Cristianismo sem a Eucaristia, sem a fé na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados como ensina a Igreja Católica, não passa de gnosticismo, ou pior, de mitologia. Explico. A encarnação de Deus em Jesus Cristo foi um escândalo para os judeus. Isso os levou a não reconhecê-lo como o Messias e condená-lo como blasfemador. De fato, não é fácil crer que aquele homem, que aparentemente não se diferenciava em nada dos outros homens e que foi macerado na cruz, fosse o Deus eterno e todo-poderoso. A divindade de Cristo Jesus estava velada por sua humanidade. Só era possível reconhecê-la com os olhos da fé. Poucos foram testemunhas oculares da ressurreição. Mas este desafio da fé continua quando Jesus institui a Eucaristia.
No final do sermão da Eucaristia na sinagoga de Cafarnaum (João, cap. 6), muitos deixaram de seguir a Jesus porque se escandalizaram com suas palavras. "Como pode este homem nos dar sua carne para comer e seu sangue para beber?". A Eucaristia prolonga o desafio da fé. Sob o véu do sacramento, esconde-se a humanidade e a divindade de Nosso Senhor. Só podem ser tocadas pela fé, como quando Cristo andava sobre a terra. A Eucaristia não é um símbolo. A Santa Ceia não pode ser uma ação simbólica, uma espécie de representação. O tempo dos símbolos passou com a vinda de Jesus. Na Eucaristia está o Cristo presente realmente. Sob as aparências do pão e do vinho está verdadeiramente o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Santa Missa não é uma representação da Última Ceia, mas é a atualização do sacrifício de Cristo.
A Eucaristia prolonga na História o mistério da encarnação de Deus em Jesus Cristo. O Verbo se fez carne e habitou entre nós. E nós acreditamos. Porém, mesmo sendo uma verdade de fé, não vemos mais o homem Jesus. Não tocamos Sua carne como seus contemporâneos há dois mil anos, lá na Terra Santa, podiam fazer. Não sentimo-nos desafiados a crer na Sua santa humanidade, porque a natureza humana de Jesus hoje está glorificada ao lado do Pai. Mas a fé na Eucaristia, na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados, nos permite tocar Sua carne verdadeiramente. A humanidade e a divindade de Cristo Jesus se escondem sob o véu do sacramento, como sua divindade estava escondida sob o véu da humanidade. O mistério da encarnação do Verbo se faz presente em cada Missa. É por isso que as heresias que negavam a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, como os gnósticos e os catáros, por exemplo, negavam primeiramente a encarnação real de Cristo.
Fiz estes dias, duas postagens sobre a relação entre a encarnação do Verbo e a presença real de Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados. Dizia que crer na encarnação do Verbo e não crer na Eucaristia, como é ensinada pela Igreja Católica, era gnosticismo. Pois bem, trago um trecho da carta que Santo Inácio, bispo de Antioquia, escreveu aos esmirnenses, mais ou menos no ano 107 d.C., quando era levado prisioneiro para ser martirizado em Roma. Santo Inácio foi discípulo dos apóstolos e combateu a heresia nascente do docetismo gnóstico. Eis o trecho da carta:
"Abstêm-se eles [os docetistas gnósticos] da Eucaristia e da oração, porque não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os que recusam o dom de Deus, morrem disputando."
Convém lembrar que o apóstolo São João escreveu o seu evangelho, no final do primeiro século, exatamente para combater o docetismo gnóstico que nascia. É por isso que o evangelho joanino é o mais explícito quanto à doutrina da encarnação do Verbo (cap. 1) e da Eucaristia (cap. 6).
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