Esses dias vejo rodando pelo Facebook uma petição contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu. Já assinei várias destas petições sobre outros assuntos. É uma boa forma de se manifestar, mas o efeito prático é nenhum.
Sobre o assunto não tenho opinião formada, pois o assunto não é tão simples, a começar pelos que são contra a usina: obscuras ONG's estrangeiras apoiadas por artistas hollywoodianos que defendem a internacionalização da Amazônia; antropólogos que se esforçam para que ribeirinhos e índios vivam como tal, nem que eles não queiram; artistas e intelectuais que moram em Ipanema ou no Leblon e só conhecem a "natureza" pelas janelas de suas coberturas; o holandês Greenpeace que defende a preservação de 61% dos nossos biomas, mas não se ocupa dos 0,8% do que sobrou de florestas em seu país de origem.
A construção da Usina de Belo Monte se arrasta por duas décadas. Depois de tantos esforços, sua construção foi autorizada pelos órgãos ambientais com a obrigação de reduzir ao máximo os impactos ambientais e sociais. É impossível construí-la sem causar algum impacto. Aliás, é impossível qualquer atividade humana sem que estes impactos ocorram.
Tudo deve ser levado em conta, principalmente os diretamente afetados e infinitamente mais importantes do que árvores e animaizinhos: as tribos indígenas e comunidades locais que dependem da extração e da pesca e das únicas rotas de transporte, os rios. A vida destas pessoas pode ser seriamente comprometida, levando-os à miséria extrema.
É fato que o Brasil escolheu o desenvolvimento industrial e para continuá-lo, necessitará de energia elétrica. É fato que as bacias hidrográficas brasileiras estão saturadas e não há outra região para se construir hidrelétricas senão a Bacia Amazônica; é fato que não há outra alternativa de geração de energia que seja limpa e rentável: as usinas eólicas dependem de ventos fortes e constantes e a energia elétrica que produzem é cara tanto quanto a das usinas fotovoltaicas. Restariam as usinas termelétricas (nos últimos anos o governo do PT investiu pesado na construção destas) altamente poluidoras e as usinas nucleares, que produzem energia elétrica barata, mas trazem todos os riscos que conhecemos.
Portanto, é preciso pensar duas vezes antes de assinar a tal petição, ainda que, repito, na prática não surtirá absolutamente nenhum efeito. Além de todos os argumentos pró e contra que nos levem ou deixem de assinar, também temos que pensar na nossa hipocrisia. O desenvolvimento econômico do Brasil está baseado no consumo. E o governo incentiva dia-a-dia o aumento do consumo. E o pior: CONSUMIMOS! E o que mais consumimos são aparelhos eletroeletrônicos, bugigangas tecnológicas, temos trocentos celulares, IPad, IPod, tablets, PC's, notebooks, TV's, etc, etc. O acesso a toda essa tralha nunca foi tão fácil no Brasil. Com isso, a demanda por energia elétrica aumentou, tanto nas fábricas como nas nossas casas.
Como manter nosso nível de consumo, nosso "conforto" sem que haja o aumento de produção de eletricidade? Os culpados são as empreiteiras e o governo? Ou somos tão alienados a ponto de não fazer ideia de como a eletricidade chega em nossas tomadas? Antes de assinar comodamente uma petição que não levará a nada talvez por desencargo de consciência, sugiro atitudes mais sérias: utilizem apenas o necessário, não saiam comprando aparelhos eletroeletrônicos quando não precisam deles, gastem menos energia elétrica. A doença é mais grave do que se imagina. E trata-se doenças graves com remédios amargos e muitas vezes dolorosos e não com qualquer aspirina.
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