a Epifania do Senhor. Jesus é apresentado a toda humanidade representada pelos magos pagãos vindos do Oriente. A Tradição sempre representou os magos como originários dos três continentes até então conhecidos quando Jesus nasceu exatamente para demonstrar a universalidade da mensagem de Jesus. Sua salvação se estende a toda a Terra e não somente aos judeus.

Aqueles magos, sábios vindos do Oriente, puderam, através dos sinais da natureza, serem guiados até Cristo. Neste mundo onde se rejeita Deus e se idolatra a tecnologia e o cientificismo domina as mentalidades e que considera-se ignorantes àqueles que creem em Deus, os sábios do Oriente mostram que Deus pode ser encontrado através da razão por aqueles que O procuram. Mas não basta encontrá-Lo pelos estudos, formular uma teoria sobre Ele. É preciso ir adorá-lo, mover-se, mudar de vida, andar por outro caminho. O evangelho não é uma ideologia, mas o encontro pessoal com Jesus Cristo ressuscitado.

O rei Herodes também convocou os sábios do Reino. Através da razão também poderia descobrir o Cristo. Porém, seu orgulho, o temor de perder o trono (ou seja, ter que mudar de vida) para aquele que era verdadeiramente o rei dos judeus, já que ele, Herodes, era o rei dos judeus, fez com que planejasse eliminar Jesus. Quantos filósofos e pensadores não pretenderam e pretendem fazer isto quando se sentem incomodados pela existência de Deus. Que a exemplo dos magos, encontremos, adoremos a Cristo e nos convertamos.



5 de jan. de 2012

Genocídio silencioso: a perseguição aos católicos na Europa na primeira metade do século XX


Terceira parte: Espanha (1931-1939)

Quarta parte: Alemanha e territórios ocupados pelos nazistas


Resumo
O presente artigo tem o objetivo de demonstrar, através da revisão bibliográfica das obras de diversos autores especializados na história da perseguição aos católicos contemporâneos e história da Igreja, a tentativa de uma eliminação sistemática sofrida pelos católicos da Europa nas primeiras décadas do século XX, com destaque para a Espanha, URSS e países do bloco soviético e para a Alemanha nazista e as nações dominadas pelo nazismo. Esta perseguição foi motivada por ideologias laicistas, materialistas e ateias que surgiram durante os séculos XVIII e XIX e que influenciaram os regimes democráticos e totalitários do século XX. Estes fatos na história da Igreja Católica geram pouca repercussão nos organismos internacionais e veículos de comunicação, na historiografia e, principalmente, é evidente o descaso às vítimas católicas deste genocídio no ensino de História.

Palavras-chave: Perseguição aos católicos. Igreja. Totalitarismo. Comunismo. Nazismo.


Introdução

A perseguição aos católicos – e aos cristãos em geral – sempre foi um fato constante desde o surgimento da Igreja. As histórias dos mártires apresentados como modelos de perfeição cristã mostram isto, mas o século XX foi pródigo em regimes e ideologias que procuraram sistematicamente exterminar a Igreja Católica. Em nenhuma outra época da História os católicos foram tão perseguidos, torturados e mortos através de meios estatais. Como afirma Royal (2001), um verdadeiro genocídio pouco documentado pela História geral e pouco divulgado pela grande mídia. Portanto, um genocídio silencioso. Apesar de não se saber ao certo o número de vítimas,

Um universitário americano, David B. Barett, diretor da seriíssima Christian World Encyclopedy, julgou poder apresentar o número de 40 milhões de mártires cristãos desde a época de Cristo até hoje, dos quais 26,7 no século XX (DELUMEAU, 2007, p. 36).

Já no início do século, a Revolta dos Boxers, na China, vitimou 30 mil cristãos, incluindo cinco bispos e dezenas de padres. Entre 1915 e 1917, número semelhante de leigos foi morto pelos turcos otomanos na Armênia, juntamente com sete bispos, 126 padres e 47 freiras. Outra onda de perseguição que merece destaque aconteceu no México após a revolução de 1917, sobretudo no governo de Plutarco Elias Calles (1924-1928) onde foram mortos e expulsos centenas de padres e assassinados cerca de 5300 leigos (ROPS, 2006, p. 437). Apesar de as perseguições terem ocorrido em todas as partes do planeta durante todo o século XX, esta tentativa de aniquilar a Igreja mostrou-se mais violenta na Europa, especialmente durante a primeira metade do século XX. As raízes que levaram os diversos regimes a combaterem os católicos encontram-se nos dois séculos antecedentes. Desde o Iluminismo no século XVIII, passando pelas ideologias materialistas e ateias do século XIX, que culminaram no liberalismo, no nazismo e no marxismo, concepções filosóficas e políticas inspiraram o extermínio da Igreja.

Por mais antagônicas que estas ideologias possam ser ou pareçam ser, todas têm em comum o fato de considerar a Igreja Católica “como reacionária, opositora do progresso social e apologista de várias formas de exploração, acusada de inimiga da humanidade, e que, portanto, deveria ser eliminada para ceder lugar a uma sociedade melhor” (ROYAL, 2001, p. 26).

Foram os filósofos do Iluminismo francês do século XVIII que iniciaram a ferrenha campanha moderna anticatólica. Atrelada ao Antigo Regime, a Igreja foi taxada como aliada da nobreza e inimiga do povo. Voltaire é, senão a principal, a mais conhecida personalidade do Iluminismo. Segundo Gray (1999, p. 7), Voltaire passou toda a vida pregando uma fé secular, procurando a substituição do cristianismo pela crença humanista e instigando, para isso, uma paradoxal intolerância e violência tão combatidas pelo filósofo. Tornou-se famosa a expressão de Voltaire referindo-se à Igreja: “Esmaguem a Infame”. Os revolucionários franceses tentaram cumprir à risca esta ordem e como a Igreja Católica não é uma abstração, mas é composta de homens e mulheres, estes foram as vítimas do conselho de Voltaire posto em prática. Neste caldo filosófico, explode a Revolução Francesa, cujos ideais liberais incluíam a eliminação da Igreja.

Discípulos dos filósofos e dos enciclopedistas, os revolucionários inspiraram-se diretamente nos seus ensinamentos, e, tal como eles, foram unânimes, apesar das suas divergências, em querer eliminar o cristianismo e obrigar a bater em retirada o Deus revelado dos cristãos (ROPS, 2003, p. 486).

Se não poderia ser eliminada, ao menos, a Igreja deveria ser submissa ao Estado francês, como ficou claro na Constituição Civil do Clero (1790). Os clérigos e religiosas que não prestaram juramento à Constituição foram perseguidos e guilhotinados.

A Revolução Francesa abriu caminho às demais ideologias que defendiam a eliminação da Igreja. Os pensadores do século XIX consideravam-se herdeiros dos iluministas e “por todo o século irão desenvolver-se, sempre no sentido da irreligião total, doutrinas que culminarão naquilo que, [...] Nietzsche, profeta do abismo, definirá numa palavra inesquecível: a morte de Deus” (ROPS, 2003, p. 487).

O plano destes pensadores era desonrar a Igreja, desacreditá-la perante o povo e a opinião pública. A crítica racionalista pôs em xeque o Jesus histórico e as bases da Igreja. O anticlericalismo dominou a literatura e a imprensa. A historiografia fornecia uma poderosa arma: espalham-se os horrores da Inquisição, o processo de Galileu, a papisa Joana, a libertinagem dos Bórgias e a civilização cristã da Idade Média é apresentada como cruel, ignorante e obscura (ROPS, 2003, p. 513).

Várias correntes de pensamento pregavam o fim da religião como um todo e da Igreja Católica em particular. Destas, as que influenciariam todo o Ocidente no próximo século seriam o positivismo e o marxismo. O francês Auguste Comte desenvolve o positivismo, onde afirma que a religião – ou estado teológico – está ultrapassada e agora tudo deve ser explicado pela observação do real, pela experimentação e pela técnica. Comte institui a religião da humanidade cujo deus é o homem. Na doutrina filosófica de Karl Marx, a religião aparece como uma superestrutura do capitalismo que deve ser eliminada, pois é a principal causa da alienação do homem, é “o ópio do povo”. No desenvolvimento da sociedade comunista, a religião desapareceria porque não haveria razão de existir (ROPS, 2003, pp. 505-506).

Assim, colocadas as bases do mundo contemporâneo sobre o materialismo, lugar em que a religião não tem mais lugar e a Igreja Católica é vista como a maior ameaça e obstáculo na construção e avanço desta nova sociedade laicista, inicia-se, sob a morte de Deus preconizada por Nietzsche, o século XX que seria palco das piores atrocidades contra os católicos, vítimas de espoliações, humilhações, abusos, torturas e assassinatos jamais vistos em toda a História da Europa.



Leia a continuação deste artigo:

Segunda parte: URSS e países do Leste europeu

Terceira parte: Espanha (1931-1939)

Quarta parte: Alemanha e territórios ocupados pelos nazistas