Trotula de Salerno (também
conhecida como Trotula de Ruggiero) foi uma médica do século XI que trabalhou
na Schola Medica Salernitana, a Escola de Salerno, e é considerada a primeira
ginecologista do mundo. É desconhecido a data e o local de seu nascimento
(provavelmente, nasceu em Salerno). Era da família dos Ruggiero e casou-se,
segundo alguns historiadores, com um dos fundadores da Escola de Salerno,
chamado Giovanni Plateario, tendo dois filhos, Giovanni e Matteo, que seguiram
a carreira médica dos pais. Foi autora do mais célebre tratado de Obstetrícia e
Ginecologia da Idade Média:
De Pasionibus mulierum curandorum ante, in,
post partum. Dividido em sessenta capítulos, Trotula disserta sobre as
diversas técnicas cirúrgicas, preconiza realizar uma eficaz proteção perineal,
aconselhando praticar as oportunas suturas no caso de produzir-se lacerações do
períneo no transcurso do parto. Não esquece ainda aos lactantes dando normas a
respeito do cuidado com o bebê em seus primeiros meses de vida. Outras das obras
de Trotula são:
Pratica secundum Trocta e
De Aegritudium
curatione ou
De Ornatu mulierum. Neste último
título, Trotula recomenda às mulheres de sua época cuidar da higiene
diária, praticar regularmente exercícios físicos, massagens com óleo e uma
dieta equilibrada e saudável. E completa estas recomendações com simples e
curiosas receitas de cosméticos femininos:
Um creme para eliminar as rugas,
a fórmula de um batom em que utiliza mel, suco de beterraba,
abóbora e água de rosas. Para conservar a dentição saudável e branca recomenda
limpá- los com uma infusão quente de casca de noz. Seus trabalhos serviu como
base do tratamento da saúde da mulher por 400 anos, sendo conhecido por toda a
Europa.
A Escola de Salerno foi a única durante os séculos X a XIII aberta às mulheres,
como estudantes e professoras. Como resultado da variada influência cultural na
cidade, os médicos de Salerno, tanto mulheres como homens, foram os melhores no
Mediterrâneo ocidental. Muitos documentos revelam que a independência das
mulheres da escola de Salerno foram parte vital do avanço científico do
período. Durante a alta Idade Média, a medicina, entre as mulheres, era
praticada exclusivamente pelas monjas, que, deste modo, evitava a entrada de
homens no claustro. Porém, a prática da obstetrícia e os cuidados aos bebês em
seus primeiros meses era confiadas às mulheres leigas.
Naqueles casos em que a mulher
exerce a medicina, o realiza pela circunstância de ser esposa ou filha de
médicos sendo que aprende-se a medicina com eles. A Escola de Salerno será a
primeira que vai oferecer às mulheres com vocação à medicina o livre acesso a
formação médica e sua titularização, sem limitar seu campo de acão às
enfermidades da mulher e o cuidado dos lactantes, mas ampliá-la ao exercício da
medicina geral. Com esta abertura, logo surgirão em Salerno cinco mulheres
destacadas na arte da cura: Trotula, Salernitana, Constança e Calenda, a judia
Rebeca Guarna e Abella, uma muçulmana. Salvo no caso de Trotula, poucas
informações nos chegaram do resto destas mulheres pioneiras. De Rebeca
Guarda sabemos que escreveu um tratado sobre a urina e a febre e
de Abella, a muçulmana, unicamente o título de seu livro De
artrabile et de natura seminis humani.
De todas as médicas de Salerno, Trotula é a mais bem conhecida. A despeito de
sua fama, os detalhes de sua vida – idade ou ano em que nasceu, quando
ingressou na escola ou completou seus
estudos – são escassos, mas sabemos que ela foi a autora de importantes
trabalhos médicos. Seu principal interesse e área de estudo foi a saúde da
mulher. Muitas mulheres não eram tratadas porque se envergonhavam ou
consideravam impróprio serem examinadas por médicos homens, especialmente em
casos ginecológicos.
Diferentemente da maioria de
outros trabalhos do período, Trotula nunca prescreveu encantamentos ou a
astrologia como tratamento para as doenças. Em vez disso, dava conselhos
práticos - de fato, muitos de seus tratamentos preconizados ainda estão em uso
hoje! No De Pasionibus mulierum, ela mostra teoricamente as causas bem
como os tratamentos para várias questões da saúde da mulher, incluindo
infertilidade e problemas com a menstruação e com o parto.
Em seu livro, a menstruação é
vista como saudável e importante, e escreve sobre diferentes modos para regular
o seu ciclo. Em seu De Ornatu mulierum, aborda não só receitas de maquiagens
e dicas de aplicação, mas aconselha sobre o cuidado com a pele, com a saúde dos
dentes e a higiene, tratamento da acne e contra a queda de cabelo.
Afirmou que tanto os homens quanto as mulheres podem ser responsáveis pela
infertilidade – uma radical posição para a época – e também defendeu que as
mulheres tinham o direito de não sofrer durante o parto. Para este fim, ela
experimentou opiácios e soporíferos, além de um incontável número de ervas.
Aconselhou uma recuperação longa e tranquila para obter êxito na cura das
doenças e após o parto e teve sucesso em processos de cesariana. Em geral, desenvolveu a medicina
preventiva como chave para promover a boa saúde para as mulheres.
Como professora da Escola de
Salerno, Trotula ensinou seus alunos a manter uma interação lenta com seus pacientes.
Ela acreditava que era preciso fazer muitas perguntas, não somente sobre os
sintomas que os pacientes estavam sentindo, mas também sobre o seu estilo de
vida e problemas em geral. Assim, afirmava, o médico estaria mais atento sobre
o paciente, tendo uma melhor compreensão do seu estado físico e podendo tratar
o problema com mais rapidez e eficácia.
Pelas informações escassas sobre
sua biografia, assim como ocorre com sua data de nascimento, é desconhecida a
data de sua morte.