Marcos 8, 27-35
“Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Mc. 8, 34)
Jesus está fora da Galileia, próximo a Cesareia, capital da antiga tetrarquia de Traconítide de Felipe, na nascente do rio Jordão. Lá, num momento de privacidade com os Seus discípulos, Jesus lhes pergunta o que o povo diz sobre Ele. Não é uma pesquisa de popularidade como costumam fazer os políticos e personalidades influentes. Jesus não está preocupado com isso; sabe que a Verdade que anuncia está longe de agradar a todos. Esta será uma lição importante àqueles que o acompanham e serão as colunas de Sua Igreja. A Igreja deve anunciar a Verdade, proclamar os direitos de Deus e a dignidade humana sem covardia, sem palavras adocicadas, sem meias-verdades. Não importam as ameaças, as pressões dos poderes políticos e econômicos. Obedecendo ao mandamento do amor, a Igreja deverá colocar Deus e Sua imagem e semelhança – o homem – sobre todas as coisas.
Os discípulos relatam a Jesus as opiniões que as pessoas têm sobre Ele. Uns acham que Ele é João Batista que tinha sido executado por Herodes e ressuscitado em seguida. Outros pensam que Ele é o profeta Elias que, segundo as profecias, deveria voltar ao mundo antes da vinda do Messias. Outros, ainda, acham que Jesus é algum dos profetas. Todas as opiniões não correspondem à verdade. Então, Jesus se dirige aos Seus discípulos: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Pedro responde, inspirado por Deus, que Jesus é o Messias. Sim, Pedro e Seus discípulos sabiam quem Ele era. Era o Messias (em grego, Cristo) prometido que viria resgatar o povo de Israel. Jesus impede que divulguem ao povo que Ele é o Cristo, pois a mentalidade corrente definia o Messias como um chefe militar, o rei de Israel que poderia fim ao domínio romano e restauraria o Reinado como no tempo de Davi.
Jesus ensina Seus discípulos que esta mentalidade estava errada ou pouco esclarecida. Era verdade que os profetas tinham anunciado o Messias, mas este seria o Servo sofredor e não um rei glorioso, sendo rejeitado por todas as autoridades e condenado à morte; se era verdade que era rei, Seu reino não era desse mundo. O Reino de Deus não seria um lugar geográfico, mas se estenderia pelo mundo todo e eram aqueles homens que estavam ali com Ele que começariam a estendê-lo pacificamente pelo globo terrestre. E este Reino seria instaurado com a vitória do Messias não sobre os romanos, mas sobre o pior dos inimigos: o pecado e a morte. Aquela mesma mentalidade popular sobre quem era o Messias também a tinha os discípulos. Pedro novamente intervém, porém, desta vez repreende o Mestre. Para ele, não tem cabimento que o Messias seja um derrotado. Jesus volta para ele e o coloca no seu lugar de discípulo, de aprendiz. Quantas vezes queremos saber mais do que nossos mestres! Somos rebeldes, desobedientes com as coisas de Deus e com a doutrina da Igreja, nossa Mãe e Mestra.
E Jesus ensina qual é o caminho que devemos seguir. O caminho é imitá-Lo. Quem quiser ser seu discípulo deverá segui-lo com a cruz. É na renúncia a nós próprios, às nossas más tendências, a tudo aquilo que nos faz sermos menos humanos que consiste no seguimento de Jesus. É o amor sem limites, ou seja, a entrega sacrifical e cotidiana da própria vida a Deus e ao próximo que chamamos de santidade. Se o Messias, morrendo por amor, venceu a morte para Seus discípulos a exigência não será diferente. Os acomodados, os conformados, os orgulhosos e egoístas jamais encontrarão a vida. Os que rejeitam seguir a Cristo vivem como zumbis. São corpos sem alma perambulando sem sentido e sem destino, ora entregando-se aos prazeres do consumismo, do tecnicismo, do sexo, das drogas, enfim dos vícios, ora caindo na desesperança e no nada existencial.
Não tenhamos medo de Jesus Cristo. Não creiamos naqueles que afirmam que Ele nos rouba a liberdade e nos impõe o sofrimento através de uma vida reprimida. Abramos o coração para o Messias, o libertador de nossas almas, que pode nos dar a vida eterna, vida esta que se inicia aqui e jamais termina. Não nos agarremos com toda a força nesta vida tão frágil e passageira, o que tem feito com que os homens cometam injustiças e pecados para mantê-la desesperadamente. As cruzes aparecerão nas nossas vidas, com ou sem Cristo, mas com Ele, toda e qualquer vicissitude da vida humana tem sentido e nos aproxima ainda mais de Deus.
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