23 de dez. de 2014

Especial de Natal: Rodrigo Faro na Terra Santa e um exemplo de anistoricidade dos evangélicos

Um dos grandes problemas dos protestantes e evangélicos em geral, que tende a piorar com os pentecostais, é sua anistoricidade. É fácil compreender, já que qualquer igreja protestante, evangélica, pentecostal, neopentecostal que se investigue a História, do presente para o passado, vai acabar numa ruptura. E os membros de quaisquer destas igrejas considerarão SUA História somente a partir da ruptura. Os protestantismos são feitos de rupturas sem fim. Um dia, debatendo com um evangélico, citei algo que Lutero tinha dito que contrariava o que ele pensava. Ele respondeu pura e simplesmente: "Não sou luterano"; e ele estava certo. Para ele, assim como para a maioria dos evangélicos, a História do cristianismo pula do século I para a fundação de sua igreja, independentemente do século - ou da década - e por quem tenha sido fundada. Alguns são tão radicalmente anistóricos que resvalam no gnosticismo. Bom, não fosse anistóricos, os evangélicos seriam católicos hehehe

Ontem eu assisti ao especial de Natal do Rodrigo Faro na Terra Santa. No geral, foi legal, mas o coitado teve que se ajustar ás diretrizes da IURD e aí algumas coisas ficaram a desejar. Foi um exemplo de anistoricidade. Os locais sagrados, como sabemos, são marcados na Terra Santa com uma igreja, seja católica, seja ortodoxa. Nenhuma foi mostrada. O Faro mostrou umas ruínas de casas em Nazaré (que estão no pátio da Basílica da Anunciação) e disse que a casa de Jesus era parecida. Se tivesse entrado na Basílica, teria podido mostrar parte da casa verdadeira de Jesus (a parte principal foi transportada pelos anjos para Loreto, Itália). Poderia ter andado mais um pouquinho e entrado na igreja de São José e mostrado a oficina onde o pai adotivo de Jesus e Ele próprio trabalharam. Faro foi a Cafarnaum, mostrou a sinagoga e as ruínas da casa de Pedro. O câmera, coitado, teve que fazer malabarismo para não mostrar a igreja construída sobre a casa. Foi a Caná da Galileia, entrou na igreja, mas não mostraram a igreja. Eu sei que entrou porque mostrou o subsolo, onde está a antiga sinagoga e há uma talha como a usada no milagre do vinho.

Em Jerusalém, Rodrigo Faro parou ao lado do pátio da igreja de São Pedro in Gallicantu, na beira da escadaria do Monte Sião. Disse que as ruínas que estavam sendo mostradas, eram da casa de Caifás. Não eram não. A casa de Caifás estava nas suas costas, sob a igreja do Gallicantu. Tivesse entrado na igreja, descido uma escadinha em espiral no canto esquerdo de quem entra e tinha ido direto para as ruínas da casa de Caifás, e poderia ter mostrado onde Jesus ficou preso na noite de quinta para sexta-feira. Em seguida, foi para a Via Dolorosa. Só Deus sabe quem disse para ele que uns corredores que ele mostrou fizeram parte da Fortaleza Antônia. Da fortaleza não existe mais nada, só um lajeado. Faro seguiu pela Via Dolorosa, mostrou umas estações, mas nenhuma capelinha que marca algumas delas. Comentou até aquelas estações que não são referidas nos evangelhos, mas são parte da tradição (as quedas de Jesus, o encontro com Nossa Senhora e com Verônica). Essa passou pela censura dos pastores.

A Via Dolorosa, como sabemos, termina na Basílica do Santo Sepulcro. Mas, neste momento, Faro se desviou - e muito! - da rota e acabou no Jardim de Gordon. O local conta com um rochedo, um jardim e um túmulo vazio que um oficial britânico, Gordon, no século XIX, encafifou ser o calvário, porque o rochedo lhe parecia uma caveira e aquele ser o verdadeiro túmulo de Jesus, tão somente porque estava vazio. Hoje sabemos pela arqueologia que o túmulo é do período bizantino e que tinha sido usado para vários sepultamentos. É um exemplo claro de desconsideração dos grandes trabalhos arqueológicos e a vasta documentação histórica que apontam com grande probabilidade para o Santo Sepulcro como o local da ressurreição, porém grande parte dos evangélicos defendem que ali, o Jardim de Gordon, é o verdadeiro local da ressurreição de Jesus. Coitado do Faro embarcou nessa e teve que mostrar uma mentira a seus telespectadores.



16 de dez. de 2014

Que mulher merece ser estuprada, Bolsonaro?

Que mulher merece ser estuprada? Nenhuma. Seja ela mãe, virgem, prostituta, criminosa, bonita, feia, deputada, jornalista, de esquerda ou de direita. É uma violência absurda que devasta, humilha e traumatiza as vítimas. O estupro é um dos piores crimes que existe. O estuprador deveria ser punido com a pena de morte. Além de crime sexual, o estupro foi e é usado desgraçadamente como instrumento de tortura e de vingança porque todos sabem o mal que causa.

Ninguém merece ser estuprada. Nem que o estuprador seja bonitão (faço menção a uma postagem que rodou pelo Facebook, uma brincadeira de muito mal gosto). Ou ser violada no que há de mais íntimo, ser tratada como uma coisa ou dominada como um animal é atenuado pelo fato de o agressor ser bonito? Deve haver quem goste destas coisas, há gosto para tudo. Mas há algumas mulheres - aquelas que deveriam ser as principais interessadas em tratar o assunto com a seriedade e gravidade que merece - que tratam o assunto com tanta imbecilidade quanto o Bolsonaro.

Bolsonaro é um daqueles parlamentares ricos em imbecilidade que abundam no Congresso Nacional. Seus inimigos políticos ficam na espreita para caçá-lo e cassá-lo e ele dá motivos para isso a cada cinco minutos. É um estuprador? Claro que não. Incita o crime? Claro que não. Ninguém sairá estuprando mulheres porque o Bolsonaro disse que há quem mereça (tanto porque se fossemos abrir denúncia de incitadores de crimes no Congresso o que seria dos apologistas do aborto e das drogas).

Sabemos que Bolsonaro abusa da retórica, mas argumentos deste nível não podem ser usados num debate, muito menos num debate político. É desonesto. Se é suficiente para considerar quebra de decoro, não sei. Mas que é uma imbecilidade, é.



8 de dez. de 2014

"Perdoar é divino. Só Deus perdoa"

Quantas vezes já ouvimos esta frase dita pelas pessoas, principalmente quando necessitam perdoar ou quando alguém que as tenha ofendido lhes pede perdão. Mas não foi isso que Jesus ensinou: na oração do Pai-Nosso, pedimos para que Deus perdoe nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam. Após ensinar o Pai-Nosso, Jesus enfatiza que o perdão de Deus é condicionado ao perdão que damos ao nosso próximo: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará" (Mt. 6, 14-15). Não podemos fazer uma oração mentirosa diante de Deus.

Com a mesma medida que medimos nossos irmãos seremos medidos por Deus. Jesus exige de nós um verdadeiro ato de heroísmo quando nos manda perdoar nossos inimigos, pessoas que muitas vezes nos ofenderam ou nos prejudicaram enormemente. Por mais grave que tenha sido o pecado cometido contra nós - e há gravíssimos - não temos o luxo de não perdoar, desde que acreditemos em Deus e constantemente peçamos o Seu perdão. Jesus nos conta a parábola daquele servo que devia - tragamos para os dias atuais - um trilhão de dólares para seu senhor. Sem poder pagar, o servo lançou-se aos pés do senhor e implorou o perdão. Cheio de compaixão, o senhor perdoou-lhe toda a dívida. Saindo da presença de seu senhor, o servo encontrou um colega que lhe devia 100 reais. Pegou este pela garganta e ameaçou mandar prendê-lo se não pagasse. Quando o senhor ficou sabendo da atitude do servo, mandou chamá-lo e revogou o perdão da dívida, lançando-o na prisão. E Jesus termina a parábola novamente com a ressalva: "Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração" (Mt. 18, 35).

A lição da parábola é clara. O senhor é Deus. Os devedores somos todos nós. Cada pecado que cometemos é uma ofensa irreparável a Deus. Nada podemos fazer para quitá-lo, dependemos exclusivamente da misericórdia do Senhor. Todavia, os pecados dos nossos irmãos - tão imperfeitos e pecadores quanto nós - temos sérias dificuldades em perdoar, neste mundo onde tudo passa. Diz o Eclesiástico (28, 4-5): "Não tem misericórdia para com o seu semelhante, e roga o perdão dos seus pecados! Ele, que é apenas carne, guarda rancor, e pede a Deus que lhe seja propício! Quem, então, lhe conseguirá o perdão de seus pecados?" E o perdão que devemos ao próximo é infinito. Quando Pedro pergunta a Jesus quantas vezes deve perdoar, se até sete vezes (imaginando que sete vezes já seria uma boa quantia de vezes), Jesus lhe responde que deve perdoar 70 vezes 7, por dia.

Jesus nos diz que quando estivermos para levar nossa oferta ao altar - quando estamos na Santa Missa, onde ofertamos nossas vidas para se unir ao sacrifício de Jesus - devemos, antes, perdoar de todo o coração se temos algo contra alguém. Senão, a oferta de nada vale.

Há quem objete dizendo que Deus perdoa porque é perfeito e impassível. Esta objeção - e acusação, por que não - não faz sentido depois que Deus se fez homem em Nosso Senhor Jesus Cristo. Como disse acima, nossos pecados são irreparáveis. Somente Jesus, o homem perfeito podia repará-lo. Somente unindo em Sua Pessoa Deus e o homem é que o pecado podia ser tirado do mundo. Jesus conquistou o perdão de nossos pecados morrendo na cruz. Sendo santíssimo, tomou sobre si nossos pecados para aplacar a justiça de Deus. Cristo morreu por nós, pecadores. Sofreu todas as dores e humilhações em sua gloriosa Paixão e morte. O próprio Deus sofreu toda a consequência do pecado na própria carne e, do alto da cruz, perdoou a todos que faziam-no sofrer. Não mais podemos acusar a Deus de estar no alto do céu, em seu trono inatingível, exigindo de nós, míseras criaturas cheias de defeitos, que perdoemos nossos ofensores. Deus nos dá, agora, Seu Espírito para que tenhamos força para perdoar qualquer pecado cometido contra nós. Os mártires dão provas da graça de Deus agindo, quando morrem perdoando seus algozes.

Perdoar não é fácil, nós sabemos. Perdoar não é esquecer a ofensa, nem atenuá-la, nem ser conivente a injustiça. É limpar a alma do ressentimento e do ódio, despojarmo-nos de todo orgulho. É sermos "perfeitos como o Pai celeste é perfeito". É imitarmos o nosso Mestre e Senhor, Jesus Cristo. Muitas vezes sofremos danos irreparáveis, ofensas gravíssimas, que nos machucam profundamente. Mas, para nós que cremos em Deus e em Jesus Cristo, sabemos que somos fracos e que por nós mesmos nada podemos e que tudo é graça. Se temos algo contra o próximo, devemos pedir ao Pai de misericórdia para que nos conceda a graça de perdoar e que sejamos humildes e corajosos para pedirmos e darmos o perdão a nossos irmãos.




6 de dez. de 2014

As imbecilidades de Jean Wyllys nas redes sociais e seu papel de vítima

Vi, outro dia, uma postagem do deputado Jean Wyllys onde ele dizia que está sendo ofendido nas redes sociais, sendo xingado e caluniado e que ia tomar as devidas providências. Interessante posicionamento para quem atira para todos os lados nas mesmas redes sociais. Para quem acompanha um pouco do que o deputado posta na rede, fora as imbecilidades a la Marco Feliciano, percebe que o ex-BBB parlamentar é extremamente desrespeitoso com todos aqueles que discordam de sua visão de mundo: ofende, xinga, calunia. Esquece-se até mesmo do decoro que seu cargo exige. Suas postagens sobre o Papa Bento XVI, por exemplo, eram totalmente caluniosas (e sobre os evangélicos também). Chamava-o de nazista, genocida em potencial (o que, em tese, todos somos), etc. 

A esquerda reserva para si o direito de agredir. O vitimismo faz parte do pensamento de esquerda desde quando esta surgiu, na Revolução Francesa. Em nome da revolução, do progresso, vale tudo. Os revolucionários, especialmente sobre a liderança de Robespierre, guilhotinaram 32 pessoas diariamente, durante um ano e meio. Todavia, tal brutalidade era em nome do progresso. O comunismo causou a morte de 100 milhões de pessoas, porém tudo foi justificado por um pretenso bem do povo. O historiador marxista Hobsbawm disse que a morte destas 100 milhões de pessoas tinha valido a pena. Ou seja, os extermínios em massa, os laogai's, os gulag's, os deslocamentos forçados de imensa massa populacional, as fomes artificiais, os paredões de fuzilamento, tudo isto vale a pena para melhorar a vida das pessoas, o que, de resto, nem isto aconteceu. O deputado, em menor escala, age assim. Se agride, se ofende, é devido a necessidade de remover obstáculos que impedem o progresso e que devem ser retirados a qualquer custo. É um revolucionário. Se é ofendido, é vítima daqueles reacionários que querem manter o status quo. É violência. Muito típico.



16 de nov. de 2014

Impeachment de Dilma e o impeachment do Collor

Não se iludam acreditando que foram os caras-pintadas os protagonistas da queda do Collor. Isto é um mito. Collor caiu quando começou a promover a abertura econômica do país, descontentando os empresários que viviam mamando há anos no estatismo dos militares e se viram ameaçados pela concorrência dos produtos importados melhores e mais baratos. Os grupelhos de esquerda e parte da imprensa também viram nele o monstro neoliberal e comandaram os caras-pintadas e direcionaram a opinião pública. Em resumo, o que derrubou o Collor não foram as denúncias de corrupção (que perto dos escândalos dos governos petistas é brincadeira de criança). Foi o Consenso de Washington.

O PT jamais chegaria ao poder se tivesse continuado a combater o grande capital nacional. Foi preciso estabelecer esta relação promíscua com os grandes empresários e empreiteiros do país que foi demonstrada, ontem, na nova fase da Operação Lava Jato da PF. É o poder econômico do grande capital que mantém o PT no poder. O resto é retórica do Lula. Aliás, o PT segue a estratégia da Nova Esquerda mundial que não combate o capitalismo de frente, mas alia-se com os metacapitalistas para garantir interesses escusos. Burro é o PSOL.




13 de nov. de 2014

Livro O Colecionador de Lágrimas, de Augusto Cury: crítica de um leitor que gostou do livro

Provavelmente você não vai ler nem o livro, muito menos a pequena crítica que escrevi sobre ele. Caso for ler ambos, aviso que este artigo contém spoilers.

Acabei de ler o primeiro volume do livro O Colecionador de Lágrimas, de Augusto Cury. O autor é conhecidíssimo, vende livro que nem água, mas eu nunca tinha lido um livro dele. Apesar de não vir a tornar-se um clássico da literatura (longe disso), ter algumas passagens que pretendem ser profundas, mas beiram a cafonice e uma linguagem e uma narração um tanto de literatura juvenil, eu gostei do livro. É bom, prende a atenção.

Através do livro podemos conhecer um pouco o perfil psicológico de Hitler, seu modo de agir e da história do nazismo. O livro narra a vida de um psicólogo que se tornou professor de História e especializado no nazismo e na Segunda Guerra. Torna-se um grande intelectual. Passa a ter pesadelos realísticos vivenciando cenas de atrocidades cometidas pelos nazistas. Os fatos dos pesadelos tornam-se reais e ele passa a ser perseguido por nazistas, até que um grupo de cientistas e militares alemães o convidam para participar de uma experiência: viajar no tempo e mudar o rumo da História.

Particularmente, encontrei alguns furos na interpretação que o autor faz da história de Hitler e do nazismo. Por exemplo, Augusto Cury endossa o senso comum de que Hitler conquistou a Alemanha exclusivamente através da manipulação de massas e que suas ideias ganharam espaço por força da conjuntura socioeconômica que a Alemanha vivia. Esses foram elementos que contribuíram para a ascensão de Hitler, mas não foram os únicos. Parece que o autor tende excessivamente para o materialismo histórico, desconsidera o clima antissemita da Europa no século XIX e primeiras décadas do XX. Não leva em conta que a sociedade alemã respirava a filosofia do século XIX impregnada de ideias que embasaram o nazismo. Enfim, faltou um pouco de Hannah Arendt, que, de fato, não aparece nas referências bibliográficas no fim do livro.

O personagem levanta vários pontos da História que, se mudados, poderiam evitar as atrocidades do nazismo, sem que fosse preciso eliminar fisicamente a Hitler. Um deles é convencer a Polônia a entregar Danzig. O autor está convencido de que a entrega da cidade polonesa que divide a Prússia, poderia evitar a invasão da Polônia e, consequentemente, a guerra. Ledo engano. O autor não leva em conta o pangermanismo, nem as pretensões expansionistas de Hitler para alcançar o “espaço vital” para os alemães. Além disso, Hitler já tinha anexado a Áustria e os Sudetos (na Tchecoslováquia) com a anuência das grandes potências europeias, sem que isto tivesse aplacado sua sede expansionista.

Outro ponto. Cury cita o apoio de igrejas alemãs a Hitler. É verdade, infelizmente. Foi criada a Igreja do Reich formada pela maioria das igrejas protestantes. Em oposição, protestantes contrários ao nazismo criaram a Igreja Confessante. Vale fazer justiça ao episcopado católico, que em conjunto abominava o nazismo e o clero possuía poucos admiradores do regime. Mas o autor foca-se apenas nos cristãos, generaliza, e esquece-se de citar o apoio explícito de Amin al-Husseini, o Grão-Mufti de Jerusalém, ao regime de Hitler.

Para terminar, há um trecho do livro em que um dos cientistas que faz parte do projeto de viagem no tempo mostra ao professor vários artigos de civilizações antigas coletados por um comerciante que viajou no tempo por diversas épocas e povos. Diz que foram realizados testes de carbono 14 e ficou comprovada a antiguidade das peças. Aqui comete-se um equívoco (ainda que seja uma ficção): se os artigos foram trazidos diretamente da Antiguidade, não poderiam ser datados por testes de carbono 14, já que o carbono se deteriora lentamente e é o nível de deterioração que possibilita sua datação. Os artigos não “envelheceram” e, portanto, as taxas de carbono 14 teriam que ser exatamente as mesmas do período que foram fabricados. Além disso, o teste de carbono 14 só pode ser realizado em materiais orgânicos, como tecidos, por exemplo.



28 de out. de 2014

Eleições 2014: uma análise histórica da formação política do nordeste e do sudeste, suas diferenças básicas e o resultado nas urnas

Hostilizar os nordestinos pela eleição da Dilma é cair no odiendo discurso da divisão proposto pelo PT. Para compreender a cultura política do Nordeste faço uma análise histórica. As duas regiões mais antigas do Brasil, sudeste e nordeste, se desenvolveram separadas. Eram duas regiões distintas, isoladas, sem comunicação terrestre até o século XIX. Foram constituídos basicamente dois brasis. 

No Nordeste, predominou o latifúndio e a monocultura da cana-de-açúcar. Os latifúndios nordestinos, em extensão e na economia, eram verdadeiros feudos. Os senhores de engenho - mais tarde, os coronéis - tinham sob seus domínios territórios enormes (para se ter uma ideia, o território do estado da Paraíba era dividido por apenas três famílias até meados do século XX) e homens. Pela própria natureza deste sistema altamente privatista e antidemocrático, o clientelismo se instala. 

Com advento da república e a universalização do voto, os coronéis precisavam "conquistar" seu eleitorado e a maneira mais simples era continuar e aprofundar a prática do clientelismo, que, em bom português, é o "toma-lá-dá-cá", é a troca de favores. Vota-se naquele de quem se pode obter uma vantagem pessoal. Ferreira Gullar diz que o clientelismo era uma esperteza do pobre sem oportunidade. Mais que vítima, ele é cúmplice. 

Esta é, geral e basicamente, a cultura política do Nordeste. Por isso não surpreende que os beneficiados por programas sociais votem em massa naquele que o proporciona. Para o homem e a mulher simples acostumados com este sistema, não há a percepção de que os programas são de Estado ou de governo, mas de relações interpessoais. Exemplificando: a Dilma é a "coronela" e os beneficiados dos programas sociais, os clientes. Eles votam nela. Ela lhes dá algo em troca. 

Por sua vez, no princípio da colonização do sudeste também foi implantada uma economia latifundiária, mas a rápida expansão para o interior promovido pelos bandeirantes e jesuítas desmantelou o território em menores unidades, impossibilitando o domínio de estilo feudal; surgiram cidades livres do domínio de grandes proprietários; a descoberta de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais e no Centro-Oeste estimulou uma rota de comércio do Rio Grande a Minas, o que criou uma porção da sociedade cuja riqueza não dependia da terra. Em Minas, Rio de São Paulo, o ideário liberal de matriz europeia se expande nas classes dos comerciantes e profissionais liberais.

Os latifúndios só começaram a ter força a partir do século XIX com a cultura do café, porém dois fatores fizeram com que o clientelismo tivesse menor impacto: a escravidão e a imigração. A república surge - e com ela a necessidade do voto das camadas baixas da sociedade - quando a imigração europeia já alcança o auge na região sudeste. Os imigrantes trazem novas ideias, influenciados mais ou menos pelos conceitos de democracia e igualdade social da Europa. Possuem tradição e cultura política forjadas por séculos. Seus pais foram servos nos campos europeus, eles não serão nos do Brasil. Muitos deles, rapidamente passam da condição de empregados a senhores. Preferem as associações de ajuda mútua a depender de particulares e do Estado. 

Em resumo e generalizando, o Nordeste - pelo menos o Nordeste "profundo" - tradicional e historicamente possui menos afeição à democracia e ao espírito público e do bem comum. O Sudeste, por sua vez, é política e economicamente mais liberal e, consequentemente, mais democrático.





6 de out. de 2014

A tolerância dos intolerantes: as ciências, Galileu Galilei, Levy Fidelix e o patrulhamento ideológico dos gays

Coloquei esta foto que tirei do sepulcro de Galileu Galilei, na Basílica da Santa Cruz, em Florença, para ilustrar uma pequena e imperfeita comparação. A comparação a seguir é quase incabível porque os elementos a ser comparados distam em grandeza e respeito como o céu da terra. Vamos a ela. 

Galileu é lembrado como o cientista injustiçado condenado pela Igreja obscurantista e anticientífica. Galileu defendeu o modelo heliocêntrico, não conseguiu provas científicas cabais para embasar sua teoria e tentou usar a teologia e a Bíblia para isso. Acabou condenado pelo Santo Ofício. Hoje sabemos que Galileu estava certo. Hoje. Suas teorias foram empiricamente comprovadas no século XIX. Mesmo assim a Igreja é acusada até hoje de não ter aceitado o óbvio, fatos científicos concretos. 

Aí chega o século XXI, alguém diz que duas pessoas do mesmo sexo não podem gerar filhos e que o ânus não faz parte do aparelho reprodutor. Alguma objeção do mais ignorante dos biólogos? Mas grupos ficam indignados, organizam-se protestos, querem cassá-lo, querem processá-lo e há quem defenda sua prisão. E estes são a vanguarda, os ditos progressistas.




11 de set. de 2014

O racismo sofrido pelo goleiro Aranha e a tentativa imbecil de transformar o caso numa disputa ideológica entre direita e esquerda

Venho observando as reações sobre o caso de racismo envolvendo o goleiro Aranha. Não dei palpite (bastante irrelevante e sem repercussão como tudo o que escrevo aqui) sobre o caso. Mas vamos lá. O racismo é algo terrível, injusto, incompreensível, irracional e anticristão. Não é um crime menor. Não é justificável. É desproporcional o tratamento dado pela população à moça que o xingou de macaco? Sim. Aqueles que a ofenderam profundamente descem ao mesmo nível dela. Num país regido por leis, não deve existir linchamentos físicos ou morais. É desmedida a punição ao Grêmio? Não sei. O que sei é que o racismo grassa no futebol sem vermos nenhuma ou quase nenhuma punição exemplar.

Há muitos preconceituosos de todos os matizes que usam o discurso contrário ao patrulhamento politicamente correto para disseminar seus preconceitos. Há quem esconda por trás de um "defensor da família", um homofóbico puro (sim, eles existem). Assim, muitos racistas enrustidos saíram da casinha usando o caso para denunciar a luta de classes insuflada na sociedade. Como anda costumeiro no Brasil nos últimos anos (graças, diga-se, a certa instigação governamental) todo assunto que surge no país, da merda à bomba atômica, transforma-se numa batalha da Guerra Fria. Abandonemos este maniqueísmo Direita-Esquerda. Há quem careça de uma leitura do pensador católico Gustavo Corção para entender algumas coisas.

Interessante é a tentativa de transformar a vítima em algoz. O Aranha disse em entrevista que perdoa a gaúcha, mas recusa a encontrar-se com ela para uma reconciliação em rede nacional. Negou fazer parte desta teatralização promovida pelo advogado da moça e disse que ela deve ser punida pela justiça. Fez bem. Mas bastou para ser acusado de insensível, de desalmado, de rancoroso. E mais uma vez, atos de racismo são tratados como crimes menores.

Vi coisas absurdas e imbecis, como um texto do Danilo Gentili compartilhado pela "direita". O texto do Danilo não é especificamente sobre o caso do Aranha, mas diz que a todo o momento ele é zoado por causa da cor da pele dele. Por ser muito branco é chamado de palmito o tempo todo e que ninguém se importa tanto quanto se ofendessem um negro pela cor da pele. Argumento fraco. Não cabe a comparação. Não foram os africanos que impuseram sobre si mesmos o "fardo do homem negro" e saíram colonizando e pondo sob sua tutela povos que consideravam inferiores; não foram os negros que criaram uma hierarquia racial pretensamente científica; não foram os negros que tentaram produzir uma raça pura; não foram os brancos que carregaram o estigma da escravidão contemporânea justificada por aspectos raciais.

A torcedora gremista sofre da Síndrome do Vanderney. Para quem não se lembra, Vanderney era um personagem do Casseta e Planeta que vivia na sauna gay abraçado com um peludão, mas afirmava categoricamente que não era gay. Ela afirma que não é racista, mas ofendeu um negro naquilo que mais dói, na dignidade humana. Não é coisa do calor do jogo. Ela e os demais envolvidos no caso devem ser punidos conforme o rigor da lei. Não cabe a bobagem de comparar o Zé Genoino fora da cadeia e a moça correndo o risco de ir para lá. Não é simples ofensa verbal. Não é um xingamento qualquer. Chamar um negro de macaco significa menosprezá-lo em sua humanidade, considerá-lo um passo atrás na linha evolutiva, um semi-humano. É racismo puro e clássico.



9 de set. de 2014

Porque Pastor Everaldo não tem apoio dos evangélicos

Há quem analise o peso dos evangélicos nas eleições somente sob a ótica do preconceito considerando-os simples vaquinhas de presépio, prontas para votar em quem o pastor indicar e as igrejas se teriam se tornado novos currais eleitorais. Pela própria essência das igrejas evangélicas as coisas são um pouco mais complexas. As igrejas funcionam bem quando pretendem eleger determinado candidato ao legislativo. Estes candidatos precisam de menor número de votos para se elegerem. Mas a indicação da igreja ou do pastor não é determinante. Basta ver a relação entre o número de fieis daquela igreja e dos votos obtidos pelo candidato. Além disso, votar em alguém cujo eleitor se sinta representado e comungue das mesmas ideias é parte natural do processo democrático. 

Voltemos à essência das igrejas evangélicas: temos este ano um candidato a presidente genuinamente evangélico: Pastor Everaldo. O candidato tem, segundo as pesquisas eleitorais, entre 1 e 3% das intenções de votos numa população composta por 25% de evangélicos. É desproporcional? Não, se entendermos que não existe uma Igreja Evangélica. O que existe são milhares de denominações evangélicas, algumas com diferenças profundas, inclusive políticas. Ao contrário do que certos analistas pensam, não há uma unidade evangélica que possa eleger um candidato a cargos de governador ou presidente. Seria preciso uma aliança política gigantesca - e inimaginável - entre as igrejas para que se conseguisse eleger alguém somente pelo mando de pastores.



2 de set. de 2014

Pequena História do Estado laico

Com as eleições, vem à tona o tema do Estado laico - este curral de gente - como se estivesse sendo ameaçado no Brasil. Mas o que está sendo ameaçada é a democracia por aqueles que não toleram ideias divergentes mesmo que elas tenham origem na religião, fonte de conceitos tão legítima como qualquer outra. É engraçado ver certos candidatos defenderem, ao mesmo tempo, o Estado laico e os terroristas do Hamas.

Em resumo, Estado laico é aquele que não tem religião oficial, não se imiscui em assuntos religiosos e possui esferas civis e religiosas distintamente separadas. Contudo, Estado laico não é sinônimo de tolerância religiosa, assim como Estado confessional não o é de intolerância. Os países escandinavos e a Grã-Bretanha, por exemplo, são Estados confessionais onde há liberdade religiosa e de culto. Por isso, o conceito de Estado laico não garante, por si só, a tolerância religiosa e a liberdade de culto, nem por parte das religiões, nem por parte do próprio Estado. Na verdade, o Estado laico só é possível quando as forças religiosas e não-religiosas se equilibram e se anulam e não podem impor-se uma sobre as outras.

A principal característica do Estado laico é a separação entre os poderes civis e religiosos. Esta separação, historicamente, foi uma conquista da Igreja católica. O Estado laico, como o conhecemos hoje, está na base das ideias liberais e teve duas concepções: a dos Pais fundadores dos EUA e a dos jacobinos franceses. A primeira preconiza a neutralidade do Estado diante da religião, garantindo a liberdade religiosa; a segunda, pretende eliminar, restringir e/ou controlar as práticas religiosas. 

A França tornou-se um Estado laico após a Revolução de 1789. Mas, ao contrário dos EUA - principalmente pelas diferenças marcantes da evolução histórica da religião e de suas interações sociais e políticas nos dois países -, o Estado procurou limitar, controlar e banir a religião, sobretudo o catolicismo. Com a Constituição Civil do Clero, procurou-se criar uma igreja estatal e transformar os sacerdotes em funcionários do governo. Aboliu-se as ordens religiosas sob o argumento de atentarem contra a liberdade individual. A religião era expulsa dos espaços públicos. A minoria aderiu. Quem não aderiu acabou no exílio ou na guilhotina. O modelo jacobino de Estado laico espalhou-se pela Europa e América, tendo como agente propagador as lojas maçônicas. 

A medida que as revoluções liberais saíam vencedoras nos países do Ocidente, o Estado se laicizava e tomava a França revolucionária por modelo. Assim aconteceu na Itália unificada sob Vitorio Emanuel II, nas repúblicas portuguesa e espanhola (sobretudo na Segunda República) e em alguns países da América Latina, com especial violência no México após a revolução de 1917. O Estado, então, passava a controlar a religião através de agentes públicos, limitando o número de membros do clero, eliminando sinais e celebrações religiosas em espaços públicos, proibindo o uso dos trajes eclesiásticos, abolindo o domingo e feriados religiosos. O Estado laico sadio e tolerável como vemos hoje na Europa e na América é fruto da resistência católica. Não aceitando submeter-se ao Estado, lutando pela sua liberdade e seus direitos - em alguns casos, de arma em punho, como fizeram os cristeros no México - e usando as vias diplomáticas e políticas, os católicos conseguiram colocar os Estados laicos em seus devidos lugares e garantir liberdade religiosa e de culto para todos, inclusive para aqueles que colaboraram com a tentativa estatal de eliminar a Igreja católica ou nada fizeram, esperando a hora de avançar sobre os despojos católicos. Com o advento da República, o Brasil adotou o modelo norte-americano de Estado laico. Quando vemos ferrenhas defesas do Estado laico por parte de certos segmentos político-ideológicos, na verdade, o que defendem é a implantação do modelo jacobino.

Por trás da defesa do Estado laico se esconde, muitas vezes, a intenção de se implantar o ateísmo de Estado. Um Estado ateu abdica de sua neutralidade em assuntos religiosos e, por isso, deixa de ser laico. Passa a privilegiar o ateísmo promovendo-o através da propaganda e da educação estatais. Adota métodos coercitivos e violentos na erradicação de qualquer religião; proíbe as práticas religiosas, mesmo as privadas; estatiza-se templos, escolas e universidade confessionais; persegue-se líderes e fieis religiosos; atenta contra a liberdade de expressão e de consciência; enfim, a prática religiosa passa a ser um crime. Muitos Estados comunistas, como a Albânia, Coreia do Norte e Cuba, adotaram o ateísmo de Estado. Porém, mesmo naqueles Estados comunistas que não o adotaram oficialmente (como a URSS, por exemplo), pela própria natureza antirreligiosa e ateia do marxismo, promoveram o ateísmo e perseguiram implacavelmente a religião. Não por acaso o século XX foi o século dos mártires e milhões de pessoas foram mortas exclusivamente por causa da fé que professavam. Portanto, precisamos dar atenção às discussões sobre o Estado laico, principalmente nas campanhas eleitorais, e discernirmos se a defesa é de uma laicidade sadia ou há um ódio camuflado pela religião que pode transformar-se em perseguição ou limitação da liberdade religiosa.








29 de ago. de 2014

A virgindade perpétua de Maria desmascarada pelo Missionário R. R. Soares. Será?

Outro dia, vi o missionário R.R. Soares comprovar, na Bíblia, que a virgindade perpétua de Maria é uma farsa. Os versículos que comprovariam mais esta mentira católica se encontram em Mateus 1,24-25:

"José, ao despertar do sono, agiu conforme o anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher. Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho."

R.R. Soares afirmou que a preposição ATÉ indica que José e Maria não tiveram relações sexuais antes de Jesus nascer, mas tiveram depois. Sendo assim, pergunto ao missionário: quantos filhos teve Micol, mulher de Davi, depois que ela morreu? 

"E Micol, filha de Saul, não teve filhos ATÉ o dia de sua morte" (II Samuel 6, 23).




25 de ago. de 2014

"Apóstolo" Valdemiro Santiago diz que Fausto Fanti morreu porque o satirizava

Acabei de ver em seu interminável programa de TV o "apóstolo" Valdemiro Santiago afirmar que o humorista Fausto Fanti morreu porque o imitava, o ridicularizava quando interpretava o personagem Valdemijo Santiago. E mentiu, dizendo que o humorista teve um infarto no momento que fazia a imitação, quando, na verdade, o membro do Hermes e Renato cometeu suicídio. 

Lembrei, imediatamente, de São Genésio (cuja festa comemoramos hoje). São Genésio era um ator romano que satirizava o modo de vida e os ritos dos cristãos. Durante uma apresentação para o imperador Dioclesiano, foi tocado pela graça de Deus e se converteu. Todos pensavam que ele estava brincando, mas a coisa era séria. Comparando os casos, há duas teorias: ou o deus que Valdemiro acredita não é o mesmo Deus, ou Deus vem perdendo o senso de humor nestes dois mil anos. Fico com a primeira hipótese.





22 de jul. de 2014

ATEA: um desserviço aos ateus e agnósticos

A ATEA é uma vergonha para os ateus e agnósticos, para todos os ateus e agnósticos sérios e inteligentes que brilharam e brilham em tantas áreas do conhecimento e com os quais aprendo e admiro sinceramente. Os "ateus clássicos" devem revirar-se nas sepulturas com a existência de uma associação que pretende reunir os ateus brasileiros e assume simplesmente a polêmica, a superficialidade e a desonestidade intelectual. Dias desses, fizeram um post que mostrava um jogador brasileiro ajoelhado e rezando e um jogador alemão vibrando. A legenda era a seguinte: a fraqueza da fé e a força do trabalho. Em primeiro lugar, a imagem lembrava - e muito - os cartazes de propaganda nazista e era uma mentira, posto que há na seleção alemã muitos jogadores religiosos. 

Esta postagem sobre a Bíblia no perfil da ATEA no Facebook, por exemplo:


Há outras semelhantes. Demonstra claramente que o autor desconhece completamente a Bíblia, a sua história, a sua linguagem, a sua formação. Jamais a estudou. Desconhece o objeto de estudo que quer detratar. Trata o assunto de maneira anticientífica e preconceituosa. Não conhece exegese e hermenêutica e, aparentemente, nem a diferença entre sentenças apodíticas e casuísticas, princípio básico para se entender o Pentateuco. Serve à superficialidade das redes sociais, joga para a torcida, mas seu efeito é inócuo. Talvez desconheçam seus correligionários: Spinosa (se é que era de fato ateu) e os racionalistas do século XIX, estes sim, inimigos mordazes das Sagradas Escrituras. Seus estudos são pertinentes. Como bom católico, conheço estes trabalhos e também conheço a Bíblia. Talvez o problema resida justamente aí. Os "ateus clássicos" eram espíritos livres. Quando se pretende institucionalizar o ateísmo, dando-lhe ares de religião com todas as suas estruturas, há sempre o risco de degenerar-se em dois vícios presentes em alguns membros de qualquer religião: o fanatismo e a irracionalidade.




3 de jul. de 2014

Ministério da Justiça quer censurar a novela Meu Pedacinho de Chão

O Ministério da Justiça está de olho na novela das seis Meu Pedacinho de Chão. Ameaça censurá-la, diz que está sendo inadequada para as crianças. Tem lógica: onde já se viu uma novela onde há famílias estruturadas, onde mulher beija homem, onde ninguém adultera, onde há uma escola, uma igreja, um posto de saúde; onde há um médico, um padre, uma professora. Onde os personagens constantemente fazem orações e há símbolos religiosos em todas as casas. Valores contrários a intelligentsia tem que sofrer censura mesmo.



13 de jun. de 2014

Dilma é xingada na abertura da Copa e se faz de vítima relembrando a ditadura. O que tem a ver o cu com as calças?

Há um episódio de As Meninas Superpoderosas onde um grupo de ativistas protetores dos animais resolve proteger, a todo o custo, o Macaco Louco. Quando ele toma um cacete das meninas, logo aparece o grupo fazendo estardalhaço e vociferando que o coitadinho está sendo maltratado. 

Ele, então, passa a aprontar de tudo e, quando vai tomar a costumeira surra, faz cara de coitado e grita que está sendo oprimido. Rapidamente aparece o grupo de ativistas para protegê-lo, acusar as meninas e jogar a opinião pública contra elas. Em nossos dias é tão comum esta estratégia. Ela é bastante usada, por exemplo, pelos defensores de movimentos sociais criminosos e dos baderneiros e bandidos das manifestações. 

A Dilma também a utilizou hoje se fazendo de vítima ao referir-se aos xingamentos dirigidos à ela na abertura da Copa. Relacionou os xingamentos com as pretensas torturas que teria sofrido durante a ditadura. Aproveitando o tema do xingamento, pergunto: o que tem o cu a ver com as calças? É a síndrome do Macaco Louco.

Outra coisa que não entendo: por que uma cambada de universitários costurando a vagina de uma menina num evento chamado Xereca Satanik, um evento anual que reúne milhares de bichas fazendo sexo em plena rua, um bando de mulheres com tetas horrorosas protestando contra ou a favor de alguma coisa que não faz sentido e uma cambada de maconheiro em marcha são considerados progressistas e revolucionários enquanto milhares de cidadãos mandando a presidAnta tomar no cu é coisa de elitista reacionário, é uma obscenidade "imprópria para crianças e famílias ouvirem"?


9 de jun. de 2014

Patrícia Abravanel discute religião e fala asneira: "A África não se desenvolve por que é muito 'mística'"

Neste domingo, durante o Programa Sílvio Santos, a Patrícia Abravanel soltou, ou melhor, reproduziu uma bela asneira. Creio que ninguém, assiste ao Programa Sílvio Santos esperando por um papo-cabeça. O programa é tipicamente de entretenimento, cheio de baboseira e eu gosto de assistir por isso. Mas o problema é quando se quer falar sério e o que se ouve é um zurro em alto e bom som. Tudo começou quando a Lívia Andrade, que é adepta de religiões afro-brasileiras, disse que pratica uma verdadeira mistureba de religiões. Então, Patrícia interveio com a malfadada teoria carregada de ignorância, preconceito, calvinismo de quinta categoria e uma leitura rápida da orelha de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber. 

A filha do dono disse: "Existe países que são mais místicos, como os da África, por exemplo, onde as pessoas não pensam em trabalhar e por causa disso não se desenvolvem. E há países protestantes, como os EUA, onde as pessoas pensam em trabalhar e cuidar da família e o país se desenvolve por causa disso". Patrícia Abravanel não conhece a História, nem da África, nem dos EUA. Reduziu todo o complexo problema historico-socio-econômico a um simples aspecto religioso. Tese do proselitismo barato do protestantismo norte-americano, cuja imagem clássica que faz de seus vizinhos latino-americanos é do homem dormindo com um chapéu cobrindo a cara em frente a uma igreja. Aliás, é muito comum vermos reduzir-se ao elemento religioso a causa de diferentes níveis de desenvolvimento dos países. Os ateus também fazem este proselitismo rasteiro, afirmando que países menos religiosos são mais desenvolvidos. 

Patrícia esqueceu dos milhares de escravos negros que construíram a América, submetidos a escravidão mais brutal do continente, onde os escravos eram totalmente despersonalizados, passavam por verdadeiras lavagens cerebrais, a ponto de a cultura e a religião genuinamente africanas nos EUA terem sido praticamente extintas, ao contrário do que aconteceu nos países católicos latino-americanos, mais tolerantes. Patrícia deve ter comprado a ideia do Destino Manifesto quando estava aprendendo a ser pastora nos EUA. 

Patrícia não leva em conta que a África é um continente com países bastante diferentes entre si e com níveis de desenvolvimento diversos. Não leva em conta sua História repleta de impérios e reinos pujantes. Não leva em conta que a África foi partilhada por aqueles que, como ela, acreditavam no fardo do homem branco. Patrícia desconhece os processos de colonização e descolonização do continente africano, com suas lutas, guerras, ganâncias, genocídios e, é claro, seus aspectos religiosos, que são importantes, como em qualquer sociedade, mas não determinam, sozinhos, a formação e desenvolvimento das nações. Patrícia é patricinha. Não deveriam falar muito de África nos colégios da Suíça e dos EUA. Desconhece a África, pessoalmente e à distância. Vai estudar, Patrícia!








31 de mai. de 2014

A Bíblia confirma: Maria, Mãe de Deus

Hoje, dia 31 de maio, comemora-se a festa da visitação de Nossa Senhora. A Virgem Santíssima, ao ser informada pelo arcanjo Gabriel que Isabel estava grávida, partiu para a Judeia pra ajudá-la. A leitura do evangelho da Missa de hoje (Lc. 1, 39-56), que conta este encontro, traz elementos importantes, como a analogia entre Maria e a Arca da Aliança, mas por ora quero me deter na base bíblica do dogma da maternidade divina de Maria.

De todos os dogmas relacionados à Nossa Senhora, talvez nenhum outro seja tão explícito na Bíblia quanto ao da maternidade divina. Maria, chegando na casa de Zacarias, ao cumprimentar Isabel, esta ficou cheia do Espírito Santo e exclamou: "Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?" (Lc. 1, 42-43).

Detenhamo-nos na expressão: a mãe do meu Senhor. Meu Senhor era uma das formas que os judeus chamavam a Deus, posto que a Lei proibia que se pronunciasse o nome de Deus, Yahweh. Então, por todo o Antigo Testamento, o nome de Deus era substituído pela palavra hebraica Adonai, que significa Meu Senhor. Quando a Bíblia hebraica (Antigo Testamento) foi traduzida para o grego (na chamada Septuaginta), o nome de Deus foi traduzido como κύριος (Senhor, pronuncia-se kyrios).

Pois bem, Lucas escreveu o evangelho em grego e conta que, Isabel, cheia do Espirito Santo e, portanto, inspirada por Ele, chama à Virgem Maria de "a mãe do meu Senhor" (no evangelho em grego: μήτηρ τοῦ κυρίου μου), ou seja, a mãe de Deus, já que, para a mãe de João Batista, judia, chamar o filho que Maria traz no ventre de "meu Senhor" equivale a chamá-lo "Adonai" e que Lucas traduz para o grego como kyrios, termos usados para designar, na Bíblia hebraica e grega, respectivamente, o nome de Deus. Portanto, a maternidade divina de Maria é claramente encontrada na Bíblia, que não pode, de forma alguma, ser negligenciada. Talvez, por isso, os primeiros reformadores protestantes defenderam que Maria era e deveria ser considerada a Mãe de Deus.


20 de mai. de 2014

Liberdade e verdade: "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"

Hoje em dia, liberdade é um dos conceitos da moda, seguido de perto ou emparelhado com o conceito de felicidade. Mas o que é liberdade? Defende-se que liberdade é fazer o que se quer. Mas é exatamente o contrário. Liberdade é fazer o que não se quer. Ninguém é livre para sentir fome ou sede. Somos livres, pois, quando renunciamos à comida ou à bebida. A liberdade está na renúncia. Considerar-se livre por ser arrastado pelos instintos mais primitivos seria como sentir-se livre por estar preso no solo pela força da gravidade ou por ser arrastado pela correnteza de um rio, quando, na verdade, livre é aquele que alça voo ou nada contra a corrente. 

Alguém poderia objetar: "Mas somos livres para fazer escolhas. Podemos escolher, por exemplo, entre comer ou não comer e nisso consiste a liberdade". Na verdade, esse seria o livre arbítrio, o poder de tomar livremente decisões, mas não é a liberdade. A liberdade ou a falta dela são consequências do livre arbítrio. Livremente, podemos ou não nos submetermos a algo que nos escravize, mas não podemos chamar tal escravidão de liberdade. Vejamos o exemplo de Adão e Eva: livremente escolheram desobedecer a Deus e comer do fruto proibido. Como consequência, perderam o estado de justiça e santidade. Perderam o paraíso. E não podemos dizer que se tornaram mais livres, muito pelo contrário. 

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", disse Jesus. E o que é a verdade? A verdade tem um rosto, é uma pessoa: Jesus Cristo. Somente Ele pode nos dar a verdadeira liberdade - a liberdade dos filhos de Deus -, nos tornar livres do homem velho, das tendências da carne que nos prendem à terra. Em Cristo, somos livres dos modismos, dos apelos comerciais, das pressões ideológicas. Somente em Cristo podemos sair de nós mesmos, nos libertar do poder do Mal e da morte, nos libertar dos pecados que nos afastam do que somos: imagem e semelhança de Deus. 


13 de mai. de 2014

A herança de Jesus: Eucaristia e Nossa Senhora


















Os últimos atos e as últimas palavras de Jesus, antes de sua morte, constituem uma espécie de testamento. Os "bens" mais preciosos que Jesus nos deixou foram: a Eucaristia, o dom de Seu corpo e de Seu sangue dado como alimento na Última Ceia; e, no alto da cruz, naquele esforço enorme que o crucificado tinha que fazer para falar, nos entrega, na pessoa do discípulo amado, Sua Mãe Santíssima, para que nos acompanhe em nossa caminhada cristã. Portanto, a Eucaristia e Nossa Senhora são os dons mais preciosos que Jesus nos deixou. O cristão que rejeita esta "herança" deixada por Jesus continua cristão, mas certamente é um cristão mais pobre.



27 de abr. de 2014

Oscar Schmidt adorou o Papa Francisco ao ajoelhar-se diante dele? A Bíblia responde.

É coisa antiga, mas só vi agora. Quando o Santo Padre esteve no Brasil por ocasião da JMJ, Oscar Schmidt encontrou-se com ele e - como deve ser - ajoelhou-se diante do Papa. Isto eu vi. O que eu não tinha visto era a acusação (velhíssima, por sinal) de que o ex-jogador de basquete tinha "adorado" o Papa. Acusação feita por aqueles que julgam - e gabam-se de - conhecer a Bíblia de trás pra frente. Será que ajoelhar-se, prostrar-se diante de alguém é adorá-lo? 

Só vou dar um exemplo porque a hora já vai adiantada e eu estou com sono. Em diversas passagens da Bíblia, aparecem pessoas prostrando-se diante de outras pessoas em sinal, por diversos motivos, de reverência e respeito. Vamos a um trecho que relata o reencontro de Jacó com seu irmão Esaú:

"E ele, passando adiante, prostrou-se até a terra sete vezes antes de se aproximar do seu irmão." (Gênesis 33,3) 

Na Septuaginta (versão grega) temos: 

αὐτὸς δὲ προῆλθεν ἔμπροσθεν αὐτῶν καὶ προσεκύνησεν ἐπὶ τὴν γῆν ἑπτάκις ἕως τοῦ ἐγγίσαι τοῦ ἀδελφοῦ αὐτοῦ

O verbo "prostrar" é traduzido a partir do verbo grego προσκυνέω (pronuncia-se proskynós) que significa reverenciar, adorar. Não me parece que Jacó adorou seu irmão como se adora a Deus. Na mesma cena, as mulheres de Jacó, seus filhos e servas também "adoram" Esaú. 

A tradução latina (Vulgata) é ainda mais descarada: 

Et ipse prægrediens adoravit pronus in terram septies donec adpropinquaret frater ejus.

Mas alguém poderia objetar: "Ah, mas o Antigo Testamento foi escrito em hebraico, não em grego, muito menos em latim!". Pois temos o hebraico também: 

והוא עבר לפניהם וישתחו ארצה שבע פעמים עד גשתו עד אחיו

(וישתחו = adorou) 

Com efeito, o verbo προσκυνέω também é usado quando se trata da adoração exclusiva a Deus, como nesta passagem: 

"Samuel voltou, pois, com o rei, e este adorou o Senhor." (I Samuel 15, 31)

Na Septuaginta: 

καὶ ἀνέστρεψεν Σαμουηλ ὀπίσω Σαουλ καὶ προσεκύνησεν τῷ κυρίῳ

Na Vulgata:

Reversus ergo Samuhel secutus est Saulem et adoravit Saul Dominum

No hebraico:

וישב שמואל אחרי שאול וישתחו שאול ליהוה

(וישתחו = adorou)

Portanto, a Bíblia (em sua língua original e nas mais antigas versões grega e latina) não tem palavras distintas para o ato de adorar a Deus e para o de reverenciar alguém. Se a própria Bíblia - e não podemos negligenciá-la - traz o mesmo termo sem que haja nenhuma dúvida ou confusão relativas à diferença entre a adoração devida somente a Deus e a reverência profunda expressa pelo corpo no ato de prostrar-se, por que acusar o nosso querido Oscar - e a tantos católicos - de idolatria quando se reverencia através da expressão corporal (prostrando-se ou ajoelhando-se) a quem merece tal reverência, seja ele um sucessor dos apóstolos ou um santo? Quem acusa um católico por isso está acusando a própria Bíblia.


22 de abr. de 2014

Disse Ziraldo: "As ideologias da esquerda não são naturais". Eis uma verdade!

"O socialismo, o comunismo é um fracasso porque não é natural. A esquerda não é natural, é uma tentativa de racionalização, mas não é natural. Os valores defendidos pela direita, estes sim, são naturais." Disse Ziraldo, ontem, no É Notícia da RedeTV!. É verdade. É exatamente isso que afirmaram os Papas desde Pio IX. Nada que seja natural precisa ser imposto por revoluções. O que é natural se impõe por si próprio porque é a verdade. 

Dois exemplos de causas defendidas pelas esquerdas ilustram bem isso: casamento gay e aborto. Veja a dificuldade em convencer que ambos são "direitos", são coisas normais. Elaboram-se verdadeiros tratados para defender o indefensável. "O excesso de argumento prejudica a causa", já dizia Hegel. E por que este excesso? Simplesmente porque é óbvio (justamente porque é natural) convencer-se que um casamento faz-se entre um homem e uma mulher e que o direito à vida é inalienável desde a concepção. Mas há quem sofra da Síndrome do Kiko e continue a afirmar com todas as forças que existe bola quadrada.




20 de abr. de 2014

Ó morte, onde está sua vitória?


Jesus ressuscitou verdadeiramente, Aleluia! O mal e a morte não possuem a última palavra.
"Onde está Deus?", costumam perguntar, geralmente, aqueles que não creem em Deus quando se encontram diante dos males do mundo. Esta pergunta ecoa através da História: por que os inocentes sofrem se há um Deus que é amor e bondade? A resposta foi dada na cruz. O maior crime que a humanidade cometeu até hoje não foi o holocausto dos judeus, nem as grandes guerras ou os ataques nucleares. Foi a crucificação do Filho de Deus. 
Deus, não podendo dar mais, deu-se a si mesmo em Jesus Cristo. Ele, sendo santíssimo e inocente, sofreu toda a maldade que a humanidade é capaz de realizar para poder resgatar esta mesma humanidade perdida em seus males. Deus não se alegra com o sofrimento dos bons, mas agora os sofrimentos que são causados, direta ou indiretamente, pelos pecados próprios ou de outros, se unido à cruz de Cristo, é motivo de salvação. 
Todos, de uma forma ou outra, sofremos ou sofreremos, pois nossa natureza humana está ferida e nem Deus pode suprimir a liberdade humana para impedir que o homem faça o mal. Mas Jesus Cristo ressuscitou, venceu o Maligno e suas obras, venceu a morte. O mal e a morte não têm a última palavra da História. Os sofrimentos não são inúteis se vivemos unidos a Cristo, nossa esperança. "Se morremos com Ele, com Ele ressuscitaremos". Basta acreditarmos. Basta amarmos a Deus de todo o coração e n'Ele esperarmos.


15 de abr. de 2014

A Igreja católica jamais facilitou a doutrina às custas da verdade

Um dos aspectos que me levam a crer que a doutrina católica seja verdadeira é o fato de a Igreja nunca ter tomado o caminho mais fácil. O caminho mais fácil sempre foi tomado pelas heresias, jamais pela ortodoxia. 

Alguns exemplos: a Santíssima Trindade é um dos mais difíceis de compreender. Deus é único, mas Nele há três pessoas distintas, unidas e com a mesma substância divina. Os três são Deus, mas Deus não tem seu poder diminuído sem uma delas e não é mais poderoso com as três. Já as heresias são simplificadoras: seria mais simples crer que há um único e uno Deus; ou que o Filho e o Espírito Santo são subordinados ao Pai ou inferiores ao Pai ou uma emanação do mesmo e único Deus. 

Jesus Cristo. Crer que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo eterno, se fez homem no ventre da Virgem Maria pela ação do Espírito Santo sem concurso de homem. Crer que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, consubstancial ao Pai certamente é o caminho mais difícil. Seria mais fácil e cômodo crer que Jesus foi concebido naturalmente como todos os homens. Que era uma criatura, a mais perfeita das criaturas, mas apenas uma criatura. Ou crer que é uma espécie de semideus como aqueles dos mitos antigos; ou que sendo Deus é inferior ao Pai ou de uma substância distinta ao do Pai. 

A eucaristia. A Igreja sempre acreditou que a eucaristia não é um simbolismo, nem a representação da última ceia, mas que o que ocorre na Missa é a atualização do sacrifício único de Jesus acontecido no Calvário. Acredita que o pão e o vinho se transubstanciam no Corpo e no Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo e que sob a aparência do pão e do vinho, está verdadeiramente o Cristo, com sua alma e divindade. Seria mais simples crer que é somente um símbolo, um memorial piedoso ou que o Cristo se faz presente espiritualmente, mas não materialmente.

A ressurreição de Cristo. Poderíamos crer que a ressurreição não foi um fato material e histórico; que houve uma construção histórico-teológica dos discípulos de Cristo e que a ressurreição significa a presença de Cristo em seus seguidores e nos valores do Reino de Deus, o que O manteria "vivo", ou seja, a ressurreição seria uma espécie de idealismo cristão. Mas não. Contra todos os céticos de todas as épocas, a Igreja afirma que Jesus ressuscitou verdadeiramente, levantando do túmulo com o mesmo corpo que foi pregado na cruz, mas transformado gloriosamente e que está vivo em corpo e alma nos Céus e em espírito no meio de nós.

É simples entender porque a Igreja trilhou o caminho mais difícil na consolidação da doutrina: a verdade não pode ser negada somente porque não é plenamente entendida ou porque não compreendemos os mistérios de Deus graças as nossas limitações humanas.

28 de mar. de 2014

50 anos do Golpe civil-militar de 1964: pequenas verdades

Muita coisa tem sido dita do Golpe civil-militar de 1964. Não vou escrever um texto sobre isso, tanto porque muita gente infinitamente mais competente do que eu, tem escrito. Só vou colocar alguns pontos:

- Havia, sim, naquela época, um verdadeiro perigo comunista. Não era propaganda dos militares para tomar o poder.

- O Brasil já tinha passado por uma tentativa de golpe, em 1935, que ficou conhecida como Intentona Comunista e só fracassou pela incompetência de seu organizador, Luis Carlos Prestes. Lembrando que vivia-se em plena Guerra Fria e que revoluções comunistas aconteciam em vários países (China, 1949; Cuba, 1959). Nenhuma delas era democrática.

- Havia, sim, a tentativa de organizar a luta armada no Brasil antes de 1964. Leonel Brizola, cunhado de João Goulart, era o principal articulador.

- João Goulart, sem apoio do Congresso, resolveu governar "com as massas". Propôs as reformas de base que dependeriam de mudanças constitucionais. Foram rejeitadas pelo Congresso, mas Goulart insistiu, insuflando a população.

- "Já temos o poder, basta-nos apenas tomar o governo", disse Luis Carlos Prestes, secretário-geral do PCB e aliado do presidente.

- O Brasil estava afundado na insegurança, destruído economicamente e altamente dividido, à beira de uma guerra civil.

- Entre todos os setores da sociedade civil, apenas os sindicatos apoiavam João Goulart.

- Os militares intervieram em 31 de março de 1964 com amplo apoio da população civil. Com isso, não cometeram nenhuma ilegalidade, como costuma-se afirmar. A Carta Magna de 1946 legava às Forças Armadas a defesa da Constituição, que de fato, estava em perigo pelas propostas de reforma constitucional feitas por Jango.

- João Goulart foi cassado pelo Congresso, não pelos militares. A grande maioria dos políticos (por exemplo: Ulysses Guimarães, Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek) aderiram imediatamente - ou logo em seguida - ao novo regime. 

- É mentira quando se afirma que as diversas correntes da esquerda brasileira, desde os moderados até os que ingressaram na luta armada, lutavam pelo retorno da democracia. De fato pretendiam implantar uma ditadura comunista no Brasil, nos moldes de Cuba, China ou URSS. Considerando que algumas destas ditaduras perduram até hoje, podemos considerar que o golpe de 1964 salvou a democracia.

- Uma coisa é o golpe civil-militar de 1964. Outra é a ditadura vinda em seguida. Uma coisa são os usos. Outra, os abusos.




25 de mar. de 2014

Igreja católica, a astronomia e o preconceito e desconhecimento que ainda perduram em nosso tempo

No último domingo (23/04/2014), estava assistindo ao Canal Livre, na Band, as entrevistas com os doutores em astronomia Douglas Galante e Sylvio Ferraz-Mello, cujo tema central era a investigação de existência de vida fora da Terra. Gosto muito do programa, apesar de uns foras que é dado por lá, principalmente pelo Fernando Mitre, que pensa saber tudo. Bom, num dado momento, foi mencionado o fato de o Observatório Astronômico do Vaticano estar participando das buscas de vida fora da Terra e entrou uma participação do padre Juarez falando sobre a relação entre fé e ciência, sobretudo entre a Igreja católica e a astronomia. Aí vieram os "foras". Ficou patente a desinformação dos participantes sobre o tema. O doutor Douglas Galante disse que conheceu os astrônomos do Observatório do Vaticano (em sua maioria jesuítas, diga-se) e que eles fazem ciência como quaisquer outros cientistas (ah, vá!). Foi perguntado que descobertas o Observatório do Vaticano tinha feito até hoje, ou seja, se tinha feito algum trabalho relevante. Todos disseram desconhecer. Bom, bastaria que se lembrassem de algo corriqueiro: a data daquele dia para notarem a maior contribuição do Observatório Astronômico do Vaticano: o nosso atual calendário. Em 1582, o Papa Gregório XIII ordenou que a equipe do Observatório Vaticano (um dos mais antigos da era moderna), preparassem a reforma do calendário. E isto não se dá sem sérias observações astronômicas e cálculos precisos. 

Bóris Casoy, depois que o padre Juarez disse que a Igreja sempre apoiou a astronomia, disse que não era bem assim e que muitos "astrônomos" foram queimados pela Igreja (que desinformado! Isto é uma vergonha!). Quais? Ninguém citou nenhum e nem eu os conheço. O cardeal Pedro d'Ailly (1350-1420) defendeu o movimento de rotação da Terra; o cardeal Nicolau de Cusa (1401-1464) e Copérnico defenderam o heliocentrismo sem serem molestados por isso. Galileu não foi queimado e os próprios participantes do programa reconheceram que seu processo foi complexo e que as acusações que mais pesaram não foram exatamente sobre as discussões em torno do heliocentrismo. Giordano Bruno (1548-1600) também foi citado e Mitre lembrou (desta vez ele deu uma bola dentro) que o filósofo de Nola viajava na maionese em inúmeras heresias e que não foi condenado à fogueira por suas pesquisas astronômicas. De fato, elas nem mesmo existiram. Na verdade, Giordano Bruno acreditava que o universo era infinito (se não o próprio Deus) e que nele havia vários mundos habitados e tantos deuses quanto mundos.

A Igreja não só não se opôs as pesquisas astronômicas como as encorajou e as financiou. Os participantes do programa também desconhecem que, quando os jesuítas astrônomos do Colégio Romano souberam que Johannes Kepler (1571-1630) estava sem um telescópio, enviaram-no um. Desconhecem nomes como o dos irmãos Antonio e Luigi Lilio e do padre Christopher Clavius (1538-1612) que compuseram a equipe que reformou o calendário; do grande  padre Angelo Secchi (1818-1878), diretor do Observatório Vaticano, e de suas descobertas - entre muitas outras descobertas e invenções - sobre o sol. Também desconhecem certamente o padre Georges Lemaître (1894-1966), que descobriu a expansão do universo e propôs, pela primeira vez, a teoria do Big Bang. Por fim, para se ter uma vaga ideia sobre a importância da Igreja católica para a astronomia, basta dá uma espiadela num mapa lunar e conferir o tanto de nome de jesuítas (entre outros cientistas, padres ou não, ligados à Igreja) que batiza as crateras de lá. É uma pena que ainda haja tanto desconhecimento e preconceito quando se trata da relação entre a Igreja católica e a ciência.

Para quem quiser ver a entrevista: http://noticias.band.uol.com.br/canallivre/ 

3 de mar. de 2014

As asneiras ideológicas do assessor da CNBB para a Campanha da Fraternidade 2014

Como é duro ter que ler asneira, ainda mais vinda de um padre. Naquela coluna do folheto O Domingo sobre a Campanha da Fraternidade, o padre Luiz Carlos Dias que é assessor da CNBB, escreveu neste domingo que a economia de mercado deixa à margem da sociedade a maioria das pessoas e que esta maioria não tem acesso aos bens de consumo, nem mesmo ao mínimo necessário para uma vida diga. 

O reverendo padre deveria saber que são nos países de economia de mercado que encontramos as menores desigualdades sociais. Que são nas economias de mercado que os índices de IDH são maiores, portanto, a maioria da população destes países tem acesso as bens de consumo e muito mais ao necessário para uma vida digna. O reverendo padre deveria saber que é justamente o contrário que acontece: nos países de economia planificada ou onde a economia de mercado é restringida ou sufocada é que a maioria das pessoas não têm acesso a bens de consumo, ou melhor, a bem nenhum. 

Que país o reverendo padre gostaria de citar: Cuba, onde a maioria não tem um sabonete para tomar banho ou Venezuela, onde não tem papel higiênico para limpar a bunda? O reverendo padre deveria deixar-se guiar mais pela Doutrina Social da Igreja, cujo compêndio defende explicitamente a economia de mercado, do que pelas suas preferências ideológicas.



24 de fev. de 2014

O Sermão da Montanha para os dias de hoje

"Se a justiça de vocês não for maior do que a dos fariseus, não entrarão no Reino dos Céus". Eu confesso, tenho muitos pecados. Não me orgulho de nenhum deles. Não tento justificar nenhum deles. Minha consciência os acusa e eu os acuso diante de Deus. Tenho vários pecados e poderia cometer todos se não fosse a graça de Deus. Mas um pecado eu não tenho. Não sou hipócrita. A hipocrisia é o pior dos pecados porque impede o pecador de se reconhecer como tal. “Ah, sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de podridão.” Maldita pose! Pobre daquele que vive de aparência. Não foi por acaso que Jesus condenou com todas as forças a hipocrisia dos fariseus. Os mesmos fariseus que convidavam Jesus para jantar, não porque sua companhia lhes era agradável, mas para o pegarem em algum erro. Aqueles mesmos fariseus que convidavam Jesus para uma festa, pelas costas, tramaram sua morte. Os fariseus hipócritas não ficaram no passado. Eles rondam por aí, muitos estão ao nosso lado e alguns têm, inclusive, traços consanguíneos. 

O fariseu moderno é aquele católico light, adepto do catolicismo água com açúcar, na verdade, adepto de uma superstição envernizada de catolicismo, que prefere baldadas de água benta ao compromisso sério com o Senhor na Eucaristia com Quem tem que se configurar e se transformar; sua relação com Deus fica entre promessas e ex-votos. É o adepto do catolicismo de excursão. É aquele que levanta-se na hora da comunhão e comunga a sua própria condenação. É aquele “católico” que confunde fé com crendice, que monta um oratório como uma prateleira de farmácia: “opa, esta santa é boa pra vista; este, para o estômago; esta, para dor de cabeça; este, para picada de cobra”. É aquele católico que não encarna a verdade do Evangelho, inventa para si um deus pessoal, um deuzinho falso, para que lhe sirva à sua própria causa, protegê-lo contra forças demoníacas que nem ele sabe quais são (mas que muitas vezes as serve com suas atitudes). Em suma, é um pagão. Não há conversão. Não há busca pela santidade. Não há mudança de vida, pelo contrário, piora dia a dia feito um cadáver em decomposição. “Nem todos aqueles que dizem Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos Céus, mas aqueles que fazem a vontade de meu Pai”. Estas são palavras de Jesus. Eu ouso acrescentar que muito menos aqueles que dizem “Senhora, Senhora” em tantos santuários marianos lá adentrarão, mesmo que externamente demonstre piedade, mesmo que banhado em lágrimas, coisa que um crocodilo poderia fazer perfeitamente caso pudesse entrar numa igreja. O hipócrita, com a mesma língua, louva a Deus e mata as pessoas com a fofoca.

O fariseu está longe do ensinamento de Jesus. Oferecer a outra face, então, é inimaginável para ele. Ele só conhece o olho por olho, dente por dente. Não lhe passa pela cabeça perdoar ou pedir perdão. O fariseu é macho. Ele mantém o peito estufado e a cabeça erguida. Ele tem que agredir para demonstrar que é homem, mas na verdade, é aí que demonstra a baixeza do animal. Só conhece o argumento dos punhos cerrados. Tudo resolve com violência como as bestas irracionais, de maneira desmedida e sem ponderar as consequências. E a idade não lhe incute postura diferente a ponto de suas atitudes causarem tremenda decepção. Mas, como já percebemos, o hipócrita justifica seus atos de violência. Ele diz que a usou porque sua família ou ele foram desonrados. Balela. Só para ilustrar, penso na época dos duelos. Um homem que sofreu uma desonra desafia seu oponente para se baterem de igual para igual. Ninguém é agredido por um grupo e com força desmedida. Não há atraiçoamento, ninguém é pego por trás ou atingido no chão. Mas ele continua a se justificar e tem a triste mania de se fazer de vítima. Ele encarna o cavaleiro-salvador-de-donzelas-agredidas ou aquele que quer lavar com sangue a honra da mãe. Nada mais falso. Nada mais ridículo. O fariseu não tem nem mesmo esta noção de justiça natural, de ombridade ou honradez. 

Todavia é aí que a máscara cai. O fariseu hipócrita mostra as garras e a alma no momento da raiva. É aí que toda a verdade aflora. É aí que a podridão do sepulcro caiado vem à tona e sabemos exatamente aonde pisamos. O fariseu hipócrita acha que sempre tem razão. Ele justifica o injustificável. Não se arrepende e, portanto, vive na desgraça. É por isso que Jesus disse aos fariseus de sua época – e diz agora aos da atualidade – que os pecadores públicos e as prostitutas entrariam no céu e eles, não. Porque estes pecadores públicos não vivem de aparência. Todos conhecem seus pecados e eles se arrependem e se convertem. Aqueles que justificam seus atos e não reconhecem seus erros não se salvam jamais e, mesmo queimando no fogo eterno do inferno, continuam protestando contra a injustiça que padecem, pois se acham no direito de terem feito o que fizeram. Quem tem ouvidos, ouça.



12 de fev. de 2014

O trabalho pró-vida de Elba Ramalho, as crianças indesejadas de Marília Gabriela e a cultura do descarte

Estava vendo a entrevista que a Elba Ramalho concedeu à Marília Gabriela No domingo retrasado. Me impressionou o belo trabalho que a cantora faz em prol da vida, convencendo meninas a não matarem seus filhos no ventre. E me impressionou também o argumento da Gabi em defesa do aborto: o fato de a criança ser indesejada justificaria o aborto. Se todos os argumentos em defesa do aborto são inconcebíveis, este é um absurdo. 

Para se ter uma ideia disso, basta abranger a "classe dos indesejados". Já houve quem tenha sido considerado indesejado pela cor da pele, pela etnia ou pela religião. Está lá nos livros de História e na memória de tantas pessoas os horrores do nazismo e do comunismo que não me deixam mentir. Também poderíamos pensar que, para muitos, os pobres seriam indesejados. Moradores de rua e mendigos são indesejados para alguns e aqueles que os queimam vivos estariam em seu pleno direito. Pais podem se tornar indesejados e as "Suzanas von Richthoffen" não fariam mais do que tirar uma pedra do sapato. Os idosos podem ser indesejados, um verdadeiro peso morto para a família e para a sociedade. Os doentes podem ser indesejados. Não é por acaso que a eutanásia ronda as legislações de tantos países. 

Enfim, o que não faltariam ao mundo são classes de pessoas indesejadas. Como bem diz o Papa Francisco, vivemos em plena cultura do descarte. As pessoas são descartadas conforme não servem ou não são mais desejáveis. O critério do desejo não pode servir para abalizar decisões individuais, coletivas ou governamentais. A Elba Ramalho, diante do argumento da entrevistadora, citou o nazismo. Marília Gabriela replicou que uma coisa era diferente da outra. Mas a cantora tem razão, com a diferença de que o nazismo era menos democrático quando definia seus indesejados.