4 de jun. de 2015

A Religião Ateísta: ateísmo puro é insuportável. Graças a Deus, não conheço um único ateu puro sangue

Richard Dawkins andou pelo Brasil. Sinceramente, não vi as repercussões. Dawkins é um dos pregadores do ateísmo militante, uma espécie de religião sem divindade. O ateísmo militante se organiza como uma religião. Tem pregadores, profetas apocalípticos, livros sagrados, oráculos, códigos morais e até santos e santas. Eu me irritava com a religião ateísta, porque via nela uma negação dos princípios do livre-pensamento, tão caro aos primeiros ateus. Mas não me irrito mais, ao contrário, vejo algumas vantagens nela.

A religião ateísta não é um fenômeno recente. Já nos primórdios do ateísmo, os ateus se organizaram em instituições para compartilhar suas ideias e fins comuns. A primeira foi na maçonaria, que não nasceu ateia, mas, por sua própria dinâmica e atração que exerceu sobre os ateus, tornou-se pouco a pouco. Depois, duas grandes correntes filosóficas atraíram os ateus: o positivismo e o marxismo. O positivismo de Auguste Comte era uma verdadeira religião. Fundaram-se até "igrejas" positivistas (a do Rio de Janeiro está lá até hoje). Porém, a maior expressão da religião materialista é o marxismo. O marxismo é um decalque do cristianismo numa complexa (ou simplória) explicação globalizante da História. Muitos textos marxistas são puros oráculos divinos comparados aos dos profetas bíblicos. É impressionante a semelhança.

Poderíamos citar outras correntes: o darwinismo, o cientismo (ou cientificismo) e até o espiritismo, religião que pode funcionar sem Deus. Estas correntes religiosas materialistas surgidas no século XIX, eu as chamo de "religiões ilustradas". Em comum, todas elas compartilham noções teleológicas: dão um sentido para a vida humana, explicam suas contradições, apontam caminhos para progredir, possuem um código moral e culminam na construção do paraíso terrestre. Finalmente, depois deste parêntese histórico, o porquê de o ateísmo militante não me irritar mais.

O ateísmo puro é insuportável. Graças a Deus, não conheço um único ateu puro sangue. Ateus nietzschianos são raros. Um ateu que crê em energias positivas (ou negativas), que torce pela recuperação de alguém que está doente, que simplesmente deseja sorte para um amigo que vai prestar vestibular ou felicidades para um casal recém-casado não pode ser um ateu puro sangue - ainda que muitos apelem a uma pseudo-ciência que respalda estas "crenças". O ateu puro não crê em nada disso. Crê nas forças cegas da natureza, nos condicionamentos psicológicos, nos determinismos biológicos. Não crê nem mesmo no amor, esta reação físico-química que serve apenas ao extinto de conservação da espécie. Mais uma vez, agradeço a Deus pela maioria dos ateus não ser pura, não ser nietzschiana, não ser niilista. O ateu puro só encontra dois caminhos: a loucura ou o suicídio.



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