2 de mar. de 2012

Perseguição aos católicos na Europa


Conclusão

Concluímos, portanto, que o século XX foi o palco da destruição e expropriações de bens da Igreja Católica, da intolerância, tortura e do massacre de milhares, senão milhões, de católicos pelo simples e único fato de serem católicos, caracterizando, assim, um verdadeiro genocídio. As ideologias que sustentaram governos, partidos e instituições, tendo como herança e ponto de partida a Revolução Francesa, pretenderam eliminar a Igreja Católica do solo europeu. Maçons, liberais, positivistas, marxistas e nazistas consideravam a Igreja o grande obstáculo para o progresso dos diversos povos da Europa e, consequentemente, do progresso humano. O número de vítimas, os roubos e as destruições de igrejas e monumentos católicos na URSS e demais países comunistas, na Espanha e na Alemanha com todos os seus domínios demonstra que não houve um simples confronto de ideias contra oposicionistas ou limitações de pretensas regalias. O que houve foi uma tentativa de exterminar sistematicamente qualquer sinal da Igreja Católica em seus territórios, nem que para isso fossem assassinados milhares de seres humanos inocentes. Declarada culpada pelas atrocidades ocorridas na História ocidental, opressora e retrógrada, a Igreja Católica foi condenada à extinção e considerada um inimigo a ser abatido por todos os meios. Dessa forma, bispos, padres, freiras, religiosos e leigos foram caçados, presos, torturados e assassinados. Em pleno século XX, dois papas foram vitimas da intolerância: Pio XII livrou-se de um plano de sequestro dos nazistas e João Paulo II sobreviveu a um atentado a tiros (ROYAL, 2001, p. 16).

A impossibilidade de se chegar próximo a uma cifra das vítimas dos diferentes regimes que perseguiram os fiéis da Igreja Católica acaba por não transparecer a tragédia e a violência deste genocídio. Os números disponíveis se referem aos membros da hierarquia. Sendo alvos preferenciais, pois a destruição da hierarquia é a destruição da Igreja, se tornaram mais fáceis de ser rastreados. A perseguição aos católicos ocorrida na Europa na primeira metade do século XX, principalmente nas décadas de 1920 a 1940, não causa o mesmo interesse aos estudiosos como as práticas genocidas contra outros grupos étnicos ou religiosos, como o que sofreram os judeus, para citar como exemplo o genocídio mais emblemático. Royal (2001, p. 16) afirma que o genocídio dos católicos é relativamente pouco documentado e que a maioria dos relatos sobre os fatos foi produzida sob uma perspectiva puramente política. Para citar um exemplo, a obra O Livro Negro do Comunismo mal menciona a perseguição aos católicos. A literatura sobre o assunto é, sobretudo, produzida por autores que mantém relações com a Igreja e que não pretendem que tais massacres caiam no esquecimento e que estes não voltem a acontecer.

Mattera, apud. Socci (2003, p. 25) diz que, devido as perseguições, os católicos “contam suas vítimas aos milhares, seus fiéis sofrem torturas e humilhações de todo o tipo. Mas a opinião pública ocidental, precisamente a ‘cultura cristã’, não concede nenhuma atenção a esse drama, exceto em ambientes restritos”. O pouco interesse dos historiadores, organizações internacionais e demais agentes da mídia no assassinato de milhares de católicos ocorrido neste período que o artigo abrange e de todo o século XX se deve ao fato de a grande maioria compartilhar as ideologias que promoveram esse massacre. Exceto o nazismo que hoje é considerado crime na maioria dos países, todas as outras ideologias que serviram de motivação aos governos perseguidores têm seus adeptos nestes ambientes. Quando retratam os massacres, dificilmente a fazem com neutralidade e acabam apresentando os fatos do mesmo ponto de vista dos perseguidores: os católicos durante séculos perseguiram e mataram movidos pela intolerância, mas os jacobinos, bolcheviques e demais revolucionários mataram e destruíram em prol da justiça, retirando o obstáculo, a pedra do meio do caminho para o progresso e bem de todos (ORTÍ, 1990, pp. 393-394).

O que é visto, em regra geral, na historiografia e nos veículos da mídia são as repetições das mesmas acusações feitas à Igreja desde o Iluminismo. A força dos argumentos é tamanha que muitos membros da Igreja Católica, incluindo bispos e padres, em vez de conduzir um contra-argumento sério aos que acusam a Igreja, acabam aderindo às críticas e, muitas vezes, realizando uma autocrítica tão ou mais ferrenha, no que Messori chama de masoquismo dos católicos (MESSORI, 2004, p. 11). A divulgação do genocídio sofrido pelos católicos pode causar a comoção da opinião pública e esta passar a vê-los como vítimas, contrariando interesses político-ideológicos que tradicionalmente os apresentam como vilões.

De certa forma, a maneira como a Igreja Católica enxerga os mártires, ou seja, aqueles que são mortos in odium fidei ou in odium eclessae, pode colaborar para amenizar os relatos trágicos da perseguição. Para a Igreja, o martírio é a glória suprema, o sublime testemunho que um católico pode dar de sua fé e a imitação perfeita de seu fundador, Jesus Cristo. Enquanto os massacres vividos pelos judeus são denominados de Shoah, ou seja, destruição, desgraça, para a Igreja, a perseguição e o martírio, representam um momento de purificação, de prova de amor a Deus e aos irmãos e a cooperação com a redenção de Cristo (Lumen Gentium, 42).

Os regimes totalitários do século XX viram na Igreja Católica uma inimiga lógica e resolveram eliminá-la. Certamente, foi durante estes regimes que os católicos mais sofreram. Porém, a perseguição aos católicos continuou durante todo o século XX, em diversos países e das mais variadas formas. No entanto, não foram aprovadas leis que amparassem ou protegessem especificamente os católicos, proibindo ou criminalizando qualquer ideologia, publicação ou manifestação anticatólicas. Não há museus que preservam a memória das vítimas deste genocídio, a não ser igrejas dedicadas àquelas vítimas que foram oficialmente declarados mártires pela Igreja Católica. Entramos no século XXI sem nenhuma perspectiva no aumento da tolerância para com a Igreja Católica. Grande parte da perseguição ocorre, hoje, nos países de maioria muçulmana, mas os casos de intolerância, discriminação e violência voltam a crescer na Europa, através de sutis publicações, atos isolados de vandalismo e leis laicistas que limitam a liberdade e a consciência dos católicos. Ao conhecer o massacre pelo qual passaram os católicos europeus no século XX, estes fatos não deixam de ser preocupantes.



Referências Bibliográficas:

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