O Dia da Consciência Negra foi instituído no dia em que se comemora a morte de Zumbi, líder do quilombo dos Palmares. Penso que este dia deveria se referir diretamente a ele, como no dia de Tiradentes. Mas deram a esse dia esse nome estranhíssimo.
É interessante observar como se constrói um mito. As nações passam por isso e grupos específicos também. Ocorre comumente na elaboração da "História Oficial". Assim aconteceu com o já citado Tiradentes e acontece com Zumbi dos Palmares. Sem dúvida, foi um grande líder negro, governou Palmares, o maior quilombo do Brasil e resistiu bravamente em sua defesa. Mas foi um heroi? Um defensor da liberdade e da igualdade em tempos de escravidão? Definitivamente não.
Por exemplo, Zumbi tinha escravos. Isso não o diminui. A escravidão era um estatuto do período e mais comum no continente africano do que em qualquer outra parte do mundo. Zumbi não se diferenciava em nada se comparado a qualquer outro chefe na África, cuja riqueza pessoal - onde as terras eram comunais e o dinheiro, inexistente - era determinada pela posse de vacas, escravos e mulheres. Exatamente nessa ordem. Zumbi nunca realizou um só ato contra a escravidão. Os africanos não compunham uma unidade étnica para lutar por liberdade. Um membro de uma nação ou tribo diferente era tão estranho e considerado inimigo tanto quanto os brancos. O que uniam os negros no Brasil era a escravidão, não a liberdade.
Zumbi não liderou nem mesmo uma só ação heroica para libertar escravos nas senzalas. Os quilombolas de Palmares atacavam senzalas e tribos indígenas para raptar mulheres, escassas no quilombo. Os governados por Zumbi não viviam num mundo idílico e democrático. Nem poderiam, condicionados pela cultura e pela época. A hierarquia de Palmares era rígida, tendo no topo da pirâmide a família de Zumbi. Isso nada tem de espantoso, apenas reproduzia a organização tribal africana.
Zumbi também não mostrou muita sagacidade no governo do quilombo. Seu tio, Ganga Zumba estava próximo de fechar um acordo com a Coroa portuguesa que prometia a emancipação do quilombo, ainda que submetido como qualquer cidade, ao governo português. Mas o líder foi misteriosamente envenenado, Zumbi assumiu o governo e rompeu qualquer negociação, o que levou a uma guerra que acabou com sua morte e com o quilombo. Assim nascem os mitos, servindo às causas político-ideológicas e deformando a História.
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