29 de dez. de 2013

Motivos para ser contra a construção da barragem no Rio Piracicaba

Eu sou contra a construção da barragem no Rio Piracicaba que vai permitir a navegação até Ártemis. Por dois motivos: é desnecessária e vai acabar com o Tanquã. Faz vinte anos que o projeto existe e lutava-se para conseguir as licenças ambientais e os recursos financeiros para a obra. Há vinte anos diziam que a Hidrovia Tietê-Paraná tinha como principal meta integrar o Mercosul. O Mercosul está morto, só falta alguém ter a coragem de enterrá-lo. Por que Piracicaba precisa de um porto fluvial? A cidade não está isolada, ao contrário, localiza-se próxima as mais importantes malhas rodoviárias do estado e do país. O que vai ser escoado pelo porto de Ártemis? Grãos ou minério que são as cargas mais transportadas pelas barcaças na hidrovia em questão? 

O outro ponto é a destruição do Tanquã, chamado de Pantanal paulista, por conta de interesses que não sabemos exatamente quais são nem de quem são. Vale a pena por fim a um ecossistema como esse, berço de aves migratórias e de peixes e casa de diversas espécies de plantas e animais e que está no roteiro turístico do município (o mesmo município que pretende, agora, destruí-lo)? Volto à questão. Se Piracicaba estivesse isolada, como muitas localidades na Amazônia, por exemplo, e se houvesse a estrita necessidade de gerar um impacto ambiental para melhorar seus acessos e movimentar a vida econômica da região, seria compreensível. Mas o caso está longe disso. Não vale a pena acabar com o Tanquã por causa de uma obra que, ao meu ver, só atende à politicagem e às empreiteiras.



22 de dez. de 2013

Reflexões do Advento (16 a 21 de dezembro)

16 de dezembro de 2013

Mateus 21, 23-27

"Jesus voltou ao Templo. Enquanto ensinava, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se dele e perguntaram: 'Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu tal autoridade?'" (Mt 11, 23)

A autoridade religiosa dos sumos sacerdotes e dos anciãos era legítima porque vinha de Deus e Jesus jamais se revoltou contra ela. Jesus "ensina como quem tem autoridade" porque é o Cristo Deus, mas os chefes religiosos, obcecados por sua autoridade, temerosos em perdê-la e tornando-a um fim em si mesma, não conseguiram reconhecê-lo, assim como não reconheceram a missão de São João Batista, enviado para preparar os corações para o encontro com Jesus. O formalismo religioso fez com que perdessem o contato com Deus que julgavam servir. Como está nosso relacionamento com Deus? Pensamos que basta praticar alguns ritos e seguir algumas normas ou temos intimidade com Deus que gera real mudança de vida? Será que temos medo de Jesus, medo de perdermos nossas pequenas "autoridades", nossos poderezinhos, a ponto de soberbamente colocá-lo contra a parede contestando sua autoridade e seus ensinamentos?

17 de dezembro de 2013 

Mateus 1, 1-17

"Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo." (Mt. 1,16)

Jesus é filho de Abraão. Nele se cumpre a promessa: todos os povos da terra são abençoados. Mostra-nos, também, que Jesus faz parte da dinastia de Davi, portanto é Rei de Israel. Jesus veio para salvar a todos os povos: judeus e gentios. Veio salvar a você e a mim. Para isso, desceu dos céus e tomou a nossa carne. Entrou na História de um povo. Interessante notar que, entre os antepassados de Jesus, não há somente santos. Longe disso. Há assassinos, adúlteros, prostitutas. Mas Jesus não teme misturar-se. São pecadores de todas as épocas que Jesus quer resgatar. Recusamos ou acolhemos a sua vinda salvadora? Somos pecadores? Não temamos. Nos arrependamos e aproximemo-nos com confiança da misericórdia de Deus e Ele nos perdoará.

18 de dezembro de 2013

Mateus 1, 18-24

"A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo." (Mt. 1, 18-19)

Muitas vezes, José passa despercebido nos evangelhos. Não há o registro de uma única palavra falada por ele. Mas é um dos grandes - se não o maior - santos da Igreja! José era justo. Isto define o homem que foi escolhido para ser legalmente o pai de Jesus. José conhecia as virtudes de Maria, por isso recusa a denunciá-la às autoridades e resolve abandoná-la discretamente porque também não podia assumir um filho cuja paternidade desconhecia. José é justo e o "justo vive da fé". Ele não conseguia compreender como tudo aconteceu, mas sabia que ela não podia ser culpada e confiou o julgamento a Deus e não a ele próprio ou à Lei. Temos esta discrição de São José? Julgamos as pessoas apressadamente sem conhecer todos os elementos que envolvem o caso ou procuramos compreendê-las? Falamos mal das pessoas e as difamamos? Apontamos o dedo para as pessoas ou procuramos ser justos?

19 de dezembro de 2013

Lucas 1, 5-25

"Mas o anjo disse: 'Não tenhas medo, Zacarias, porque Deus ouviu tua súplica. Tua esposa, Isabel, vai ter um filho, e tu lhe darás o nome de João." (Lc. 1, 13)

Zacarias e Isabel já eram de idade avançada e, além disso, Isabel era estéril. Mas os dois não perdiam a esperança, suplicando a Deus que lhes dessem um filho. Quando o anjo Gabriel anuncia a Zacarias que Isabel ficará grávida, ele chega a duvidar de tamanho milagre e é castigado com a mudez. Isabel e Zacarias representam o Antigo Testamento que se tornou estéril e sem mais nada a dizer, mas também o representam na esperança da vinda do Messias que faz tudo novo. Assim, Deus os recompensou dando-os São João Batista que será o precursor de Jesus. Sua missão será preparar os caminhos do Senhor, apelando a todos para que se convertam e façam penitência. É o último e o mais importante dos profetas. Diante das situações da vida, quando tudo parece não ter jeito, mantemos viva a esperança e confiamos em Deus sabendo que Ele pode tudo e cuida de nós? Como estamos preparando nossos corações para acolher Jesus neste tempo propício do Natal? Pela conversão que nos torna férteis em boas obras ou estamos perdidos na preparação de um natal falso e consumista e, por isso, estéril?

20 de dezembro de 2013

Lucas 1, 26-38

"Maria, então, disse: 'Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!'" (Lc. 1, 38)

Deus Todo-Poderoso poderia salvar a humanidade com um simples ato de sua vontade, mas Deus recusou este ato frio de "burocracia". Enviou seu Filho eterno, o Verbo divino, que se encarnou no seio da Virgem Maria. Deus quis se fazer um de nós. Desceu a nós para poder nos elevar até Ele. Não salvaria a humanidade sem a participação do ser humano e para isso escolheu a mais humilde das mulheres para sua mãe, aquela que tinha seu coração em sintonia com Deus e cuja vida tinha apenas o propósito de fazer a sua vontade. Aquele "sim" pronunciado em Nazaré mudou a História e nos abriu o Paraíso. Aquele "faça-se" nos remete ao Gênesis, ao relato da criação. Em Maria, Deus começa a fazer nova todas as coisas. Que tenhamos a coragem e a fé da Virgem Santíssima em se entregar total e incondicionalmente a Deus para que Ele conduza nossas vidas e realize em nós a Sua vontade.

21 de dezembro de 2013

Lucas 1, 39-45

"Com um grande grito, exclamou: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!' Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?" (Lc. 1, 42-43)

Em Nossa Senhora, encontramos todas as virtudes (e não seria por menos, já que ela é a Toda-Santa), mas a maior delas é a humildade. Toda mulher judia tinha a expectativa de que seu filho poderia ser o Messias. Maria concebe do Espírito Santo, sabe que será a mãe do Cristo Salvador esperado por séculos, mas ela não se sente orgulhosa, porque sabe que tudo é graça de Deus. A Mãe de Deus não se sente como quem tem o rei na barriga (ainda que, de fato, tivesse...). Quando sabe, através do anjo Gabriel, que Isabel está grávida, Maria parte apressadamente, atravessa o país, para ajudá-la. É a primeira a encontrar-se com Jesus e já parte como missionária. Leva Jesus a Isabel e a João Batista que ficam cheios do Espírito Santo. Quem encontra-se com Jesus não pode guardar esta experiência só para si. Este encontro nos impele a sair da preguiça, da comodidade para anunciar Jesus pelo exemplo de vida, pela palavra e pela caridade.



8 de dez. de 2013

Imaculada Conceição da Virgem Maria

Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a dela.
Esta te ferirá a cabeça
e tu lhe ferirás o calcanhar. (Gn. 3, 15)

Um visível crescimento de atos de blasfêmia e sacrilégio contra Nossa Senhora me leva a refletir sobre este trecho do Gênesis, o chamado “proto-evangelho”. Por que tanto ódio sentido pela Mãe de Deus? É impressionante o desrespeito pela Santíssima Virgem. Dentre imagens dos mais variados santos e de Jesus, as de Maria são os alvos prediletos do ataque de sacrílegos e blasfemadores. Num episódio recente que podemos lembrar, foram imagens de Nossa Senhora que feministas profanaram durante a JMJ. São imagens de Nossa Senhora que aparecem em poses eróticas, ridicularizadas e ofensivas em algumas pretensas obras de arte. 

Alguém pode dizer: “mas imagens são somente imagens”. Este seria um belo sofisma. Sabemos muito bem que imagens são representações de algo real e que os ataques desferidos contra elas são endereçadas ao que elas representam e não ao que elas são. Ninguém coloca fogo na bandeira dos EUA porque quer queimar um pano com cinquenta estrelas sobre fundo azul e listras horizontais vermelhas e brancas. Ao longo da História, o ódio a Nossa Senhora foi demonstrado através de ataques às representações de Nossa Senhora. Alguns exemplos: um atentado à bomba contra Guadalupe, a imagem de Aparecida estilhaçada contra o chão, a Pietá de Michelângelo com um braço arrancado e o rosto deformado pelos golpes de uma marreta. Isso tudo produzido por pessoas sem fé ou desequilibras. E quando estes ataques partem daqueles que se proclamam cristãos. Que tristeza! Está lá a “cicatriz” no rosto de Nossa Senhora de Czestochowa que não me deixa mentir. E quantos atos deste tipo aconteceram pelo Brasil nos últimos anos. Até ações judiciais andam movendo contra a Virgem Santa! 

As forças do Mal continuam se movendo contra aquela que nos trouxe o Salvador. Até o fim dos tempos, o Dragão continuará vomitando um rio para submergir a Mulher (Ap. 12, 15). Como para Deus nada é impossível (Lc. 1,37), Maria foi a primeira pessoa salva pelos méritos de Cristo. Desde sua concepção foi cheia da graça de Deus (Lc. 1,28), isenta do pecado original Aquela de cuja carne puríssima nasceria o Salvador. Foi pela mulher que o pecado entrou no mundo; foi pela Mulher que a graça entrou no mundo. Foi a mulher que deu o fruto da perdição ao homem; foi a Mulher que nos deu o fruto – bendito fruto do seu ventre (Lc. 1,42) – da nossa salvação.  Não é para menos que o diabo odeia a Santíssima Virgem Maria, pois foi nela que ele começou a ser derrotado e seria definitivamente com a morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. O diabo usa dos seus filhos para atacar suas imagens. Age como uma criança birrenta. Ele não tem poder contra a Mãe de Deus que reina gloriosamente ao lado de Seu Filho e que intercede constantemente para que seus filhos sobre a terra, vivendo em Cristo, também possam vencer as forças do Mal. 

Ó Maria concebida sem pecado. Rogai por nós, que recorremos a vós! 



1 de dez. de 2013

1º Domingo do Advento: "Portanto, ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor." (Mateus 24, 37-44)

Por isso, também vós ficai preparados!
Porque na hora em que menos pensais,
o Filho do Homem virá. (Mateus 24, 44)

Hoje iniciamos mais um Ano Litúrgico com o primeiro Domingo do Advento. O Advento é tempo de preparação para a comemoração do Natal de Jesus quando Ele veio a nós. Mas também é um período em que a Igreja nos propõe refletirmos sobre a outra vinda de Jesus, quando Ele vier em sua glória para julgar a humanidade. Portanto, é uma época como a quaresma, ainda que em intensidade menor, de penitência e reflexão. No evangelho de hoje, Jesus nos avisa sobre esta sua vinda definitiva. Diz-nos que ela será repentina, sem aviso prévio, como foi o dilúvio no tempo de Noé. Dá-nos a seguinte imagem como exemplo: “Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada”. 

Portanto, como Jesus nos pede, fiquemos atentos. E o que devemos fazer? Façamos o que Paulo nos indica na carta aos romanos: “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia: nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades. Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”. Jesus quer nos encontrar vivendo em estado de santidade.

Voltemos a história de Noé citada por Jesus. Em meio à humanidade corrompida, Deus encontrou Noé, um justo. Falou com ele, revelou-lhe seu plano de por fim a tanta maldade e de começar uma humanidade renovada a partir dele. Assim, Noé teve fé e construiu a arca que salvou sua família e os animais e, posteriormente, foram o germe da nova criação. Jesus também nos revelou o plano de Deus para nossas vidas. Como no tempo de Noé, fez aliança conosco, uma aliança eterna que nada pode romper se mantivermo-nos fiéis a Ele. Jesus nos fez justos e santos e nos colocou em sua arca, a Igreja, que navega sobre as turbulentas águas do mundo, conduzindo-nos rumo à Pátria definitiva. Nós somos esta humanidade renovada e são os santos que herdarão a nova terra e os novos céus que surgirão quando Jesus voltar e colocar um ponto final na História instaurando seu Reino de paz e de justiça, onde os povos “não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate”. 

Nós, cristãos, não devemos temer o “fim do mundo”. Pelo contrário, será o retorno de Jesus Cristo, Aquele que amamos e que nos ama, Aquele que recebemos docemente na Eucaristia. É Ele que retornará e nos transformará e viveremos eternamente com Ele. Não sejamos como os homens e mulheres do tempo de Noé e que podemos reconhecer facilmente ainda nesta nossa época, que voltam as costas para Deus e não reconhecem seus sinais, preferindo viver numa vida de pecado. Aqueles foram submergidos pelas águas e, quando Cristo voltar, infelizmente encontrará parte da humanidade em pecado, não querendo saber de Deus. Mas nós não. A nós, Jesus alerta: “Estejam preparados!” Que hoje demos ouvidos ao chamado de Jesus e nos convertamos para vivermos na graça de Deus, fazendo sua vontade, e, assim, esperemos alegremente este encontro definitivo, face-a-face, com Jesus. 

Vem, Senhor Jesus!




27 de nov. de 2013

A parcialidade da mídia: tentativas de desacreditar o Cristianismo e as evidências históricas de Jesus Cristo

"Arqueólogos descobrem local onde Buda teria nascido no século 6 a.C.". Bela notícia para a arqueologia e para a História. Mas gostaria de chamar a atenção para a diferença de tom entre este achado importantíssimo e os vestígios arqueológicos do cristianismo. Onde estão no corpo da notícia, expressões que denotam incerteza, tais como: "o suposto lugar", "segundo se crê", "segundo 'tal' acredita que"? Onde estão os pretensos estudiosos céticos que nunca tem seus nomes ou obras citados? Por que esta má vontade com o cristianismo? Diz um trecho da matéria:

"Foi possível checar o nome e determinar que trata-se realmente o lugar do nascimento de Buda graças a um pilar de arenito do século 3 a.C. que continha a informação em uma inscrição gravada durante a visita do imperador Asoka, explicou a Unesco."

Sendo assim, por que a dúvida quanto ao local de nascimento de Jesus ou o local de sua crucificação, sepultura e ressurreição onde já foram realizadas importantes escavações arqueológicas que comprovam a autenticidade dos locais? Por que as investigações sobre os lugares santos conduzidas por Santa Helena no século IV que resultaram nas construções das basílicas da Natividade, em Belém, e do Santo Sepulcro, em Jerusalém merecem tanta dúvida? Por que a presença ininterrupta da comunidade cristã, juntamente com seus bispos, em Jerusalém não mereceriam um testemunho credível sobre a veracidade dos lugares santos?

Um exemplo mais recente foi dado nas matérias sobre as relíquias de São Pedro expostas pela primeira vez no domingo passado durante a Santa Missa da festa de Cristo Rei e encerramento do Ano da Fé. Quase todas as matérias da imprensa secular puseram em dúvida a autenticidade das relíquias, mesmo depois de 23 anos de pesquisa arqueológica nos subterrâneos da Basílica Vaticana, onde foi encontrado o túmulo e os restos mortais de São Pedro. Em resumo, a mídia e boa parte dos pesquisadores preferem atender as suas concepções ideológicas do que aos métodos científicos.

Para ver a matéria:


24 de nov. de 2013

Mitologia, deuses gregos, neopaganismo, corpos sarados e anabolizantes

Zeus
O mito é uma forma de relato passado de geração para geração que visa explicar a origem do universo, dos seres e dos fenômenos da natureza. Os mitos gregos traziam conhecimentos sobre a natureza e questões filosóficas e éticas. Muitos mitos, principalmente sobre heróis gregos, surgiram baseados em fatos históricos. A mitologia grega era formada por deuses antropomórficos, ou seja, seus aspectos e ações eram semelhantes aos dos humanos. O que realmente os diferenciava dos seres humanos eram seus poderes extraordinários e a imortalidade. Graças a esta semelhança, os mitos acabavam regendo e avalizando aspectos sociais, como a guerra ou o amor. Os deuses eram modelos de como ser e viver.

Os deuses gregos viviam no Monte Olimpo. Há semelhanças entre as divindades gregas e de outras culturas antigas do Oriente, o que denota a forte influência que os helenos receberam destes povos. Em todas estas culturas (egípcia, babilônica, fenícia, hindu) os deuses personificam e controlam fenômenos da natureza, ações e sentimentos humanos. Já os romanos adotaram o panteão grego em sua mitologia apenas modificando os nomes de seus deuses. 

Poderíamos fazer uma analogia entre os mitos helenos e os “mitos” atuais. Nosso Monte Olimpo é a televisão. É lá que todos querem chegar. É da TV que partem os ideais estéticos, de beleza e de sucesso e, porque não, de comportamento. O que nos difere são as motivações que poderiam nos elevar a tal “glória”. Os helenos procuravam os feitos heroicos que os aproximavam dos deuses e nós, ao contrário, miramos as futilidades empregadas para tal divinização desconsiderando a falta de “poderes extraordinários”, ou seja, o talento. O que vale mesmo são os famosos quinze minutos de fama, alcançar a imortalidade do videotape.  

Poseidon
Além disso, os deuses gregos sempre são representados em suas estátuas com corpos musculosos e perfeitos - muitas vezes tão perfeitos que são irreais. Por este motivo, os helenos desenvolveram amplamente as atividades físicas aliadas às atividades intelectuais. Ter corpos sarados ia além do simples culto ao corpo. Era uma prática religiosa de aproximação à divindade, já que a religião grega não possuía regras de conduta nem de moralidade a se seguir para alcançar a imortalidade, ou Paraíso, como possui o cristianismo, parecer-se fisicamente com os deuses era parte da prática religiosa helenística. Muito diferente do que vemos hoje, onde o culto ao corpo é um fim em si mesmo e para conquistar um corpo que se julga perfeito em relação a um padrão estabelecido pela mídia e por questões mercadológicas, recorre-se a tudo, inclusive pondo a vida em risco com o uso de esteroides anabolizantes. Vivemos tempos de neopaganismo piores do que o dos antigos gregos, posto que o nosso, além de eliminar qualquer vestígio de transcendência, é mergulhado em total ignorância.  


21 de nov. de 2013

A Santa Missa: expectativa e realidade (Parte III)

Como deve ser: a música litúrgica é música sacra. O som do órgão e do canto gregoriano nos remete imediatamente às celebrações litúrgicas. É música de igreja. 

Como é: todos os ritmos e instrumentos aparecem nas igrejas. As Missas viraram shows com presença de bandas, cantores que dão “uma palhinha”, barulheira. Isso quando não parece simplesmente uma roda de viola ou um terreiro de candomblé.  


Como deve ser: os vasos litúrgicas devem ser purificados por um ministro consagrado (diácono ou sacerdote). A  purificação dos vasos que contiveram o corpo e sangue de Cristo nos remete às mulheres que enxugaram o sangue do Senhor durante a Via Dolorosa e de Nossa Senhora recolhendo o sagrado sangue de Cristo derramado no chão após a flagelação.

Como é: os vasos litúrgicos são purificados por qualquer um, por qualquer leigo e sem nenhuma ou pouca piedade, que parece mais que se está lavando a louça após um refeição. As alfaias sagradas não são guardanapos. 


Como deve ser: Sanctus é um hino composto pela junção do hino que os serafins dirigem a Deus e àquele que a multidão em Jerusalém dirige a Jesus. É um hino de louvor a Deus. 

Como é: é trocado por músicas infantilizadas acompanhadas por palmas, onde suas palavras são modificadas ao bel-prazer ou se canta alguma outra música baseada no Sanctus


Como deve ser: Os fiéis vão à Santa Missa com decoro e piedade na forma de se vestir, pois sabem que estarão diante da majestade de Deus. Colocam a melhor roupa, a “roupa de missa”. Antigamente, as mulheres usavam piedosamente o véu de missa que, diga-se, não foi abolido.
Como é: vão à Missa com qualquer roupa. Os homens vão de bermuda e camiseta regata. As mulheres chegam a ir com roupas indecorosas. 




7 de nov. de 2013

A Síria e o milagre do Papa Francisco

No dia 21 de agosto, um ataque com armas químicas matou mais de 1400 pessoas nos arredores de Damasco. Apesar de as evidências levarem ao governo sírio, não ficou comprovado que este tenha sido o autor do cruel ataque. Os países se movimentam. Fala-se de intervenção na guerra civil síria. Os EUA encabeçam as ameaças, seguidos pela França, Inglaterra e pela OTAN. Até mesmo a Liga Árabe se posiciona favorável a uma intervenção militar no país. China, Rússia e Irã dizem que defenderão sua aliada. O cheiro de guerra em proporções mundiais paira no ar. Nada parece deter um ataque iminente. Exercícios militares se iniciam no Mar Vermelho e no Mediterrâneo. Os efetivos militares norte-americanos estacionados na região são mobilizados. Uma intervenção semelhante a ocorrida na Líbia parece se desenhar. O presidente Bashar al-Assad recusa qualquer negociação e diz que está pronto para defender a Síria. O mundo espera o momento que o primeiro tomahawk lance aos ares uma instalação militar ou governamental damascena. 

Então, levanta-se em Roma o Homem de Branco. Ele não tem efetivos militares a não ser uma centena de mercenários suíços que o protegem. Ele não toma partido. Ele convoca o mundo para um dia de jejum e oração pela paz no mundo, especialmente pela Síria. Convoca todos: católicos e não-católicos e até não-crentes. Pede que todos participe de alguma forma. Obedientes ao seu apelo, no dia 7 de Setembro, mais de 100 mil pessoas se reúnem na Praça de São Pedro e, com milhares pelo mundo, juntos com o Papa, ajoelham-se - inclusive muçulmanos - diante do Santíssimo Sacramento pedindo paz no mundo e que Deus toque as consciências dos que o governam. 

Aos materialistas e descrentes, tudo aquilo é uma perda de tempo e prova da ineficácia da religião. Mas algo surpreendente acontece. Contra toda a expectativa, constrói-se um acordo. Não se procura mais culpados pelo ataque (até porque não foi possível identificá-los), nem pretende-se piorar a situação na região. A Rússia e os EUA propõem que a Síria permita que inspetores da Opaq investigue o ataque e o seu arsenal químico. Al-Assad permite. O segundo passo é que a Síria elimine suas armas químicas. Mais uma vez, o presidente sírio cede. Os inspetores da Opaq terminam a operação no final de outubro. A Síria não tem mais armas químicas. A Opaq é laureada com o Prêmio Nobel da Paz. 

Deus é o Senhor da História. Para quem crê, a conexão entre o dia de oração e jejum convocado pelo Papa e o desfecho imprevisível para o incidente químico na Síria é evidente. Deus não necessita fazer milagres estrondosos, mas apenas tocar suavemente, até de forma humanamente imperceptível os corações. Foi pelas causas segundas, iluminando os homens da diplomacia - inclusive a do Vaticano. Lembremos que o Papa Francisco enviou uma carta ao presidente russo Vladimir Putin por ocasião do encontro do G20, pedindo que propusesse aos líderes mundiais uma solução pacífica para o conflito - que encontrou-se uma solução. A guerra civil na Síria e os conflitos em tantas partes do mundo ainda permanecem. Continuemos unidos ao Papa Francisco, o homem da paz, implorando ao Príncipe da Paz para que todos eles cessem.

31 de out. de 2013

A Santa Missa: expectativa e realidade (Parte II)

Como deve ser: a Procissão de entrada tendo a cruz na frente e seguida pelo sacerdote é a via-sacra, o percurso de Jesus até o Calvário.

Como é: é um desfile onde se aceita tudo: leigos inúteis, apresentações artísticas parecendo a Marques de Sapucaí, cartazes com palavras de ordem. 


Como deve ser: o presbitério, em posição elevada, é o monte do Calvário, onde ocorrerá o sacrifício de Cristo. Nele sobe o sacerdote, que agindo em Persona Christi, oferece o sacrifício de forma incruenta. Com ele, sobe apenas seus auxiliares (acólitos, diácono) que são como Simão Cirineu, aquele que auxiliou Jesus a carregar a cruz.

Como é: no presbitério sobe as mulheres, os soldados romanos e boa parte da população de Jerusalém... O presbitério vive apinhado de gente. 


Como deve ser: a Santa Missa inicia-se com o sacerdote invocando, com simplicidade e decoro, a Santíssima Trindade. 

Como é: é invocada pelo povo todo em meio a uma música infantilizada e a Santa Missa começa com um aplauso, como se fosse um espetáculo teatral. 


Como deve ser: O ato penitencial é um momento de introspecção onde pedimos perdão a Deus pelos pecados que cometemos para que, purificados, possamos oferecer o sacrifício: do Corpo e Sangue de Cristo, oferecido pelo padre; e de louvor, oferecido pelos fiéis. Os pecados veniais são perdoados na Santa Missa. O “Confesso a Deus” e as invocações contidas no Missal pedindo que o Senhor tenha piedade de nós pode ser recitados ou cantados, preferencialmente em estilo gregoriano e mantendo as súplicas em língua grega. Não cantamos por agradecimento por já estamos perdoados ou louvamos a misericórdia de Deus. Mas, arrependidos, pedimos realmente perdão e somos perdoados. 
 
Como é: são substituídas por qualquer música que fale da misericórdia e do perdão de Deus, músicas açucaradas e alegrinhas de quem não percebe que estamos pedindo perdão das ofensas a Deus.


21 de out. de 2013

Um ateu pode ser uma pessoa melhor? Ou: Crer em Deus torna as pessoas melhores?

A pesquisa do Datafolha que pretendeu situar a população brasileira no espectro político-ideológico tinha como última pergunta: “você acha que acreditar em Deus torna as pessoa melhores?”. Dos entrevistados, 85% responderam que sim. A manchete no UOL que anunciava a pesquisa destacava – e com propósitos bem definidos – exatamente este posicionamento da maioria dos entrevistados. A choradeira foi geral. O restante da pesquisa foi praticamente ignorada. Nos comentários da notícia no site e da postagem da Folha no Facebook choveu comentários dos ateus de internet e afins, bravos porque a maioria das pessoas acha isso, dizendo que para ser bom não precisa crer em Deus e, inclusive, afirmando exatamente o oposto da pergunta, que acreditar em Deus torna as pessoas piores. 

Pois bem, o que dizer? Sim, crer em Deus torna as pessoas melhores. Porém, as coisas não são assim tão simples. Comecemos do começo. Crer em Deus apenas, não basta. Já dizia São Tiago em sua carta: “Crês que há um só Deus? Fazes bem. Também os demônios creem e tremem” (2, 19). Dizia estas palavras quando desenvolvia a doutrina sobre a justificação pelas obras, tão necessária como pela fé. Portanto, o simples fato de crer em Deus não é suficiente para tornar ninguém melhor. É preciso praticar as boas obras. É preciso crescer nas virtudes. 

Posto isto, vamos à outra parte da questão. Quando o Datafolha faz uma pergunta como esta e se obtém tal resultado, é evidente que os entrevistados, advindos de uma cultura cristã, pensam logo no Deus único e verdadeiro revelado em Sua plenitude em Jesus Cristo. Não basta crer em uma divindade – ou divindades – qualquer. Não basta ser monoteísta. Não basta ter uma vaga ideia da existência de um Ser Supremo. É preciso crer, por princípio, no Deus verdadeiro. E, como já mencionado, o Deus verdadeiro revelou-se em Jesus Cristo. Para resgatar a humanidade pecadora, era preciso o homem perfeito, Santo, que reatasse as plenas relações com Deus através de uma perfeita obediência. Sendo assim, nenhum dos seres humanos, manchados desde a concepção pelo pecado original, poderia realizar esta sublime missão. Somente fazendo-se homem, Deus podia operar a redenção, pois foi o homem que tornou-se desobediente pelo pecado e ficou incapaz de voltar-se para Ele. Em Jesus, o Filho de Deus, há o encontro entre Deus e o homem. Ele é Deus feito homem. Nele, o homem Jesus, se encontra a plenitude da divindade. É verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Portanto, tendo sua vontade humana submetida livremente à vontade divina, Jesus pôde obedecer perfeitamente a Deus e obedeceu até a morte de cruz. 

Mas o que tudo isso tem a ver com a pergunta do Datafolha? Para ser bom, para tornarmo-nos melhores, é preciso, sim, crer em Deus, mas também crer naquele que Ele enviou, Jesus Cristo. Ou seja, para se tornar um ser humano melhor, tem que ser cristão. Não tenho dúvida que a grande maioria que respondeu positivamente à pergunta tinha em mente esta concepção de Deus. Assim, já temos três pontos sobre como tornar-se melhor: 1) a necessidade de crer em Deus; 2) a necessidade de crer na Encarnação e Redenção de Jesus Cristo; 3) a realização das boas obras. Continuemos. 

Estas boas obras não são quaisquer obras. São aquelas que Jesus nos mostra pelas suas palavras e ações. É Jesus, o homem perfeito, o nosso modelo de humanidade. O próprio Cristo nos diz para sermos perfeitos como o Pai celeste é perfeito (Cf. Mt. 5, 48). Ele é a imagem viva do Pai. É Nele que devemos espelhar nossa vida e nosso modo de agir para a perfeição. Porém, nossa natureza está enfraquecida pelo pecado. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo. 12, 5), disse Jesus. Sozinhos não podemos tornarmo-nos perfeitos como o Pai. Precisamos que Sua graça venha em nosso auxílio e é pela fé em Jesus Cristo que ela nos é dada. É o Espírito Santo que nos foi dado no batismo que restaura em nós a imagem de Cristo, que nos eleva à perfeição, nos “diviniza”. As nossas boas obras, portanto, só tem valor se unidas a Jesus Cristo (Cf. Jo. 15). É imitando Jesus que amou a humanidade, deu-se inteiramente por ela, acolheu os pecadores, perdoou, cuidou dos pobres e sofridos que nos tornamos melhores. Quem não crê em nada disso (e aqui já deu para perceber que isto não diz respeito apenas aos ateus) já não pode se tornar melhor, por mais esforço que faça. Mas aqui pode-se objetar: “mas para perdoar, ser bom, fazer o bem não é preciso ser cristão, muito menos crente. Há ateus que realizam tudo isso!”. É verdade, porque o ser humano, ainda que tenha a natureza ferida pelo pecado, pode ser capaz de realizar naturalmente atos moralmente bons. Mas sem um parâmetro do que é um ser humano melhor, como saber se se está melhorando? Pode considerar-se melhor que outros, melhor que o vizinho, mas não pode-se afirmar que é melhor ser humano sem aquele padrão que é Jesus Cristo. Sem Jesus Cristo pode-se, no máximo, ser um filantropo medíocre, jamais alguém melhor. Quem não crê não pode tornar-se melhor porque, em última instância, refere todas as suas boas obras a si próprio, diferentemente do cristão para quem tudo é dom de Deus. A autorreferência é uma prisão de onde nunca se escapa do egoísmo, por mais que seja solidário e empenhado em ações humanitárias. E o egoísta jamais será alguém melhor. 

O que nos torna melhores é o amor. O amor (caritas, ágape) –  aquele dom de Deus sem o qual São Paulo diz que de nada serviria dar aos pobres todos os seus bens, nem entregar seu corpo às chamas (Cf. 1Cor. 13) –  pode nos elevar acima de nós mesmos. Jesus nos deu um novo mandamento: “Amai- vos uns aos outros como eu Vos amo” (Jo. 15, 12). Este é o padrão. E como Jesus nos amou? Saindo de si próprio, rebaixando-se, não se apegando a sua condição divina, mas despojando-se de tudo para servir ao próximo. Para ser melhor, o homem precisa se despojar de si próprio, sair do egoísmo, dar a vida pelos irmãos e não só na atividade apostólica e caritativa, mas também na oração, na contemplação, na ascese. E quantos exemplos nos vêm à cabeça de homens e mulheres que doaram-se inteiramente no serviço dos irmãos. O homem torna-se grande quando ajoelha-se para adorar a Deus e para lavar os pés dos irmãos. O único caminho para tornar-se melhor, insisto, é imitar a Cristo. O Cristo humilde, servo de todos. O cristão é melhor, mas não soberbamente melhor do que os outros. Não é o orgulho luciferino que faz o cristão se considerar melhor. É melhor do que si próprio, do que a comum natureza humana decaída e corrompida que, como a gravidade, força o homem para baixo e não permite elevar-se em direção à perfeição. O cristão não se considera um super-homem, como na filosofia de Nietzsche, que se eleva por conta própria acima de suas fraquezas. É exatamente reconhecendo suas fraquezas e sabendo necessitado da graça de Deus que o ser humano torna-se melhor, dá um salto evolutivo, um upgrade em sua essência humana. 

Sim, a maioria que respondeu à pergunta do Datafolha está certa: crer em Deus torna uma pessoa melhor desde que corresponda às exigências desta fé. Portanto, retomemos aqueles pontos necessários, acrescentando um quarto: 1) a necessidade de crer em Deus; 2) a necessidade de crer na Encarnação e Redenção operada por Jesus Cristo; 3) a necessidade da graça para realizar e perseverar nas boas obras; 4) o amor a Deus e ao próximo assim como Jesus amou. Esta é a receita para um ser humano tornar-se melhor, para que seja restaurada em cada pessoa a imagem e semelhança de Deus. E é este o roteiro que seguiram aqueles que chamamos de santos. 


12 de out. de 2013

A Santa Missa: expectativa e realidade (Parte I)

Como deve ser: o altar representa o Cristo, a cruz onde Cristo se sacrificou e a pedra tumular onde repousou seu corpo sem vida e de onde levantou, ressuscitado. 

Como é: é uma mesa que se assemelha a uma mesa de cozinha, somente um lugar de refeição. 


Como deve ser: o sacerdote age na pessoa de Cristo. É o próprio Senhor que age através dele para atualizar Seu sacrifício. 

Como é: o padre é o animador de auditório, o cantor, o agitador de massas, o contador de histórias, o presidente da celebração. 


Como deve ser: as diversas peças do paramento compõem a armadura do cristão descrita pelo apóstolo Paulo. Serve para despersonalizar o homem que o veste para que resplandeça o sacerdote, ministro do Único Sacerdote. A referência da Missa não é o padre. Os fiéis e o padre celebravam direcionados para o mesmo lugar, tendo o Crucifixo por referência. 

Como é: o padre é o centro das atenções, é o artista, é aquele pelo qual vão à Missa. 


Como deve ser: o presbitério, em posição elevada, é o monte do Calvário, onde ocorrerá o sacrifício de Cristo. Nele sobe o sacerdote, que agindo in persona Christi, oferece o Cristo de forma incruenta. Com ele, sobe apenas seus auxiliares (acólitos, diácono) que são tais como Simão Cirineu, aquele que auxiliou Jesus a carregar a cruz. 

Como é: no presbitério sobe as mulheres, os soldados romanos e boa parte da população de Jerusalém... O presbitério vive apinhado de gente. 


Como deve ser: a toalha do altar deve ser branca e representa o lençol que envolveu o corpo de Jesus e os panos usados no seu sepultamento. 

Como é: é uma toalha de mesa. Em muitos lugares varia de forma e de cor nada diferente de toalhas de restaurante ou pizzaria. 




1 de out. de 2013

A verdadeira Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face

Hoje é dia de Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, uma das santas mais populares. Lembremos, hoje, portanto, desta monja carmelita que dedicou sua vida a Deus, morrendo com apenas 24 anos. Mas, lembremos da verdadeira Santa Tereza de Lisieux, não da menininha boba rodeada de rosas criado por um devocionismo vulgar. 

Sim, lembremos da Tereza da extrema paciência com Deus e com os homens; 

- da Tereza extremamente humilde, que fazia os serviços mais duros do Carmelo; 

- que suportava em silêncio, sem responder ao mal humor de algumas irmãs, inclusive daquela que reclamou do cheiro da flores que Tereza carregava, quando na verdade as flores eram de papel; 

- que passou, certa vez, por um alfinete caído no chão e retornou pegá-lo, pois, ao contrário teria deixado este serviço para outra fazer, demonstrando preguiça e abuso dos outros; 

- da Tereza que suportou um sofrimento atroz causado pela tuberculose, sem reclamar, sem murmurar, tanto que continuou fazendo os trabalhos do Carmelo e assistindo aos serviços religiosos da mesma forma, que quando a Superiora percebeu sua doença, já era tarde demais; 

- da Tereza, uma rocha na fé, que passou por um período de aridez tão terrível, sem sentir gosto para as coisas de Deus e permaneceu fiel a Deus e a Sua Igreja, pois fé não é emocionalismo, nem excitação dos sentidos; 

- da Tereza que passava horas em oração pela Igreja e pela conversão do mundo; 

- da Tereza que abraçou a cruz e oferecia os menores sacrifícios pela conversão dos pecadores. 

Esta é a Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face que devemos lembrar no dia de hoje. Lembrar e imitar suas virtudes.


29 de set. de 2013

A relação da mídia com o Papa Francisco: uma interpretação errônea

Conhecendo um pouquinho de História da Igreja, vejo a relação da mídia e de alguns grupos católicos com o Papa Francisco semelhante a que tiveram com Pio IX e Leão XIII. 

Com sua eleição, Pio IX foi louvado pelos liberais como um dos seus. A mídia e os oradores liberais louvavam o Papa que tinha dado abrigo ao revolucionário Luis Napoleão quando bispo e que modernizava os Estados Pontifícios com a iluminação a gás e ferrovias. Em poucos anos (só dois, para ser exato) viram que estavam enganados, Pio IX era extremamente ortodoxo (basta lembrar da Quanta Cura e do Syllabus lançados mais tarde) e os gritos de "hosana" passaram a ser de "crucifica-o". 

Com Leão XIII ocorreu a mesma coisa. Sua encíclica Rerum Novarum que sistematizou a Doutrina Social da Igreja foi acusada por uns de ser socialista e por outros de ser liberal. Seu reconhecimento dos regimes republicanos e democráticos, vistos até então como inconciliáveis com a fé católica, e, por este motivo, sua reaproximação com a França republicana fez com que piedosas senhoras de Paris organizassem novenas pedindo para, digamos, que Deus chamasse para junto de si o Santo Padre.



28 de set. de 2013

A democracia na Idade Média

A grande maioria das pessoas tem em mente que o período medieval foi uma época de autoritarismo. Nada mais enganoso, pelo menos quando se trata da Baixa Idade Média (séculos X a XV). Com a palavra, um dos maiores medievalistas de nosso tempo, Jacques Le Goff: 

"A base das decisões da comunidade é teoricamente tão ampla quanto possível em virtude dos dois princípios segundo os quais Quod omnes tangit ab omnibus tractari et approbari debet ("o que toca a todos deve ser tratado e aprovado por todos") e as decisões lícitas devem ser tomadas pela maior et sanior pars, isto é, pela maior parte e a mais sã da comunidade." (O Apogeu da Cidade Medieval, p. 84)

As decisões jamais são monocráticas, sejam elas municipais ou mesmo reais. As assembleias, tanto rurais como urbanas, tomam decisões e resolvem suas questões através do voto. Todos votam, inclusive as mulheres. O sistema de votação varia de região para região. Em algumas, os votos são por indivíduos; em outras, um voto por família. As cidades que conquistam sua franquia têm câmaras municipais, cujos representantes do povo são eleitos dentre os "homens bons". Não há uma única forma no governo das cidades. Algumas são governadas pela própria assembleia municipal, outras por representantes eleitos (cônsules, escabinos, prefeitos ou conselheiros), cujo número varia de cidade para cidade. Nas cidades que não são totalmente francas, as assembleias contrabalançam o poder de seus senhores, mesmo que este seja o rei. Há exemplos de ações judiciais movidas pelas cidades que foram apresentadas no Parlamento de Paris contra o rei e que tiveram suas causas ganhas. 

O poder do rei é limitado pelos costumes e pela moral religiosa. Se o rei abusar de suas atribuições, corre o risco de ser excomungado e perder legitimidade perante os súditos e seus vassalos. O sistema feudal também impede a autocracia do monarca. O rei jamais toma uma decisão solitariamente. Na Inglaterra, o poder do Parlamento fazia contraponto ao do rei desde o século XIII. No restante dos países, um conselho consultivo sempre o assiste (pensemos na Távola Redonda do legendário rei Artur). Aliás, nem sempre com vantagem. As infindáveis discussões dos conselheiros no Reino Latino de Jerusalém atrasavam decisões e prejudicaram a causa dos cruzados na Terra Santa. Além disso, de tempos em tempos, os reis convocam uma assembleia com representantes dos três estados tradicionais no Medievo (povo, nobreza e clero) para deliberar sobre assuntos de maior importância para o reino. 

Por fim, há quem objete que as cidades medievais tinham uma democracia capenga, dominada pelo poder econômico dos burgueses. É verdade, mas bem sabemos que este não é um problema restrito ao período medieval. De toda forma, o absolutismo dos reis nos séculos seguintes e os totalitarismos surgidos no século XX seriam inimagináveis na Idade Média.


15 de set. de 2013

A Igreja Católica e a dignidade das crianças: a pedofilia avança quando a sociedade se afasta do cristianismo

O tema da pedofilia voltou à cena, nos últimos dias, em dois fatos que correram o planeta: a morte de uma menina de oito anos no Iêmen, vítima de uma hemorragia provocada durante o sexo com seu marido de quarenta anos e a declaração do biólogo e ateu militante Richard Dawkins, afirmando que uma “leve pedofilia” não faz mal a ninguém.

No primeiro caso, Rawan foi vendida pelos seus pais ao marido e morreu de hemorragia durante a “noite da penetração”. Segundo a agência Zenit, “um relatório da Human Rights Watch de dezembro de 2011 diz que na terra da rainha de Sabá, 14% das meninas são dadas em casamento antes dos 15 anos, enquanto que o 52% antes dos 18”. Ainda que os costumes variem de região para região, o casamento de crianças com homens mais velhos é algo bastante comum no mundo islâmico e a legislação de vários países, como a do Iêmen, protege tais costumes. Estes costumes estão arraigados no islamismo, ou antes, na cultura árabe pré-islâmica. O fundador do Islã, Maomé, casou-se com Aisha quando esta tinha seis anos de idade e o casamento foi consumado aos nove. Portanto, se era um costume pré-islâmico, a religião maometana nada fez para eliminá-lo. Na trilogia escrita por Jean P. Sasson, que tomou o depoimento anônimo de uma princesa da família Al-Saud que governa a Arábia Saudita, é relatado como muitos árabes ricos compram meninas de famílias pobres para transar com elas e descartá-las depois.  

Mas não é só no mundo islâmico que o casamento de crianças é comum. Na Índia, apesar de proibido pela constituição do país, a prática tradicional continua bastante frequente. Famílias obrigam meninas que ainda não atingiram a puberdade a se casarem com homens muito mais velhos. Em muitas regiões da África subsaariana, a situação também pouco mudou. Crianças meninas são entregues a homens adultos. 

No segundo caso, o renomado ateu militante Richard Dawkins declarou em entrevista para à revista Times, ao contar um caso ocorrido em sua infância, quando um professor colocou-o no colo e enfiou a mão por dentro de seu short: “Estou muito consciente de que não se pode condenar as pessoas de uma época passada pelos padrões da nossa. Assim como nós não podemos olhar para os séculos 18 e 19 e condenar as pessoas por racismo, da mesma forma como condenar uma pessoa por racismo nos dias de hoje. Eu olho para as décadas da minha infância e vejo o que aconteceu como leve pedofilia, e não posso condená-lo pelos mesmos padrões que eu, ou qualquer um, teria hoje". Este é o terrível efeito do relativismo moral levado ao extremo pelo ateísmo militante para poder se opor à moralidade de cunho religioso, sobretudo cristã. A ideia de que a moral muda conforme as culturas e a época leva a aceitação de atos abjetos como a pedofilia ou qualquer tipo de parafilia e práticas sexuais. 

Neste ano, a Justiça da Holanda reconheceu o Partido da Caridade, da Liberdade e da Diversidade, que defende publicamente a pedofilia, alegando que, desde que consensual, não há problema algum na prática sexual de “menores” com adultos. A sociedade atual tende à aceitação da pedofilia. O pedófilo é um revolucionário desde o Marquês de Sade. Durante todo o século passado, com o advento da psicanálise freudiana e a revolução sexual, há defensores do direito do prazer sexual das crianças. Lembremos que o pai da sexologia, o norte-americano Alfred Kinsey, realizou inúmeras “experiências” das mais variadas práticas sexuais, inclusive com crianças, apesar de ele alegar que não as praticou, mas colheu informações durante o depoimento de um pedófilo. 

Tudo isto é fruto do processo de descristianização do Ocidente. Foi na Civilização Ocidental, construída pela Igreja Católica, que a prática da pedofilia foi condenada. Já nos tempos bárbaros, a Igreja proibiu o casamento de crianças. Foi a Igreja que promoveu a proteção das crianças – assim como das mulheres – proclamando sua inviolável dignidade. Como é perceptível, a pedofilia é um costume em algumas civilizações, um aspecto cultural, que não choca. Há vozes dissidentes nestes países, como na Índia e em países muçulmanos, mas é inegável que consideram a pedofilia chocante porque foram influenciados pelo senso moral do Ocidente. Com o afã de opor toda e qualquer prática sexual à moral católica relativa ao sexo, admiti-se qualquer perversão. Porém, pergunta-se, se a Igreja Católica foi quem baniu a pedofilia, como se explica os casos de padres pedófilos? Pois bem. A pedofilia praticada por um padre é um dos piores crimes e pecados que se possa cometer. É pior do que a pedofilia praticada por qualquer outra pessoa que não tenha recebido as ordens sacras. É pelos sacerdotes que Cristo age na Igreja. É na pessoa de Cristo que os sacerdotes administram os sacramentos. Portanto, o padre deve encarnar o Cristo, e quando praticam monstruosidades como estas, além de um pecado sexual, praticam um sacrilégio. Devem ser punidos com rigor. Mas, os padres são homens de seu tempo. Sempre foi assim. Os pedófilos entraram na Igreja num período de grandes mudanças de comportamento. Além de distúrbios que possam ter, estes homens foram influenciados por uma sociedade moralmente libertina e, inclusive, por certas doutrinas morais que contaminaram o próprio ensino nos seminários, que pregavam uma visão liberal da sexualidade. A esmagadora maioria destes padres foi ordenada nas décadas de 1960 e 1970. O período é sintomático. Todavia, graças a Deus, os casos são relativamente poucos se comparados à totalidade dos sacerdotes. 

É injusto, portanto, querer por na conta da Igreja Católica os casos ou causas da pedofilia, como se sua moral, disciplina e o celibato favorecessem o aparecimento do pedófilo. Pelo contrário. É a Igreja Católica que condenou a prática sexual com crianças. Foi a Igreja Católica que baniu a pedofilia – mesmo a legal através do casamento – do Ocidente. Se os casos de pedofilia são cada vez mais alarmantes em nossa sociedade é porque esta se afasta a passos largos dos ensinamentos da Igreja. 



6 de set. de 2013

O brasileiro: retrato de um estatista

O estatista é aquele que adora depender do Estado. Ele luta para ser dependente. Odeia a liberdade e a responsabilidade individuais. Ele quer o Estado metido em tudo, até nos pormenores de sua vida, até mesmo que regule com quem ele dorme, seja homem ou mulher. Ele gosta de documentos oficiais. 

Como já foi dito, o estatista odeia responsabilidade individual. Ele é um filho mimado. Por exemplo, se ele, irresponsavelmente, tem uma gravidez indesejada, quer que o Estado intervenha, resolva seu problema, custe o que custar. O estatista não quer assumir as consequencias de seus atos inconsequentes. O estatista quer que o Estado acabe com a pobreza. Quer que o Estado ame seu próximo em seu lugar.

Se ele usa drogas, quer que o Estado banque tanto seu consumo quanto sua vaga na UTI caso tenha uma overdose. O estatista adora sistema público de saúde. Ele não se importa em financiar um sistema de saúde impessoal, mesmo que este promova ações contrárias às certas consciências, muitas vezes, a do próprio estatista. 

O estatista sonha em ser funcionário público. Ele luta com todas as forças para isto. Mas seu objetivo não é colocar seus conhecimentos à serviço do bem-comum, muito menos crescer profissionalmente. Ele quer um emprego estável. E de preferência que se trabalhe pouco. Ele quer não ser demitido. Ele tem medo de andar com as próprias pernas. 

O estatista gosta de verbas públicas. Ele monta uma Organização Não-Governamental cuja fonte de dinheiro é o governo. O estatista gosta de programas sociais do governo. Ele adora transferência direta de renda. Ele quer estudar o mínimo e trabalhar o mínimo. Ele quer ser sustentado pelo Estado. 

O estatista gosta de monopólio. Ele odeia concorrência. Odeia o livre mercado. Odeia produtos importados, principalmente quando é melhor que o dele. Ele quer que o Estado seja o principal investidor em todos os setores da economia.

O estatista paga altos impostos. Ele sustenta a máquina estatal que tanto adora. Ele reclama, sabe que há algo errado, mas não imagina que o problema é seu deus. Então, ele exige que o Estado faça jus a seus impostos e faça-se ainda mais presente. 

O estatista quer que o Estado regule o que ele deve assistir na TV. Ele quer que o Estado controle as propagandas para que ele não compre o que não precisa. O estatista quer que o Estado eduque seus filhos desde a mais tenra idade. 

Infelizmente, este é o retrato do brasileiro. O povo brasileiro é estatista por natureza. Sua história, dominada pelo clientelismo e paternalismo, fizeram-no dependente do Estado e, em tal situação, que não pretende se libertar. É por isso que o brasileiro se dá tão bem com ditaduras: em 124 anos de república, viveu quarenta e cinco sob regime ditatorial, sem contar a época de democracia capenga do período da política café-com-leite. Apesar dos discursos ferozes contra uma pretensa política neoliberal dos últimos anos, o fato é que somos dependentes do Estado. O Estado ainda é o grande investidor e o maior empregador. Na última década, não por coincidência, sob o governo do PT, a presença do Estado ficou ainda maior. O brasileiro clama pelo estatismo. Daí para o totalitarismo é um passo. 




23 de ago. de 2013

JMJ Rio 2013: lições para toda a vida

Na celebração da Acolhida do Papa em Copacabana, Francisco citou em sua homilia a passagem da transfiguração de Jesus. Realmente, foi bastante oportuna a escolha deste relato evangélico. Creio que era exatamente como no Tabor que a grande maioria dos peregrinos se sentia na JMJ.

Portanto, é a partir da reflexão deste trecho dos evangelhos que começo a descrever minhas impressões sobre a Jornada Mundial da Juventude ocorrida no Rio de Janeiro neste ano de 2013. A minha primeira forte experiência foi a notória catolicidade da Igreja. Estavam reunidos no Rio, católicos de 178 países diferentes, praticamente de todo o planeta. A variedade de nações era visível através das bandeiras, algumas, para mim, desconhecidas. É uma alegria ver que o evangelho de Cristo se estende, com menor ou maior intensidade, por toda a terra. O mandato de Cristo, aliás, o lema desta JMJ, “Ide e fazei discípulos meus entre todas as nações” era perceptível pela diversidade de rostos, de cores de pele e de línguas. 

Outra impressão foi a unicidade e unidade da Igreja. Como já foi dito, tínhamos no Rio peregrinos de todos os cantos do mundo. Todos recebemos um só batismo e professamos uma só fé. Todos formamos uma grande família, filhos de um mesmo Pai e todos possuímos um só Senhor, Jesus Cristo. Apesar das diferenças, todos fazemos parte do Corpo Místico de Cristo, a Igreja. E esta unicidade e unidade ficam evidentes com a presença da Cabeça visível da Igreja, o Papa. É o Papa o sinal visível da unidade católica. 

Foi uma semana em que pude tocar a Providência Divina. Não apenas aquela Providência distante que conduz toda a História, mas o cuidado que Deus tem com cada um de nós em particular. Apesar de ter ido sozinho para o Rio, sem conhecer exatamente a cidade, Deus sempre colocou as pessoas certas no lugar certo que puderam me ajudar. Foi assim, por exemplo, no trem ao encontrar-me com Bruno, um morador de Santa Cruz (bairro onde eu estava alojado). Sem saber ao certo como ir da estação de trem até a casa aonde eu estava alojado, Bruno se dispôs a me ajudar, pois a Kombi que ele pegava todo dia para voltar para a casa passava exatamente na rua que eu estava alojado. Aliás, os cariocas são bastante solícitos. A todos que pedi informação – pessoas na rua, cobradores de ônibus, guardas e policiais – foram atenciosos e educados. Houve até um caso em que eu estava consultando o mapa e um senhor ofereceu ajuda sem que eu pedisse. Foram pequenos gestos de solidariedade que eu não esquecerei e que me serviu de lição para o trato com o próximo. 

Foram dias em que senti a solidariedade cristã, principalmente dos mais pobres. Como costuma ser, os pobres são mais generosos. Foram eles, na maioria dos casos, que abriram as casas para alojar os peregrinos. E aqui, aproveito para agradecer a dona Fátima e sua família que me acolheram em sua casa. Não foram dias de conforto. Em muitos alojamentos faltou água quente. Dormir no chão, apenas com o saco de dormir e, na Vigília, a céu aberto numa noite fria, serviu para percebermos que há aqueles que não podem escolher dormir de outra forma, ou ainda, dormem todos os dias em situação ainda pior, sem um saco de dormir para manter a temperatura, sem um teto, sem segurança. Há aqueles que não podem tomar um banho, nem mesmo frio. Esta experiência não pode ser considerada apenas uma aventura e sim, após sentirmos na pele estas pequenas privações, levar-nos a refletir que há irmãos e irmãs nossos que não podem optar nem como nem onde dormem e passam dias sem tomar um banho digno ou fazer qualquer tipo de higiene. 

Foram dias de paz. Eram milhões de pessoas e em nenhum momento foi presenciado uma só agressão física ou verbal. Nenhum tumulto, mesmo quando o transporte público testava a virtude da paciência. Nenhum ato de vandalismo – destruição de lixeiras, de telefones públicos, carros amassados ou com a lataria riscada, etc – que os moradores de Copacabana dizem ser comum em eventos ocorridos no bairro. Havia respeito mútuo (um morador de Copacabana observou, do alto de seu apartamento, que não presenciou ninguém furando fila nos banheiros químicos ou nos restaurantes). Até mesmo a quantidade de lixo recolhido nas ruas foi menor do que em outros eventos. Interessante notar que os números da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro demonstram que o crime mais registrado foi o de furto, ainda assim menor que em outros eventos, mas nada de agressões, nada de bebedeiras, nada de drogas. Nenhum peregrino ferido. A violência ficou a cargo daqueles e daquelas manifestantes que consideram a religião um mal a ser extirpado. Nada disso deve soar estranho ou um fato em que devamos nos vangloriar. Foram pequenos testemunhos dados por nós, católicos, como servos inúteis que somos. Não fizemos nada além do que deveríamos ter feito. Porém, que toda esta experiência de convivência fraterna nos sirva de aprendizado. Uma jornalista, de uma mídia laica, citando alguns destes dados e presenciando a convivência pacífica de tantas pessoas, arrematou: “Não podia ser sempre assim?”

Foram dias maravilhosos e inesquecíveis. Dias de encontro com Deus em todas as ocasiões (porque Deus se revela a todo o momento. Basta estarmos atentos). Para mim, foi uma verdadeira peregrinação, um retiro espiritual. Pela manhã, a catequese, seguida pela Santa Missa celebrada pelo bispo catequista; depois, as visitas às igrejas; o sacramento da penitência recebido na Quinta da Boa Vista; os momentos de adoração ao Santíssimo; o lucro das indulgências. Uma semana retirado do mundo (apesar de, paradoxalmente, ter andado tanto pelas ruas movimentadas do Rio de Janeiro e em meio de milhares de pessoas), sem TV, sem internet, sem jornais, sem as distrações do mundo, despreocupado com as necessidades materiais, quase alienado, eu diria. Senhor, é bom estarmos aqui... 

Aqui retomo o relato da transfiguração. Os evangelhos nos contam que Jesus levou três de seus apóstolos – Pedro, Tiago e João – para o alto do monte Tabor e lá, diante deles, se transfigurou, revelando-lhes toda a sua glória. Pedro, tomando a palavra, afirmou que era bom estarem ali e queria preparar tendas para lá permanecerem. Após ouvirem a voz do Pai que declarava que Jesus era seu Filho eleito e ordenava que lhe escutassem, tudo voltou à normalidade. Enquanto tudo isso acontecia no alto do monte, na planície os outros apóstolos tentavam, em vão, libertar um menino de possessão demoníaca. Quando Jesus e os três apóstolos retornaram, o pai do menino explicou-lhes o que estava acontecendo. Após repreender a falta de fé de seus discípulos, Jesus expulsou o demônio. Poucas vezes se faz a ligação entre a transfiguração e a luta contra o demônio ocorridas ao mesmo tempo. Recordo-me que há uma obra de Rafael Sanzio que faz a conexão entre as sequências do evangelho que comumente aparecem separadas na liturgia. No quadro aparece Jesus transfigurado no monte enquanto lá embaixo os apóstolos tentam libertar o menino possesso. 

Pois é, a JMJ terminou e foi preciso voltar para a “planície”. Mas voltamos com a fé renovada como daqueles apóstolos que testemunharam antecipadamente a glória do Senhor. Se no Tabor os apóstolos tiveram um prelúdio da ressurreição, hoje sabemos que Ele está vivo e estará conosco até o fim dos tempos. Fortalecidos e confirmados na fé pelo Sucessor de Pedro, amparados por nossos irmãos e irmãs, tanto da Igreja militante, quanto – e, sobretudo – da Igreja triunfante e sob a proteção da Virgem Santíssima enfrentemos com toda a coragem a “planície”, onde ocorrem as batalhas cotidianas contra as forças do Mal, com a certeza que elas não podem nos submergir, pois Cristo está conosco, fazemos parte de Sua Igreja e o poder do mal não pode prevalecer sobre ela. Ouvimos a ordem do Senhor: “Ide e fazei discípulos meus entre todas as nações”. Não podemos ficar parados, olhando para cima, como os apóstolos na ocasião da Ascensão do Senhor. Temos que obedecer. Temos que ir, anunciando a todos a Boa Nova de Jesus Cristo, alargando as fronteiras do Reino de Deus que aonde chega expulsa todo mal. 




16 de ago. de 2013

Os adeptos da TL no Brasil se arvoram em porta-vozes do Papa Francisco

É irritante a instrumentalização que se tenta fazer das palavras do Papa Francisco. E nem me refiro à mídia laica, mas a certos "católicos" que estavam nas sombras e viraram porta-vozes do Papa no Brasil e vivem falando besteira nos meios de comunicação. Entre eles, os marxistas Frei Betto e Leonardo Boff (este último oficialmente condenado por heresia pela Igreja). Leonardo Boff andava sumido. Agora quer falar em nome do Papa e traduzir seu pensamento, ou melhor, quer que todos pensem que o Papa concorda com a Teologia da Libertação, uma forma de interpretação da Revelação divina usando os métodos marxistas. Os adeptos da Teologia da Libertação, que estão em extinção, odeiam os Papas João Paulo II e Bento XVI (principalmente Boff, que foi proibido de ensinar em nome da Igreja) e querem a todo custo opor o antecessor de Francisco a este. Espero que leiam as palavras do Papa Francisco dirigidas ao CELAM: 

"A opção pela missionariedade do discípulo sofrerá tentações. É importante saber compreender A ESTRATÉGIA DO ESPÍRITO MAU, para nos ajudar no discernimento. Não se trata de sair para expulsar demônios, mas simplesmente de lucidez e prudência evangélicas. Limito-me a mencionar algumas atitudes que configuram uma Igreja “tentada”. Trata-se de conhecer determinadas propostas atuais que podem mimetizar-se em a dinâmica do discipulado missionário e deter, ATÉ FAZÊ-LO FRACASSAR, o processo de Conversão Pastoral.

A ideologização da mensagem evangélica. É uma tentação que se verificou na Igreja desde o início: procurar uma hermenêutica de interpretação evangélica FORA da própria mensagem do Evangelho e FORA DA IGREJA. [...] Existem outras maneiras de ideologização da mensagem e, atualmente, aparecem na América Latina e no Caribe propostas desta índole. Menciono apenas algumas:

a) O reducionismo socializante. É a ideologização mais fácil de descobrir. Em alguns momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais variados, desde o liberalismo de mercado até às categorizações marxistas." (os destaques são meus)

O discurso todo é excelente e vale a pena conferir as outras "tentações" pela qual a Igreja passa: