A Igreja é como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todas as qualidades. No julgamento, os bons serão guardados e os maus, lançados fora. A Igreja é como a festa de núpcias onde todos são convidados, mas aquele que não traz o traje nupcial será posto para fora pelo Senhor. A tentação de formar uma Igreja de puros sempre existiu, desde os priscilianos e os donatistas passando pelos cátaros e jansenistas, e toda tentativa neste sentido, como se pode observar, terminou numa heresia.
Nossa mãe, a Igreja, é santa, mas traz em seu seio, enquanto milita na terra, nós, seus filhos, sempre necessitados de conversão e de purificação porque somos pecadores. Ela nos oferece nos sacramentos os meios dispensados por Cristo para nossa santificação. Só os "puros" podem escandalizar -se com a presença de pecadores na Igreja. Os discípulos dAquele que comia e bebia com os pecadores não deveriam se assustar. É junto à Igreja, o Cristo estendido na História, que nós, pecadores, encontramos e seguimos o caminho da salvação, segurando firme naquela mão misericordiosa que Deus nos oferece, que é o próprio Senhor Jesus. Quanto mais avançamos no caminho da perfeição, quanto mais nos aproximamos da luz de Cristo, melhor vemos nossos defeitos, melhor vislumbramos as manchas do pecado nos recônditos da alma, mais nos sentimos indignos e necessitados da graça e mais podemos nos compadecer daqueles irmãos mais afastados de Deus. É reconhecendo as nossas misérias que podemos usar a misericórdia para medir o próximo, tão necessitado de Deus salvador quanto nós. Do contrário, acabamos tomando a atitude do fariseu diante do publicano ou a do filho mais velho, irmão do pródigo.
A Igreja, sempre santa e imaculada, não teme tocar os impuros, como Nosso Senhor não temeu tocar o leproso. Este toque purifica. Este toque consiste no apelo à conversão, no anúncio do Evangelho, no despertar das consciências relativistas amortecidas pela amoralidade, no iluminar a vida para que, tocados pela graça, reconheçamos nossos pecados e os deixemos na pia batismal ou no confessionário. A misericórdia e o amor não permitem falsear ou mitigar o mal. Se Jesus, o médico dos médicos, veio para os doentes e não para os sãos, é preciso mostrar, como Ele mostrou sempre com caridade, a gravidade da doença e os tratamentos adequados, ainda que sejam extremamente dolorosos. Não é verdadeiramente misericordioso quem ataca os sintomas usando um bálsamo para aliviar a dor - para usar uma expressão de Santa Catarina de Sena - e não vai a fundo no mal para extirpá-lo. Quem age assim não leva a salvação, ao contrário, condena o pecador faltando-lhe com a verdade.
Portanto, a missão da Igreja é sair ao encontro de todos e receber de portas abertas a todos, anunciando a Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, sem isolar-se deste mundo corrompido, mas sendo fermento na massa, luz do mundo e sal da terra.