Estado laico. Eis uma expressão que anda na moda nestes dias onde o Direito natural é pervertido com "casamentos" gays e sem que isto nada tenha a ver com a laicidade do Estado. O casamento "tradicional" não foi instituído por nenhuma religião. Parece desnecessário falar isso diante das evidências, já que a diferença e complementaridade é que formam um casal.
Antes que o casamento fosse elevado a sacramento por Jesus, ele já existia nas mais diversas culturas e existe em lugares onde não conhecem Jesus Cristo e Sua Igreja. Mesmo em culturas onde o homossexualismo era mais tolerado, como na Grécia (esqueçam o mito do "liberou geral". O homossexualismo não era tão bem aceito na Grécia como se propaga e, apesar de tolerado, era mal visto pelos romanos), jamais houve qualquer institucionalização da prática. Apesar de também antinaturais e, portanto, inadmissíveis, seria mais justificável, social e historicamente, defender casamentos poligâmicos ou poliândricos do que homossexuais.
Mas levar o debate sobre "casamento" gay para um campo que não é o dele é uma tática antiga e perigosa. É a estratégia usada em defesa do aborto, da eutanásia e de pesquisas científicas eticamente contestáveis. Hitler afirmava que "piedade é coisa de padre". Esqueça o Direito natural que sobrepuja as religiões. Evoque o Estado laico afirmando que a definição de casamento entre homem e mulher pertence à religião e que o Estado não se deve pautar por dogmas religiosos. Neste momento, o debate é inviabilizado e ganha até ares de ilegalidade, pois atenta contra um dos pilares do Estado. Jogo perigoso.
De fato, e todos concordamos, o Estado laico não se deve pautar por dogmas religiosos (nem ideológicos, diga-se) e nem impô-los a seus cidadãos. Mas o perigo começa quando o conceito de dogma se torna subjetivo. Seria óbvio constatá-lo se o Estado nos obrigasse a crer na Presença real de Jesus Cristo na Eucaristia ou fôssemos punidos por não crer em reencarnação ou na metempsicose. Mas quando um conceito moral torna-se um dogma? Como hoje surge quem defenda que o casamento tradicional é um dogma, amanhã pode surgir alguém dizendo que o "Não matarás" ou o "Não roubarás" são o quinto e o sétimo mandamentos da lei de Deus e que, por isso, o crime de homicídio e roubo devem ser banidos das leis porque são contrárias á laicidade do Estado. Parece um absurdo, porém segue a lógica. Matar e roubar são males evidentes, porque são englobados no Direito natural, aquela lei moral gravada nos corações dos seres humanos, aos quais não é preciso ensinar que é errado tomar o que não lhe pertence ou tirar a vida de alguém e que faz reagir tão naturalmente às novidades em matéria de casamento.
Portanto, querer empurrar goela abaixo uma novidade sem precedentes na História, com grande impacto moral e social, cujas consequências desconhecemos e só podemos prever, transformando a causa do "casamento" gay em simplória guerra religiosa coloca em risco outras liberdades em defesa de uma só. No Brasil, o sagrado direito de objeção de consciência - este também, um direito natural e previsto na nossa Constituição - já está sendo lesado a partir do momento que a justiça pretende obrigar os cartórios (que não existem como "pessoa" ou entidades sobrenaturais, mas são compostos por pessoas), a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Com ares de democracia, quem toma certas decisões e o modo como estas ideologias são conduzidas servem à causas totalitárias. Fiquemos de olho.