1 de mar. de 2013

O Papa humilde: a renúncia de Bento XVI



“O Papa renunciou”. Foram com estas palavras que minha mãe me acordou no dia de Nossa Senhora de Lourdes deste ano. Fiquei desconcertado e em primeiro momento, sem saber exatamente os motivos, decepcionado. Recordei imediatamente de São Celestino V que renunciou no ano de 1294. Naquele momento, veio ao peito um sentimento de orfandade, como quando o Papa João Paulo II faleceu. Dificilmente um não-católico ou um católico não-católico entende o que se sente pelo Papa. Não é possível explicar. Coisas de amor não se explicam. O Papa é nosso pai, o “doce Cristo na terra”, como dizia Santa Catarina de Sena, em um momento da história da Igreja que tal expressão, diante da realidade, era um ato de fé inabalável. 

Sempre me dei bem com o Papa Bento XVI. Certa vez, enquanto via pela TV a peregrinação realizada pelo Beato João Paulo II à Terra Santa durante o Jubileu, quando o então cardeal Ratzinger, estava pronunciando um pequeno discurso, eu disse: “Este será o próximo Papa”. Eu mal conhecia o cardeal, aliás, não conhecia tanto a Igreja, pois foi este o ano de minha “convicção”. Porém, a escolha do Espírito Santo parecia evidente como foi demonstrado pela rapidez do Conclave que o elegeu. 

“Os senhores cardeais me escolheram. Consola-me saber que Deus sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes”. Estas foram as primeiras palavras do novo Papa no balcão da Basílica Vaticana. Instrumento insuficiente era como se auto-apresentava o maior teólogo do século XX. Ele sabe que tudo é dom de Deus e atribui a Ele tudo o que possui. O humilde Papa foi maltratado pela imprensa e pelos liberais de plantão. Era o inquisidor-mor que chegava a Papa. Conservador, obscurantista, reacionário. Contra a irracionalidade dos ativistas de todos os matizes, respondia com a Razão, esta ao contrário da outra, aliada da fé. Contra a imprensa que tentou de todos os modos atiçar os extremistas muçulmanos contra ele, Bento XVI marca a história ao ser o primeiro Papa a se encontrar com o rei da Arábia Saudita, o protetor da religião de Maomé. Contra a mentira, o Papa, sereno como sempre, responde com a verdade. Todos que o encontram, destacam sua humildade e bondade. Enfrenta com coragem os escândalos, sem subterfúgios, sem meias-palavras. É um reformador, no melhor sentido da palavra. 

Tive a graça de estar com o Papa Bento XVI em duas ocasiões. Por conta da vinda ao Brasil, na Santa Missa de canonização do Frei Galvão e na Praça de São Pedro, numa Audiência Geral. Minha admiração a Bento XVI é enorme. Apesar de o pontificado ter sido relativamente curto, seu magistério é tão rico que influenciará a Igreja por anos. Ninguém como ele consegue diagnosticar com tanta clareza os males do mundo e apresentar o remédio: Jesus Cristo. 

Mas, devido à idade avançada, suas forças lhe faltaram. Mais uma vez colocou sua vocação diante de Deus. Homens do quilate de Bento XVI estão mergulhados em Deus. Nada fazem sem Ele. Mais do que um intelectual, o Papa é um místico. E tomou a difícil e corajosa decisão de deixar o ministério petrino para assumir outra vocação: rezar pela Igreja, sacrificar-se pela Esposa de Cristo, no silêncio, no escondido. Eloquente testemunho diante de um mundo onde se dá valor ao ativismo, ao espetáculo, à fama, aos aplausos. Diante de um mundo onde vemos tantos ditadores, tantos poderosos apegados ao cargo ao ponto de continuarem nele mais mortos do que vivos, diante de governantes que se acham insubstituíveis, vemos o homem cuja autoridade está acima de qualquer outro poder não se apegar ao cargo, pois sabe que não pertence a ele, mas a Cristo. Sabe que não é maior do que Cristo, nem está acima da Igreja. Sabe que não é insubstituível, pois o que ensina não é doutrina sua e tem plena certeza de que a Igreja está firmada sobre bases eternas. Por fim, amou a Cristo e a Igreja até o fim. 

Nos próximos dias, o Espírito Santo e os cardeais escolherão o novo Papa. E, ao ser apresentado, a partir do balcão da Basílica de São Pedro, à praça lotada, acontecerá algo que, repito, nenhum não-católico ou católico não-católico poderá entender. Creio que, além do carisma da infalibilidade, acompanha ao Papa um outro carisma: o de despertar o amor às ovelhas que lhe foram confiadas. Imediatamente passaremos a amá-lo como o “doce Cristo na terra”. 




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