Hoje, dia 31 de maio, comemora-se a festa da visitação de Nossa Senhora. A Virgem Santíssima, ao ser informada pelo arcanjo Gabriel que Isabel estava grávida, partiu para a Judeia pra ajudá-la. A leitura do evangelho da Missa de hoje (Lc. 1, 39-56), que conta este encontro, traz elementos importantes, como a analogia entre Maria e a Arca da Aliança, mas por ora quero me deter na base bíblica do dogma da maternidade divina de Maria.
De todos os dogmas relacionados à Nossa Senhora, talvez nenhum outro seja tão explícito na Bíblia quanto ao da maternidade divina. Maria, chegando na casa de Zacarias, ao cumprimentar Isabel, esta ficou cheia do Espírito Santo e exclamou: "Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?" (Lc. 1, 42-43).
Detenhamo-nos na expressão: a mãe do meu Senhor. Meu Senhor era uma das formas que os judeus chamavam a Deus, posto que a Lei proibia que se pronunciasse o nome de Deus, Yahweh. Então, por todo o Antigo Testamento, o nome de Deus era substituído pela palavra hebraica Adonai, que significa Meu Senhor. Quando a Bíblia hebraica (Antigo Testamento) foi traduzida para o grego (na chamada Septuaginta), o nome de Deus foi traduzido como κύριος (Senhor, pronuncia-se kyrios).
Pois bem, Lucas escreveu o evangelho em grego e conta que, Isabel, cheia do Espirito Santo e, portanto, inspirada por Ele, chama à Virgem Maria de "a mãe do meu Senhor" (no evangelho em grego: μήτηρ τοῦ κυρίου μου), ou seja, a mãe de Deus, já que, para a mãe de João Batista, judia, chamar o filho que Maria traz no ventre de "meu Senhor" equivale a chamá-lo "Adonai" e que Lucas traduz para o grego como kyrios, termos usados para designar, na Bíblia hebraica e grega, respectivamente, o nome de Deus. Portanto, a maternidade divina de Maria é claramente encontrada na Bíblia, que não pode, de forma alguma, ser negligenciada. Talvez, por isso, os primeiros reformadores protestantes defenderam que Maria era e deveria ser considerada a Mãe de Deus.