29 de set. de 2013

A relação da mídia com o Papa Francisco: uma interpretação errônea

Conhecendo um pouquinho de História da Igreja, vejo a relação da mídia e de alguns grupos católicos com o Papa Francisco semelhante a que tiveram com Pio IX e Leão XIII. 

Com sua eleição, Pio IX foi louvado pelos liberais como um dos seus. A mídia e os oradores liberais louvavam o Papa que tinha dado abrigo ao revolucionário Luis Napoleão quando bispo e que modernizava os Estados Pontifícios com a iluminação a gás e ferrovias. Em poucos anos (só dois, para ser exato) viram que estavam enganados, Pio IX era extremamente ortodoxo (basta lembrar da Quanta Cura e do Syllabus lançados mais tarde) e os gritos de "hosana" passaram a ser de "crucifica-o". 

Com Leão XIII ocorreu a mesma coisa. Sua encíclica Rerum Novarum que sistematizou a Doutrina Social da Igreja foi acusada por uns de ser socialista e por outros de ser liberal. Seu reconhecimento dos regimes republicanos e democráticos, vistos até então como inconciliáveis com a fé católica, e, por este motivo, sua reaproximação com a França republicana fez com que piedosas senhoras de Paris organizassem novenas pedindo para, digamos, que Deus chamasse para junto de si o Santo Padre.



28 de set. de 2013

A democracia na Idade Média

A grande maioria das pessoas tem em mente que o período medieval foi uma época de autoritarismo. Nada mais enganoso, pelo menos quando se trata da Baixa Idade Média (séculos X a XV). Com a palavra, um dos maiores medievalistas de nosso tempo, Jacques Le Goff: 

"A base das decisões da comunidade é teoricamente tão ampla quanto possível em virtude dos dois princípios segundo os quais Quod omnes tangit ab omnibus tractari et approbari debet ("o que toca a todos deve ser tratado e aprovado por todos") e as decisões lícitas devem ser tomadas pela maior et sanior pars, isto é, pela maior parte e a mais sã da comunidade." (O Apogeu da Cidade Medieval, p. 84)

As decisões jamais são monocráticas, sejam elas municipais ou mesmo reais. As assembleias, tanto rurais como urbanas, tomam decisões e resolvem suas questões através do voto. Todos votam, inclusive as mulheres. O sistema de votação varia de região para região. Em algumas, os votos são por indivíduos; em outras, um voto por família. As cidades que conquistam sua franquia têm câmaras municipais, cujos representantes do povo são eleitos dentre os "homens bons". Não há uma única forma no governo das cidades. Algumas são governadas pela própria assembleia municipal, outras por representantes eleitos (cônsules, escabinos, prefeitos ou conselheiros), cujo número varia de cidade para cidade. Nas cidades que não são totalmente francas, as assembleias contrabalançam o poder de seus senhores, mesmo que este seja o rei. Há exemplos de ações judiciais movidas pelas cidades que foram apresentadas no Parlamento de Paris contra o rei e que tiveram suas causas ganhas. 

O poder do rei é limitado pelos costumes e pela moral religiosa. Se o rei abusar de suas atribuições, corre o risco de ser excomungado e perder legitimidade perante os súditos e seus vassalos. O sistema feudal também impede a autocracia do monarca. O rei jamais toma uma decisão solitariamente. Na Inglaterra, o poder do Parlamento fazia contraponto ao do rei desde o século XIII. No restante dos países, um conselho consultivo sempre o assiste (pensemos na Távola Redonda do legendário rei Artur). Aliás, nem sempre com vantagem. As infindáveis discussões dos conselheiros no Reino Latino de Jerusalém atrasavam decisões e prejudicaram a causa dos cruzados na Terra Santa. Além disso, de tempos em tempos, os reis convocam uma assembleia com representantes dos três estados tradicionais no Medievo (povo, nobreza e clero) para deliberar sobre assuntos de maior importância para o reino. 

Por fim, há quem objete que as cidades medievais tinham uma democracia capenga, dominada pelo poder econômico dos burgueses. É verdade, mas bem sabemos que este não é um problema restrito ao período medieval. De toda forma, o absolutismo dos reis nos séculos seguintes e os totalitarismos surgidos no século XX seriam inimagináveis na Idade Média.


15 de set. de 2013

A Igreja Católica e a dignidade das crianças: a pedofilia avança quando a sociedade se afasta do cristianismo

O tema da pedofilia voltou à cena, nos últimos dias, em dois fatos que correram o planeta: a morte de uma menina de oito anos no Iêmen, vítima de uma hemorragia provocada durante o sexo com seu marido de quarenta anos e a declaração do biólogo e ateu militante Richard Dawkins, afirmando que uma “leve pedofilia” não faz mal a ninguém.

No primeiro caso, Rawan foi vendida pelos seus pais ao marido e morreu de hemorragia durante a “noite da penetração”. Segundo a agência Zenit, “um relatório da Human Rights Watch de dezembro de 2011 diz que na terra da rainha de Sabá, 14% das meninas são dadas em casamento antes dos 15 anos, enquanto que o 52% antes dos 18”. Ainda que os costumes variem de região para região, o casamento de crianças com homens mais velhos é algo bastante comum no mundo islâmico e a legislação de vários países, como a do Iêmen, protege tais costumes. Estes costumes estão arraigados no islamismo, ou antes, na cultura árabe pré-islâmica. O fundador do Islã, Maomé, casou-se com Aisha quando esta tinha seis anos de idade e o casamento foi consumado aos nove. Portanto, se era um costume pré-islâmico, a religião maometana nada fez para eliminá-lo. Na trilogia escrita por Jean P. Sasson, que tomou o depoimento anônimo de uma princesa da família Al-Saud que governa a Arábia Saudita, é relatado como muitos árabes ricos compram meninas de famílias pobres para transar com elas e descartá-las depois.  

Mas não é só no mundo islâmico que o casamento de crianças é comum. Na Índia, apesar de proibido pela constituição do país, a prática tradicional continua bastante frequente. Famílias obrigam meninas que ainda não atingiram a puberdade a se casarem com homens muito mais velhos. Em muitas regiões da África subsaariana, a situação também pouco mudou. Crianças meninas são entregues a homens adultos. 

No segundo caso, o renomado ateu militante Richard Dawkins declarou em entrevista para à revista Times, ao contar um caso ocorrido em sua infância, quando um professor colocou-o no colo e enfiou a mão por dentro de seu short: “Estou muito consciente de que não se pode condenar as pessoas de uma época passada pelos padrões da nossa. Assim como nós não podemos olhar para os séculos 18 e 19 e condenar as pessoas por racismo, da mesma forma como condenar uma pessoa por racismo nos dias de hoje. Eu olho para as décadas da minha infância e vejo o que aconteceu como leve pedofilia, e não posso condená-lo pelos mesmos padrões que eu, ou qualquer um, teria hoje". Este é o terrível efeito do relativismo moral levado ao extremo pelo ateísmo militante para poder se opor à moralidade de cunho religioso, sobretudo cristã. A ideia de que a moral muda conforme as culturas e a época leva a aceitação de atos abjetos como a pedofilia ou qualquer tipo de parafilia e práticas sexuais. 

Neste ano, a Justiça da Holanda reconheceu o Partido da Caridade, da Liberdade e da Diversidade, que defende publicamente a pedofilia, alegando que, desde que consensual, não há problema algum na prática sexual de “menores” com adultos. A sociedade atual tende à aceitação da pedofilia. O pedófilo é um revolucionário desde o Marquês de Sade. Durante todo o século passado, com o advento da psicanálise freudiana e a revolução sexual, há defensores do direito do prazer sexual das crianças. Lembremos que o pai da sexologia, o norte-americano Alfred Kinsey, realizou inúmeras “experiências” das mais variadas práticas sexuais, inclusive com crianças, apesar de ele alegar que não as praticou, mas colheu informações durante o depoimento de um pedófilo. 

Tudo isto é fruto do processo de descristianização do Ocidente. Foi na Civilização Ocidental, construída pela Igreja Católica, que a prática da pedofilia foi condenada. Já nos tempos bárbaros, a Igreja proibiu o casamento de crianças. Foi a Igreja que promoveu a proteção das crianças – assim como das mulheres – proclamando sua inviolável dignidade. Como é perceptível, a pedofilia é um costume em algumas civilizações, um aspecto cultural, que não choca. Há vozes dissidentes nestes países, como na Índia e em países muçulmanos, mas é inegável que consideram a pedofilia chocante porque foram influenciados pelo senso moral do Ocidente. Com o afã de opor toda e qualquer prática sexual à moral católica relativa ao sexo, admiti-se qualquer perversão. Porém, pergunta-se, se a Igreja Católica foi quem baniu a pedofilia, como se explica os casos de padres pedófilos? Pois bem. A pedofilia praticada por um padre é um dos piores crimes e pecados que se possa cometer. É pior do que a pedofilia praticada por qualquer outra pessoa que não tenha recebido as ordens sacras. É pelos sacerdotes que Cristo age na Igreja. É na pessoa de Cristo que os sacerdotes administram os sacramentos. Portanto, o padre deve encarnar o Cristo, e quando praticam monstruosidades como estas, além de um pecado sexual, praticam um sacrilégio. Devem ser punidos com rigor. Mas, os padres são homens de seu tempo. Sempre foi assim. Os pedófilos entraram na Igreja num período de grandes mudanças de comportamento. Além de distúrbios que possam ter, estes homens foram influenciados por uma sociedade moralmente libertina e, inclusive, por certas doutrinas morais que contaminaram o próprio ensino nos seminários, que pregavam uma visão liberal da sexualidade. A esmagadora maioria destes padres foi ordenada nas décadas de 1960 e 1970. O período é sintomático. Todavia, graças a Deus, os casos são relativamente poucos se comparados à totalidade dos sacerdotes. 

É injusto, portanto, querer por na conta da Igreja Católica os casos ou causas da pedofilia, como se sua moral, disciplina e o celibato favorecessem o aparecimento do pedófilo. Pelo contrário. É a Igreja Católica que condenou a prática sexual com crianças. Foi a Igreja Católica que baniu a pedofilia – mesmo a legal através do casamento – do Ocidente. Se os casos de pedofilia são cada vez mais alarmantes em nossa sociedade é porque esta se afasta a passos largos dos ensinamentos da Igreja. 



6 de set. de 2013

O brasileiro: retrato de um estatista

O estatista é aquele que adora depender do Estado. Ele luta para ser dependente. Odeia a liberdade e a responsabilidade individuais. Ele quer o Estado metido em tudo, até nos pormenores de sua vida, até mesmo que regule com quem ele dorme, seja homem ou mulher. Ele gosta de documentos oficiais. 

Como já foi dito, o estatista odeia responsabilidade individual. Ele é um filho mimado. Por exemplo, se ele, irresponsavelmente, tem uma gravidez indesejada, quer que o Estado intervenha, resolva seu problema, custe o que custar. O estatista não quer assumir as consequencias de seus atos inconsequentes. O estatista quer que o Estado acabe com a pobreza. Quer que o Estado ame seu próximo em seu lugar.

Se ele usa drogas, quer que o Estado banque tanto seu consumo quanto sua vaga na UTI caso tenha uma overdose. O estatista adora sistema público de saúde. Ele não se importa em financiar um sistema de saúde impessoal, mesmo que este promova ações contrárias às certas consciências, muitas vezes, a do próprio estatista. 

O estatista sonha em ser funcionário público. Ele luta com todas as forças para isto. Mas seu objetivo não é colocar seus conhecimentos à serviço do bem-comum, muito menos crescer profissionalmente. Ele quer um emprego estável. E de preferência que se trabalhe pouco. Ele quer não ser demitido. Ele tem medo de andar com as próprias pernas. 

O estatista gosta de verbas públicas. Ele monta uma Organização Não-Governamental cuja fonte de dinheiro é o governo. O estatista gosta de programas sociais do governo. Ele adora transferência direta de renda. Ele quer estudar o mínimo e trabalhar o mínimo. Ele quer ser sustentado pelo Estado. 

O estatista gosta de monopólio. Ele odeia concorrência. Odeia o livre mercado. Odeia produtos importados, principalmente quando é melhor que o dele. Ele quer que o Estado seja o principal investidor em todos os setores da economia.

O estatista paga altos impostos. Ele sustenta a máquina estatal que tanto adora. Ele reclama, sabe que há algo errado, mas não imagina que o problema é seu deus. Então, ele exige que o Estado faça jus a seus impostos e faça-se ainda mais presente. 

O estatista quer que o Estado regule o que ele deve assistir na TV. Ele quer que o Estado controle as propagandas para que ele não compre o que não precisa. O estatista quer que o Estado eduque seus filhos desde a mais tenra idade. 

Infelizmente, este é o retrato do brasileiro. O povo brasileiro é estatista por natureza. Sua história, dominada pelo clientelismo e paternalismo, fizeram-no dependente do Estado e, em tal situação, que não pretende se libertar. É por isso que o brasileiro se dá tão bem com ditaduras: em 124 anos de república, viveu quarenta e cinco sob regime ditatorial, sem contar a época de democracia capenga do período da política café-com-leite. Apesar dos discursos ferozes contra uma pretensa política neoliberal dos últimos anos, o fato é que somos dependentes do Estado. O Estado ainda é o grande investidor e o maior empregador. Na última década, não por coincidência, sob o governo do PT, a presença do Estado ficou ainda maior. O brasileiro clama pelo estatismo. Daí para o totalitarismo é um passo.