Marcos 9, 30-37
“Sentando-se, chamou os Doze e lhes disse: ‘Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos’.” (Mc. 9, 35)
Jesus se prepara para ir à Jerusalém para a festa da Páscoa. Será a última. Jesus será preso pelos judeus, entregue aos romanos e estes o condenarão. Sabendo disso, pela segunda vez, Jesus adverte Seus discípulos de tudo o que acontecerá, inclusive que a cruz não será Seu ponto final, mas que ressuscitará depois de três dias, o que deixa Seus discípulos totalmente confusos, pois não entendem o que Ele quer dizer e não Lhe perguntam por medo, conforme nos revela o evangelista Marcos. Seria realmente o medo que os impede de perguntar ou, como a segunda parte do evangelho deste domingo deixa transparecer, o orgulho que começava a brotar entre eles fazia com que escondessem a dúvida para que não dessem a entender que não conseguiam compreender as palavras do Mestre?
Para todo aquele que procura a Verdade de coração sincero, o orgulho torna-se um obstáculo intransponível. A Verdade está em Jesus Cristo, aliás, Ele é a Verdade que se revela aos humildes e simples. Querer se arvorar em mestre na busca da Verdade põe tudo a perder. Para encontrar Jesus é preciso colocar-se como discípulo. Para aquele que tem dúvida – e quem não a tem? – sobre a própria existência e o sentido da vida e da História, querer descobrir tudo sozinho o fará ainda mais perdido. Nesta busca, poderá até percorrer caminhos falsos em outras religiões, encontrar uma parcela da Verdade em comunidades evangélicas, mas, para todos que buscam a Deus com toda a sinceridade, Este o conduz para a plenitude de Sua revelação. Basta deixá-Lo agir, ou seja, não se levar pelo orgulho.
Quando voltam a Cafarnaum, Jesus pergunta-lhes sobre o que discutiam no caminho. A vergonha toma conta do grupo, porque os Doze discutiam qual dentre eles era o maior, o mais importante do grupo. Jesus se senta. Parece um detalhe insignificante deste trecho evangélico, mas não é. Com isso, o evangelista demonstra a condição magistral de Jesus. O mestre judeu, o Rabi, sentava-se para ensinar. Nas sinagogas havia a “cadeira de Moisés” de onde o Rabi ensinava a doutrina. Jesus é o maior, o único mestre. Todo discípulo que um dia querer ensinar, deverá imitá-Lo. É imitando a Jesus que o discípulo se iguala a Ele. Sentado, o Mestre se mostra humilde, vulnerável, ao alcance de todos, inclusive dos pequenos, como o menino que Jesus abraça para ensinar a todos que ao receber um pobre, um pequenino deste mundo, recebe a ele próprio. Aquele que quiser ser o maior deverá colocar-se por último e servir a todos.
Na cruz, Jesus inverte a lógica deste mundo onde o poder, a riqueza, a ciência, a política – verdadeiros ídolos – podem colocar o homem no topo. É no fracasso da cruz que Jesus destrói a obra do demônio e instaura Seu Reino. No paradoxo de Jesus, para ser o maior é preciso rebaixar-se, humilhar-se, ou seja, ser como Ele mesmo, o Deus encarnado, rebaixado à condição humana, para abraçar a todos nós, pecadores, sofredores com os males deste mundo degenerado. Para ser o primeiro, é preciso amar a Deus e ao próximo com todo o coração, sacrificando a própria vida se este serviço assim exigir. E assim, o cristão deve utilizar-se do poder, da riqueza, da ciência, da política não como um status, não para levar vantagem sobre os outros ou aproveitar-se das benesses que tudo isto pode lhe trazer, mas para servir a todos, imprimindo a marca de Cristo em todo lugar e em todas as ocasiões do cotidiano.
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